Leitores fi�is escrevem ao jornal para expressar cr�ticas e elogios
O espa�o do jornal dedicado aos coment�rios do p�blico recebe quase 60 mil mensagens por ano; veja o que pensam alguns dos leitores mais ass�duos.
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P�O, CAF� E JORNAL NA MESA
Ademar Gumieiro Feiteiro, 73, advogado trabalhista, de S�o Paulo (SP)
Marcus Leoni/Folhapress | ||
Ademar Feiteiro e a mulher, Marisa Cavichioli |
Sou daqueles que se chateiam quando n�o v� o jornal �s 5h na porta de casa. Fico andando de um lado a outro at� ele chegar. Afinal, j� s�o quase 40 anos de rela��o.
� durante o caf� da manh� que mais leio a Folha. Ali, sobre a mesa, minha mulher e eu selecionamos sobre quais reportagens vamos opinar.
Por dia, enviamos de dois a tr�s coment�rios. Geralmente, critico o jornal quando ele mais interpreta do que d� uma not�cia.
H� manchetes que procuram induzir o leitor para uma linha mais pr�-direita. Acho perigoso, porque, em vez de educar, desinforma.
Um exemplo: quando h� uma greve de motoristas, o jornal s� destaca o preju�zo que o movimento causa � popula��o, mas nunca analisa a fundo as p�ssimas condi��es �s quais os trabalhadores est�o submetidos.
E outra: mesmo mais "magro" o jornal deu, no dia 16 de fevereiro, um grande espa�o para a Raquel Pacheco, conhecida como Bruna Surfistinha, contar sobre a vida de garota de programa, relatar a sua rela��o com a umbanda. Como pode?
Ainda quero escrever um artigo em Tend�ncias / Debates. Acho que os leitores mais ass�duos da Folha, vez ou outra, tamb�m deveriam ocupar esse nobre espa�o. Temos muito a dizer.
Enquanto meu primeiro artigo n�o vem, s� pe�o uma coisa: que o Painel do Leitor seja apenas nosso. H� secret�rios, ministros e empresas usando a metade do espa�o da se��o para reclamar. Deixe que isso a gente j� faz —e muito bem.
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A BUSCA PELA PRECIS�O
Ana L�cia Amaral, 64, procuradora aposentada, de S�o Paulo (SP)
Travei uma batalha por e-mail com um rep�rter da Folha por meses. Ele escreveu uma reportagem no final dos anos 1990 sobre o Judici�rio que era imprecisa. Mandei, ent�o, meus questionamentos, mas ele n�o dava o bra�o a torcer. N�o estava fazendo cr�tica pela cr�tica, faltava informa��o no texto.
Ele ficou zangado, indignado, mas continuei escrevendo. At� que, depois de muita discuss�o, houve uma oportunidade e nos encontramos pessoalmente. Fiquei feliz porque a hist�ria n�o terminou mal.
Percebo que falta ao jornalista algu�m que ele possa consultar e dizer: "Eu posso falar isso?". N�o basta comprar a vers�o do advogado ou do juiz entrevistado e passar para a frente. O jornalista precisa fazer um pouco esse trabalho cr�tico de peneirar a informa��o.
H� reportagens sobre o v�rus da zika em que eu n�o sei at� que ponto o jornal est� me informando corretamente, pois sou leiga no assunto. De vez em quando, voc� v� um especialista que fala sobre os casos, e isso te esclarece.
Na quest�o da microcefalia, vi poucos jornais dizendo: o problema � de infraestrutura, saneamento b�sico e da falta de a��es preventivas de sa�de e de educa��o da popula��o. Parece que o aedes chegou agora.
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UM LUGAR PARA DISCORDAR
Ana Sasaki, 31, secret�ria, de S�o Paulo (SP)
Marcus Leoni/Folhapress | ||
Ana Sasaki, 31 |
Na inf�ncia, eu lia a "Folhinha". Na adolesc�ncia, o "Folhateen". E, na fase do pr�-vestibular, o "Fovest".
Foi meu pai quem me inspirou a sujar os dedos em casa para ler o impresso. E foi essa rela��o t�o pr�xima com a publica��o que me ajudou a firmar e a elaborar as minhas ideias, mesmo as divergentes do jornal.
Cito uma: a legaliza��o do aborto. Mesmo nos casos de mulheres que sofrem um estupro ou que recebem o diagn�stico do beb� anenc�falo, eu sou contra. O direito � vida � o ponto.
E � isso o mais enriquecedor: discordar, mas poder deixar isso escancarado. No Painel do Leitor, fa�o isso.
Comento reportagens e coment�rios de outros leitores quando acho que est�o fora da curva. Se uma not�cia n�o est� de acordo com os fatos, vou l� e critico. � uma grande mesa-redonda.
