'Fanatismo � empobrecedor', diz jornalista do Par� amea�ado de morte
Danilo Verpa/Folhapres | ||
L�cio Flavio Pinto, durante o Encontro Folha de Jornalismo, em S�o Paulo |
Pol�ticos, empres�rios, madeireiros, grileiros e narcotraficantes. A lista dos que enxergam o jornalista L�cio Fl�vio Pinto, 66, e seu "Jornal Pessoal" como oposi��o —ou at� como inimigo— � longa e bem variada.
Criador do quinzen�rio sobre a regi�o amaz�nica, que circula desde 1987 em Bel�m (PA), Pinto � o �nico jornalista brasileiro na lista dos profissionais mais importantes do mundo da ONG Rep�rteres Sem Fronteiras e coleciona pr�mios internacionais.
Dos 33 processos que sofreu no Brasil p�s-ditadura, 19 foram movidos pelos donos do grupo de comunica��o O Liberal, para o qual j� trabalhou. "Tive de me tornar meu pr�prio advogado. Queriam extinguir o 'Jornal Pessoal' por meio da minha exaust�o", afirma.
Leia trechos da entrevista.
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Folha – Qual � a import�ncia do jornalismo profissional?
L�cio Fl�vio Pinto – Nada resiste a uma boa investiga��o. N�o existe mist�rio. Se h� um fato, voc� chega a ele. � uma compet�ncia.
Por que criou o "Jornal Pessoal?"
Criei o jornal sozinho porque n�o podia pagar ningu�m. Decepcionado com a grande imprensa, criei uma linha editorial que torna meu jornal �nico: n�o aceita publicidade.
Como ele se financia?
Com assinaturas e venda. Se o leitor n�o comprar, acaba. � quinzenal e custa R$ 5, ou seja, � mais caro que os outros jornais. � quase artesanal. N�o tem fotos, n�o tem cor. O jornal � denso e publica coisas que outros n�o publicam.
D� um exemplo.
A maior empresa privada do Brasil � a Vale. Ela tem 30 clientes. Por que anuncia como uma varejista? Para conseguir, no m�nimo, a simpatia da imprensa. Em 2005, a Vale foi a empresa que mais distribuiu dividendos no mundo. Ningu�m deu isso. Estava no balan�o da empresa. Era preciso saber ler um balan�o. Fiz a primeira s�rie de reportagens sobre a chegada do narcotr�fico internacional ao Par�. Fui o primeiro jornalista que registrou a penetra��o da China na Amaz�nia, em 2001.
Essas reportagens n�o saem em outros lugares por falta de profissionais qualificados ou de compromisso dos ve�culos?
H� tr�s coisas. Primeiro, a ideia de que a regi�o amaz�nica � ex�tica e deve ser tratada como tal. Segundo, o comprometimento dos ve�culos de Bel�m, que nunca publicam nada sobre a Vale, por exemplo. Em terceiro lugar est� a covardia do jornalista. H� um abastardamento da profiss�o.
A partir do momento em que o jornalista, que era empregado, passa a ser empres�rio, ele pensa dez vezes antes de p�r em risco a rela��o entre sua empresa e a empresa jornal�stica que o contrata. O compromisso passa a ser com essa rela��o.
A m�dia dita alternativa cunhou a sigla PIG, Partido da Imprensa Golpista. Por que discorda do termo e de seu uso?
Primeiro porque leio a grande imprensa e porque as informa��es mais importantes est�o ali, e n�o na internet, no Twitter e nos blogs.
Uma coisa que os donos de jornal aprenderam � que n�o vale a pena participar de conspira��es, porque elas liquidam com a credibilidade da empresa. � algo que eu investigo: tem dono de empresa jornal�stica articulado? N�o tem.
Agora, eles n�o gostam do Lula, n�o gostam da Dilma. Embarcam em teses como o impeachment, que eu acho uma besteira. Mas n�o se trata de imprensa golpista. Golpista � uma palavra grave.
Qual o problema desse discurso?
Ele cria uma teoria conspirativa. O que n�o � o c�none da esquerda e do PT vira golpista.
Os blogueiros me homenagearam v�rias vezes, ent�o eles n�o podem me atacar porque eu sou oposi��o. Reclamam que falo muito do PT. Mas o PT est� no governo!
N�o adianta centrar fogo no PSDB, eles n�o est�o no poder. N�s temos que centrar fogo no poder porque o poder n�o � democr�tico. O fanatismo � empobrecedor.
Voc� j� enfrentou amea�as de morte. Como lidou com elas?
Meus inimigos, aqueles que gostariam de me calar, sabem que eu posso ter informa��es dessa inten��o deles. Quando a amea�a tem consist�ncia, vou atr�s e fa�o o cara saber que eu sei.
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