Ex-deputado C�ndido Vaccarezza � preso em nova fase da Lava Jato
Alan Marques - 1�.jul.2014/Folhapress | ||
O ex-deputado federal C�ndido Vaccarezza durante depoimento ao Conselho de �tica da C�mara |
Mais de dois anos depois de ser delatado pela primeira vez, o ex-l�der do PT na C�mara dos Deputados C�ndido Vaccarezza foi detido pela Opera��o Lava Jato na manh� desta sexta (18).
A PF deflagrou duas fases ao mesmo tempo: a 43�, chamada de "Sem Fronteiras", e a 44�, batizada de "Abate". Vaccarezza est� envolvido nesta �ltima.
Segundo a for�a-tarefa, o ex-deputado recebeu pelo menos US$ 478 mil (R$ 1,51 milh�o no c�mbio atual) em esp�cie por contratos da Petrobras com a Sargeant Marine, uma empresa norte-americana que produzia asfalto � estatal.
Segundo as investiga��es, Vaccarezza tinha ascend�ncia em neg�cios da Petrobras ligados � Diretoria de Abastecimento, que era de influ�ncia do PP, e "apadrinhou" 12 contratos de fornecimento de asfalto, num total de US$ 180 milh�es.
Al�m de registros de visitas do ex-deputado � sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, a PF colheu e-mails entre Vaccarezza e Jorge Luz, lobista citado por v�rios delatores e preso na 38� fase da Lava Jato.
Nas mensagens, Luz –que teria mediado os contatos entre a Sargeant Marine e a Petrobras– e Vaccarezza acertam detalhes de viagens que o ex-deputado fez ao Estado da Fl�rida, nos Estados Unidos. Em ambas, uma em 2009 e outra em 2012, o ex-deputado teria visitado a matriz da Sargeant Marine, sediada na cidade.
Outro ind�cio contra o petista foi um pendrive achado na casa de Othon Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, preso em 2015 e j� condenado pela Justi�a Federal do Rio de Janeiro a 43 anos de pris�o.
No pendrive havia reprodu��es em pdf de e-mails com discuss�es sobre o lobby que se fazia sobre o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa para que a Sargeant Marine fosse contratada. Entre os participantes das reuni�es estariam dois pol�ticos identificados pela sigla "V1" e "V2", e Vaccarezza seria um deles.
Na casa do ex-deputado, em S�o Paulo, foram encontrados R$ 122 mil em esp�cie. Segundo a PF, Vaccarezza n�o soube explicar, em um primeiro momento, a origem do dinheiro.
Divulga��o/Policia Federal | ||
Dinheiro encontrado na casa do ex-deputado C�ndido Vaccarezza |
O esquema foi descrito pela primeira vez por Paulo Roberto Costa ainda no final de 2014, mas as cita��es a Vaccarezza –que ainda era parlamentar � �poca– foram consideradas superficiais.
"A dificuldade de se comprovar essa solicita��o de propina, que teria sido em esp�cie, fez a investiga��o seguir por quase dois anos", explica o delegado Felipe Pace, da Pol�cia Federal.
Tamb�m foram presos o empres�rio Henry Hoyer de Carvalho, apontado como operador do PP, e o ex-gerente da Petrobras M�rcio Ach�.
Outros dois alvos –Luiz Eduardo Loureiro de Andrade, ex-representante da Sargeant Marine no Brasil, e Dalmo Monteiro Silva, ex-gerente da Petrobras– est�o no exterior, e um terceiro, o ex-gerente da Petrobras Carlos Roberto Martins Barbosa, teve a ordem de pris�o revogada quando se soube que est� hospitalizado desde o �ltimo s�bado.
Vaccarezza chegou � sede da PF em Curitiba por volta das 16h.
INFLU�NCIA
As investiga��es apontam que Vaccarezza era procurado por funcion�rios de baixo escal�o da Petrobras "para que os cargos fossem ocupados com pessoas dispostas a defender o ent�o governo e o Partido dos Trabalhadores e para que fossem afastadas pessoas a eles n�o simpatizantes", segundo escreveu o juiz Sergio Moro ao autorizar a pris�o do petista.
"Isso mostra que ao menos esses funcion�rios tamb�m tinham conhecimento do loteamento politico [na Petrobras]", avalia o delegado Filipe Pace.
A PF apreendeu mensagens de uma empres�ria, Liliana Krawczuk, a Vaccarezza. Liliana, que seria ligada ao PT, representava um grupo de empres�rios que queriam abrir uma empresa de produtos chamada Quimbra e buscavam contratos com a Petrobras.
"Para que isso n�o aconte�a mais, � necess�rio que a Quimbra esteja conduzindo os contatos e as negocia��es com a Petrobras daqui em diante, e que o Vaccarezza atue apenas como facilitador com a Petrobras. Na figura de facilitador, o Vaccarezza n�o deve conduzir as negocia��es e muito menos tratar de estrat�gias, oferta de sociedade, etc", diz uma mensagem trocada entre os empres�rios.