Recentemente, um leitor criticou as religi�es por n�o fazerem nada contra os casos de microcefalia [m�-forma��o cong�nita]. Eu o informei que muitos grupos t�m espa�os de orienta��o e apoio �s gestantes. A Pastoral da Mulher, ligada � Igreja Cat�lica, � um exemplo.
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H� CONTE�DO QUE VALE A PENA
Celso Balloti, 62, aposentado, de Santos (SP)
Leio a Folha desde crian�a. Fui assinante por um bom tempo, depois andei bravo com o jornal e nunca mais fui assinante. Normalmente, compro todo dia na banca. Eu resguardo o direito de desistir a qualquer momento. E j� estive, em v�rios momentos, a ponto de fazer isso.
Na �poca em que o Fernando Henrique esteve no poder, achei o tempo inteiro que a cobertura da Folha foi equilibrada. O jornal batia no governo com frequ�ncia, mas mantinha uma certa linha. Depois, com o Lula, a coisa mudou completamente. S�o tentativas e tentativas, n�o s� com o Lula, mas em rela��o a Dilma, de humilhar.
Tudo bem, tem gente de esquerda escrevendo, de direita, de centro. Mas s�o opini�es. Se tivesse sido assim na �poca do FHC
Continuo lendo o jornal porque h� conte�do que ainda vale a pena, como o Janio de Freitas, o Antonio Prata e o Gregorio Duvivier, e leio "Esporte", "Ilustrada".
Normalmente, envio coment�rios sobre algo que me choca, algo que merece ser apontado. Escrevo para a ombusman, para o colunista. Virei um cr�tico do jornal.
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CHEGA DE 'DIETA'
Ulf Hermann Mondl, 69, engenheiro civil, de Florian�polis (SC)
Eu sou um austr�aco que desembarcou no Brasil aos cinco anos de idade e nunca mais saiu daqui. Moro em Florian�polis e assino a Folha h� mais de 30 anos.
A diversidade do jornal � interessante —tem do Janio de Freitas, considerado o porta-voz do PT dentro do jornal, at� Reinaldo Azevedo, o grande expoente do pensamento liberal.
Uma das cr�ticas que fa�o ao jornal � quanto ao seu "emagrecimento". Os cadernos eram melhores, mais detalhados. Neste cen�rio, quando � que Santa Catarina vai aparecer? O meu Estado � pessimamente representado.
Mas o que me chama a aten��o positivamente no jornal � o seu sistema de distribui��o. Eu estava fazendo uma obra em S�o Luiz Gonzaga, interior do Rio Grande do Sul, e l� estava a Folha.
J� fiz em torno de 1.600 coment�rios ao jornal. Pouco mais de uma dezena disso foi publicada. Tenho uma pista: meu pensamento n�o � de esquerda, ent�o, n�o sai. Pretendo fazer uma tese de doutorado em sociologia a respeito disso.
Espero ter vigor at� l�. Como tamb�m espero que a Folha tenha para se adaptar a estes tempos t�o incertos e din�micos.
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A FOLHA EST� � DIREITA
Ant�nio Negr�o de S�, 75, servidor aposentado, do Rio de Janeiro (RJ)
Ricardo Borges/Folhapress | ||
Ant�nio Negr�o de S�, 75 |
Eu me tornei um cr�tico de jornal depois do mensal�o [esquema ilegal de financiamento pol�tico organizado pelo PT, segundo a Justi�a]. Foi a maior cobertura parcial e partid�ria feita pela imprensa, e incluo a Folha nessa.
At� hoje, n�o h� nenhuma prova concreta contra o Jos� Dirceu, ex-ministro da Casa Civil. Foram buscar no julgamento de nazistas a ideia de que o comandante ou general era o respons�vel pelo crime de seus inferiores, e, assim, ele foi enquadrado.
A partidariza��o do mensal�o mudou a minha cabe�a. Da� eu decidi que usaria o resto da minha vida para atacar a m�dia conservadora.
A mesma coisa est� acontecendo na Lava Jato. Querem pegar o Lula porque ele pode ser novamente presidente da Rep�blica. � uma patrulha impressionante.
Agora, o ex-presidente n�o pode comprar um barco, n�o pode ter um apartamento, n�o pode ter um s�tio, n�o pode ir a um s�tio.
Esse escrut�nio � errado porque � partid�rio. Ningu�m quer saber dos im�veis que o A�cio Neves tem, nem os de Fernando Henrique Cardoso, Jos� Serra e Geraldo Alckmin. Ningu�m levanta o patrim�nio desse pessoal.
