Bolsonaro admitiu atos de indisciplina e deslealdade no Ex�rcito
Arquivo Pessoal | ||
Jair Bolsonaro joga basquete com amigos da brigada paraquedista |
Documentos obtidos pela Folha no STM (Superior Tribunal Militar) mostram que o deputado e presidenci�vel Jair Bolsonaro (PSC-RJ) admitiu em 1987 ter cometido atos de indisciplina e deslealdade para com os seus superiores no Ex�rcito.
O ent�o capit�o foi acusado por cinco irregularidades e teve que a responder a um Conselho de Justifica��o, uma esp�cie de inqu�rito, formado por tr�s coron�is.
Ele foi considerado culpado pelos coron�is, mas absolvido depois em recurso acolhido pelos ministros do STM, por 8 votos a 4.
O processo tinha dois objetos: um artigo que ele escreveu em 1986 para a revista "Veja" para pedir aumento salarial para a tropa, sem consulta aos seus superiores, e a afirma��o, meses depois, pela mesma publica��o, de que ele e outro oficial haviam elaborado um plano para explodir bombas-rel�gio em unidades militares do Rio.
Os documentos informam que, pela autoria do artigo, Bolsonaro foi preso por 15 dias ao "ter ferido a �tica, gerando clima de inquieta��o na organiza��o militar" e "por ter sido indiscreto na abordagem de assuntos de car�ter oficial, comprometendo a disciplina".
Reprodu��o | ||
Registro da puni��o do ent�o capit�o Jair Bolsonaro pela infantaria |
O Ex�rcito detectou um movimento para desestabilizar a cadeia de comando e determinou uma investiga��o, a mando do ministro e general Leonidas Pires Gon�alves (1921-2015), alvo de Bolsonaro.
Em interrogat�rio reservado de 1987, o ent�o capit�o assinou documento no qual reconhece ter cometido uma "transgress�o disciplinar" ao escrever para "Veja". "E que, � �poca, n�o levou em considera��o que seria uma deslealdade mas que, agora, acha que sim", disse ao depor.
O STM decidiu que pelo artigo ele j� havia sido punido com a pris�o. Depois, a revista publicou que ele e outro capit�o haviam elaborado um plano chamado "Beco sem sa�da", que previa uma s�rie de explos�es. Como evid�ncia, a revista divulgou esbo�os atribu�dos a Bolsonaro.
Na reportagem, ele dizia que haveria "s� a explos�o de algumas espoletas" e explicava como fazer uma bomba-rel�gio. "Nosso Ex�rcito � uma vergonha nacional, e o ministro est� se saindo como um segundo Pinochet", afirmava.
Havia outros movimentos militares pelo pa�s, como um capit�o que invadiu uma prefeitura para pedir reajuste. Acuado, o ent�o presidente Jos� Sarney deu um aumento escalonado de 95% nos sal�rios das For�as Armadas.
Bolsonaro negou a autoria de qualquer plano de bombas e citou que dois exames grafot�cnicos resultaram inconclusos. Per�cia da Pol�cia Federal, por�m, foi inequ�voca ao concluir que as anota��es eram dele.
Os coron�is decidiram, por unanimidade, pela condena��o. "O Justificante [Bolsonaro] mentiu durante todo o processo, quando negou a autoria dos esbo�os publicados na revista 'Veja', como comprovam os laudos periciais."
Segundo documento assinado por tr�s coron�is, Bolsonaro "revelou comportamento a�tico e incompat�vel com o pundonor militar e o decoro da classe, ao passar � imprensa informa��es sobre sua institui��o".
Pela lei, decis�es do conselho deviam ser enviadas ao STM. No tribunal, Bolsonaro negou em abril de 1988 o plano das bombas, mas reconheceu a autoria do artigo: "Admito tamb�m a transgress�o disciplinar [...], pela qual, acertada e justamente, fui punido com quinze dias de pris�o, �nica puni��o por mim sofrida at� a presente data".
OUTRO LADO
A assessoria do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) afirmou na sexta (12) que a reportagem da Folha "� idiota e imbecil" e indagou "quem estava pagando" pelo trabalho.
A Folha pediu uma manifesta��o do parlamentar, mas n�o houve resposta at� a conclus�o desta edi��o. O assessor do parlamentar se recusou a anotar os telefones de contato do rep�rter.