DELA��ES
Segundo o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, Carvalho teria substitu�do Alberto Youssef na interlocu��o com a sigla em 2012. Ele chegou a ser alvo de condu��o coercitiva da 13� fase da opera��o, em 2015, e foi preso porque os policiais descobriram que ele tinha armas e muni��o de uso restrito sem autoriza��o legal. Alguns dias depois, foi solto.
� a primeira vez na hist�ria da opera��o que a PF realiza duas fases ao mesmo tempo. No total, s�o 46 ordens judiciais em cumprimento –29 de busca e apreens�o, 11 de condu��o coercitiva e seis de pris�o tempor�ria.
A opera��o desta sexta partiu de depoimento de Paulo Roberto Costa, a primeira feita contra Vaccarezza, mas o ex-deputado j� foi citado por mais delatores.
O empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, afirma que doou R$ 200 mil � campanha do petista em 2010 e R$ 150 mil em 2014, pela via oficial, porque "ficava impl�cito" que ele deveria colaborar para ter acesso a Vaccarezza.
Segundo a dela��o, Pessoa pediu ajuda ao ex-parlamentar para resolver entraves da UTC junto ao TCU (Tribunal de contas da Uni�o) e Vaccarezza "prometeu ajudar", mas o empreiteiro disse n�o saber se isso se concretizou.
Outro delator, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerver�, diz que Vaccarezza foi um dos deputados que participou de uma reuni�o, em 2010, que definiu um "acerto geral" de propinas entre PT e PMDB na BR Distribuidora, subsidi�ria da Petrobras.
J� o ex-presidente da Transpetro S�rgio Machado diz que encaminhou R$ 500 mil de propina da empreiteira Camargo Corr�a � campanha de Vaccarezza em 2010.
OPERA��ES
A 43� fase se chama Opera��o Sem Fronteiras e investiga o pagamento de propina a executivos da petroleira por um grupo de armadores gregos, com troca de informa��es privilegiadas para o fretamento de navios.
As investiga��es apontam que Costa acertou com o c�nsul honor�rio da Gr�cia no Brasil, Konstantinos Kotronakis, um esquema para facilitar a contrata��o de navios daquele pa�s.
Os acordos eram intermediados por Hoyer de Carvalho e, depois, por uma empresa de brokeragem, na Inglaterra, de Georgios Kotronakis, filho de Konstantinos.
Segundo o MPF (Minist�rio P�blico Federal), o grupo movimentou, de 2009 a 2013, contratos de mais de US$ 500 milh�es –ao menos 2% desse valor (R$ 10 milh�es) em propinas depositadas em offshores controladas pelos Kotronakis, por Carvalho e por Costa.
A 44� fase, por sua vez, foi batizada de Abate e apura desvios na contrata��o de fornecimento de asfalto pela empresa estrangeira Sargeant Marine � estatal, mediante o pagamento de propinas a funcion�rios p�blicos e agentes pol�ticos.
Os procuradores dizem ter provas do pagamento de propinas no exterior e de que Vaccarezza utilizou de sua influ�cia no Congresso para orientar a contrata��o da Sargeant Marine pela Petrobras, de 2010 a 2013, por US$ 180 milh�es.
Vaccarezza foi l�der na C�mara dos governos do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma. O ex-deputado anunciou seu desligamento do PT em 2016.
Ainda no partido, ele tentou, em 2014, se reeleger para a C�mara dos Deputados, sem sucesso. Depois disso, voltou a exercer a medicina.
Na divis�o de supostas propinas, de acordo com o MPF, h� documentos que indicam transfer�ncias para a "casa" (funcion�rios da Petrobras) e para para o PT.
Os valores ent�o devidos ao partido, totalizando propinas de pelo menos cerca de US$ 500 mil, foram destinados em grande parte a Vaccareza, sendo poss�vel que a investiga��o venha a revelar outros destinat�rios das vantagens il�citas. A Justi�a Federal determinou a pris�o tempor�ria do ex-deputado.
OUTRO LADO
Em nota, o advogado de Vaccarezza, Marcellus Ferreira Pinto, negou que o ex-deputado tenha intermediado negocia��es entre empresas privadas e a Petrobras.
A defesa afirma que a pris�o foi decretada "com base em dela��es contradit�rias, algumas j� retificadas pelos pr�prios delatores".
"A busca e apreens�o excedeu os limites da decis�o judicial, confiscando valores declarados no Imposto de Renda e objetos pertencentes a terceiros sem v�nculo com a investiga��o. A defesa se manifestar� nos autos e espera que a pris�o seja revogada e as demais ilegalidades corrigidas", diz o advogado.
43� e 44� fases da Opera��o Lava Jato - 46 ordens judiciais s�o cumpridas
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