Mas mesmo sabendo do lado em que a Folha est�, � direita, eu a compro toda semana em uma banca, aqui em Copacabana. � sempre um passatempo ler o jornal.
Tenho um ritual: eu separo a not�cia que considero mais parcial e fa�o um coment�rio de dez linhas para enviar para o jornal. Disparo a mesma cr�tica por e-mail para os meus contatos.
Apesar de a Folha publicar opini�es em que ela n�o acredita, acho que ainda falta mais espa�o para o contradit�rio. Sugiro uma propor��o: que pelo menos 50% dos coment�rios contra a linha editorial do jornal sejam publicados. J� estaria de bom tamanho.
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NORTE N�O � S� MATO
Kayo C�sar Ara�jo da Silva, 26, advogado, de Bel�m (PA)
Tarso Sarraf/Folhapress | ||
Kayo C�sar Ara�jo da Silva, 26 |
A Folha surgiu na minha vida em um dia tr�gico, o do inc�ndio da Boate Kiss, em janeiro de 2013, quando 242 pessoas morreram. Diante daquele acontecimento, decidi que era hora de ler regularmente um grande jornal, para ficar a par da rotina do resto do pa�s.
Desde ent�o, acompanhar os erros e os acertos da Folha virou uma rotina: acordo, pego meu iPad e leio todos os cadernos. N�o diria que sou uma exce��o, mas vejo que minha gera��o n�o l� jornal com frequ�ncia, prefere se informar pelas redes sociais.
Li tamb�m grande parte do "Manual da Reda��o" e achei o livro interessante, mas percebo que muitas reportagens destoam dos m�todos defendidos na publica��o.
Sinto falta, por exemplo, de que o jornal volte sua aten��o para as peculiaridades da regi�o Norte, onde nasci. A Amaz�nia s� ganha as p�ginas da Folha quando est� associada a alguma viola��o ambiental. Por outro lado, o Painel do Leitor � fundamental. � democr�tico ver uma opini�o divergente ser publicada. N�o pode acabar.
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SEGUNDO CASAMENTO
Selma Feldman, 56, advogada e empres�ria, de S�o Paulo (SP)
Marcus Leoni /Folhapress | ||
Selma Feldman, 56 |
Eu era assinante do "Jornal da Tarde". Quando ele acabou, em 2012, fiquei "vi�va" e me senti p�ssima. Como adoro ler, decidi fazer uma experi�ncia com a Folha e agora n�o a troco por nenhum outro.
De manh�, quando a recebo em casa, o "Esporte" some —s�o tr�s homens em casa—, e depois preciso ficar ca�ando as p�ginas. Carrego o jornal at� de noite.
Costumo fazer recortes das reportagens que considero mais interessantes para os meus filhos, que s�o g�meos e estudantes de marketing.
E n�o costumo cortar o jornal somente para eles. Sou advogada e tenho uma imobili�ria. L�, tamb�m fa�o todo o mundo ler.
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EXERC�CIO DA DEMOCRACIA
Ary Braga Pacheco Filho, 58, engenheiro civil, de Bras�lia
Comecei a ler o jornal h� muitos anos, no trabalho. Eu me tornei assinante primeiro da edi��o impressa e, depois, da digital. Era o jornal de que mais gostava, talvez at� por uma quest�o de identifica��o: a Folha � objetiva.
Comento as reportagens, principalmente as de pol�tica e economia, por acreditar que � uma forma de o cidad�o fazer a sua opini�o aparecer. Fundamentalmente, � o exerc�cio da cidadania.
Em m�dia, envio um coment�rio uma vez por semana —com o e-mail, ficou mais f�cil. N�o critico as reportagens, critico os pol�ticos, o status quo. Minhas cartas t�m um tom muito mais pol�tico.
A Folha � bem neutra, publica os dois lados, tem as tend�ncias de esquerda, de direita. � o exerc�cio da democracia mesmo.
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A FOLHA � DE CENTRO-ESQUERDA
Gustavo von Kr�ger, 45, administrador de empresas, de Belo Horizonte (MG)
Passei a comprar regularmente a Folha quando peguei o resultado da Fuvest, em 1988. Eu gostava muito do jornal naquela �poca por ter uma diversidade de opini�es que estimulava o debate.
Enviar os coment�rios foi um h�bito que adquiri depois, a partir de 2000, quando passei a l�-la frequentemente pela internet. Comento artigos ou colunas que mexem com a minha opini�o. Quando acho que o coment�rio � mais elaborado, envio ao Painel do Leitor.
A Folha me passa a impress�o de sempre tentar ser imparcial sendo parcial com todo mundo. Dependendo da situa��o, vejo que o jornal toma parte de um envolvido.