Segundo a assessoria, a "pauta � uma merda".
Em resposta ao Superior Tribunal Militar em 1988, ele afirmou que escreveu o artigo para "Veja" para pedir reajuste salarial "em defesa de minha fam�lia e de minha classe, mesmo sabendo que estava ferindo o Regulamento Disciplinar do Ex�rcito".
"Onde encontrar indignidade no artigo publicado na revista?", indagou Bolsonaro em sua defesa.
Sobre a ideia de fazer explos�es, Bolsonaro voltou a neg�-la: "Nego veementemente tal plano. Como posso provar que n�o o conhecia? � 'Veja' cabe o �nus da prova. Baseado em que elementos chegou � absurda conclus�o de que eu tinha ou sabia de um plano?"
A respeito dos exames grafot�cnicos feitos pela Pol�cia Federal e pela Pol�cia do Ex�rcito que o incriminaram, ele afirmou que havia dois outros, inconclusos.
Segundo o ent�o capit�o, houve "gritante cerceamento do direito de defesa" no processo pelo qual o Conselho de Justifica��o o condenou, em janeiro de 1988.
CRONOLOGIA
3.set.1986
A revista "Veja" publica artigo do ent�o capit�o Jair Bolsonaro, "O sal�rio est� baixo", em que pede aumento: "N�o consigo sonhar com as necessidades m�nimas que uma pessoa do meu n�vel cultural e social poderia almejar"
Bolsonaro � preso por "transgress�o grave". � acusado de "ter ferido a �tica, gerando clima de inquieta��o no �mbito da organiza��o militar" e tamb�m "por ter sido indiscreto na abordagem de assuntos de car�ter oficial"
25.out.1987
A revista "Veja" divulga a reportagem "P�r bombas nos quart�is, um plano na Esao", na qual afirma que Bolsonaro, lotado na Escola Superior de Aperfei�oamento de Oficiais, e outro militar, F�bio Passos, elaboraram um plano que previa a explos�o de bombas em unidades militares do Rio para pressionar seus superiores
Segundo a reportagem, Bolsonaro teria dito que haveria "s� a explos�o de algumas espoletas" e explicou como construir uma bomba-rel�gio � base de TNT
25.out.1987
Bolsonaro e Passos entregam ao comando da Esao textos de pr�prio punho nos quais negam ter feito o plano e falado com a "Veja"
1�.nov.1987
"Veja" publica uma segunda reportagem, "De pr�prio punho", na qual traz o fac-s�mile de um croqui que teria sido desenhado por Bolsonaro com pontos em que as bombas seriam distribu�das. Ele nega a autoria repetidas vezes
13.nov.1987
Sindic�ncia da Esao conclui que h� aspectos a serem melhor investigados e sugere remessa dos autos a um Conselho de Justifica��o
15.dez.1987
Acusa��o diz que Bolsonaro agiu "comprometendo a disciplina e ferindo a �tica militar"
8.jan.1988
Laudo de exame grafot�cnico da Pol�cia Federal afirma que partiram do punho de Bolsonaro as anota��es no croqui entregue pela "Veja"
25.jan.1988
Em sess�o secreta, o Conselho de Justifica��o decide por unanimidade considerar Bolsonaro culpado
"O Justificante [Bolsonaro] mentiu durante todo o processo, quando negou a autoria dos esbo�os publicados na revista 'Veja', como comprovam os laudos periciais do Instituto de Criminal�stica da Pol�cia Federal e do 1� Batalh�o de Pol�cia do Ex�rcito"
16.jun.1988
Por 8 votos a 4, os ministros do Superior Tribunal Militar consideraram Bolsonaro "n�o culpado" das acusa��es, diz que duas per�cias confirmaram a autoria e duas n�o a confirmaram, o que configura "na d�vida a favor do r�u"
Sobre o texto na "Veja", o STM decidiu que "o justificante assumiu total responsabilidade por seu ato, foi punido com 15 dias de pris�o"
22.dez.1988
Segundo extrato da ficha cadastro de Bolsonaro, fornecido pelo Ex�rcito � Folha, o militar "foi exclu�do do servi�o ativo do Ex�rcito, a contar de 22 de dezembro de 1988, passando a integrar a Reserva Remunerada".
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