N�o digo que seja um alinhamento ideol�gico com algum grupo pol�tico —sei que h� alguns temas que a Folha defende mais e que o Conselho Editorial do jornal � integrado, em sua maioria, por colunistas alinhados com o governo federal.
A Folha � de centro-esquerda. E ainda que o jornal fa�a cr�ticas contra integrantes de legendas de esquerda mais evidentes, como o PT e o PSDB, a institui��o do partido � preservada.
A condescend�ncia que a Folha tem em rela��o aos governos do PT, por exemplo, acho exagerada.
Agora, n�o necessariamente preciso concordar com tudo que um jornal diz. A Folha tem uma vantagem: ela te d� liberdade para tirar conclus�es a partir de dados. N�o quero um jornal para falar tudo o que quero escutar. � sempre bom saber o que pessoas com opini�es diferentes est�o pensando.
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UM CANAL PARA PROTESTAR
Silvia Takeshita de Toledo, 68, advogada, de S�o Paulo (SP)
Fabio Braga/Folhapress | ||
A advogada Silvia Takeshita de Toledo, 68 |
Assinei a Folha em 1971, quando me casei, e sempre escrevi muito para o jornal, tanto para a se��o Painel do Leitor como para A Cidade � Sua —j� fiz muitas reivindica��es nesta �ltima.
Mesmo quando a minha carta n�o foi publicada no jornal, na maioria das vezes tive o meu problema resolvido. Por isso, acho que a Folha presta um servi�o muito importante para o cidad�o.
A minha irm� tamb�m assina o jornal, em Bras�lia. �s vezes, ela se revolta com algum assunto, e eu pergunto: "Por que voc� n�o escreve para o jornal para reclamar?".
O brasileiro geralmente tem uma certa pregui�a de escrever, de reivindicar os seus direitos. Acho que isso acontece por estarmos vivendo em uma era digital.
N�o lembro o que me fez escrever pela primeira vez, j� faz muitos anos. Mas, quando quero me manifestar sobre algum assunto, eu escrevo mesmo.
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DE FILHO PARA PAI
Lucas Righetti, 24, analista de sistemas, de Sever�nia (SP)
Pierre Duarte /Folhapress | ||
Lucas Righetti, 24 |
Geralmente, o filho herda a prefer�ncia por um jornal dos pais. Aqui em casa foi o contr�rio: eu comecei a ler a Folha e s� depois meus pais passaram a fazer o mesmo.
Leio a vers�o eletr�nica no notebook e no celular.
O assunto que mais me interessa � pol�tica, e gosto do enfoque dado pelo jornal � Opera��o Lava Jato.
Al�m de "Poder", tamb�m leio bastante os cadernos de economia e de esporte.
A Folha � um jornal de bastante credibilidade e � por meio do qual me informo sobre o que est� acontecendo no Brasil e no mundo. Gosto muito de conversar sobre esses assuntos atuais.
Meus amigos costumam buscar informa��o mais pela televis�o. Como eu sempre gostei muito de ler —seja revista, livro ou jornal—, acho natural que eu tenha essa proximidade maior com a m�dia impressa.
Acho que a cobertura da Folha dos casos de corrup��o � muito boa e n�o consigo encontrar uma �rea do jornal para criticar.
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DE PAI PARA FILHO
Rodrigo Blas, 24, administrador, de S�o Paulo (SP)
Marcus Leoni - 19.fev.2016/Folhapress | ||
Rodrigo Blas, 24 |
A minha gera��o n�o se liga muito em not�cia. Tenho amigos que consideram o jornal coisa do passado, eles preferem uma coisa mais r�pida e mastigada na internet.
O meu pai � assinante da Folha h� muito tempo. Por isso, o jornal estava sempre em casa. Assim, passei a ter o h�bito de l�-lo.
Quando n�o consigo ler o jornal do dia, vou juntando os exemplares por cinco, dez dias. Dizem que jornal velho n�o tem utilidade. Discordo. Outro dia mesmo eu estava lendo coisas de dez dias antes a respeito do embate entre os motoristas de t�xi e do aplicativo Uber.
Pol�tica � o assunto com o qual mais me identifico. Gosto de ler "Opini�o", Tend�ncias / Debates e o Painel do Leitor para ver os coment�rios de outros leitores. Tamb�m gosto de manifestar minha opini�o, mas me policio. Procuro escrever sobre assuntos pontuais para n�o parecer muito pedante.
O meu pai costuma ler mais colunistas espalhados nos cadernos do que eu. Ele gosta do Cl�vis Rossi, do Elio Gaspari e da ombudsman, Vera Guimar�es.
N�o sou t�o de ler as colunas, a n�o ser as da p�ginas A2. Eu me ligo mais em textos jornal�sticos.
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