Colunistas elegem as capas que n�o esquecem (e que ajudaram a fazer)
O que torna uma capa de jornal memor�vel? Um evento hist�rico? Uma informa��o que abala um governo? Uma entrevista com uma grande personalidade? Cinco jornalistas da Folha escolhem a primeira p�gina mais marcante que ajudaram a fazer.
Para a ombudsman Vera Guimar�es Martins, foi a capa que noticiou o acidente do voo 3054, da TAM, em 2007, quando uma aeronave atravessou uma pista do aeroporto de Congonhas e se chocou com um dep�sito de cargas, matando 199 pessoas.
"O acidente aconteceu perto da hora do fechamento. Voc� ia fazendo a manchete sem saber o que estava acontecendo. A adrenalina estava a mil, tentando levar a informa��o mais ou menos acurada no dia seguinte, porque voc� sabe que n�o ser� totalmente precisa", lembra Guimar�es.
J� o colunista Vinicius Torres Freire cita uma entrevista que fez com o ent�o presidente Fernando Henrique Cardoso. A conversa ocorreu tr�s anos depois de a Folha noticiar que o soci�logo teria dito a empres�rios que esquecessem "o que escrevemos no passado, porque o mundo mudou e a realidade hoje � outra", frase que ele ainda nega ter falado.
Na longa entrevista, o tucano rememorou e discutiu as teorias que desenvolveu como acad�mico e analisou a situa��o do Brasil ap�s quase dois anos de seu primeiro governo. "N�o foi marcante para o mundo, mas foi para mim", ri Torres Freire.
A colunista e rep�rter especial Paula Cesarino Costa elege a edi��o que registrou os ataques do 11 de Setembro.
"� poss�vel medir a dimens�o hist�rica de um acontecimento quando todos se recordam de onde estavam e do que faziam quando foram surpreendidos pela not�cia. O ataque �s torres g�meas divide as gera��es entre as que a presenciaram e as que ouviram dele falar", diz Cesarino, que era secret�ria de Reda��o na �poca.
"Como os avi�es se chocaram com as torres de manh�, tivemos praticamente o dia todo para preparar a primeira p�gina e a edi��o hist�rica. Mas o sentimento de impot�ncia vivido naquele momento e a dificuldade de entendimento das suas consequ�ncias foram aflitivos e atordoantes."
A colunista M�nica Bergamo escolhe uma entrevista em que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Fux revelou ter pedido que Jos� Dirceu apoiasse junto ao governo a indica��o de seu nome para compor a mais alta corte do pa�s –o petista j� era, na ocasi�o, r�u no processo do mensal�o, que seria julgado pelo pr�prio STF.
"Naquela �poca, os ministros do STF eram retratados como verdadeiros her�is. A Folha teve a coragem de ir fundo em um reportagem que mostrou como um deles conseguiu ser nomeado, quais apoios pol�ticos buscou. Outros jornais quase n�o repercutiram, mas, como um amigo diz, foi uma bomba que explodiu dentro do castelo: fora ningu�m ouviu, mas dentro todo mundo sabia o que era essa reportagem."
J� o colunista Janio de Freitas lembra de quando revelou que o general Figueiredo, �ltimo presidente da ditadura, se afastaria do cargo para realizar uma cirurgia card�aca, o que o governo negava.
"Todos os jornais, inclusive a Folha, me desmentiram no dia seguinte. Mas, como eu tinha certeza que a informa��o estava correta, esperei. Sete dias depois recebi uma liga��o de Bras�lia dizendo que o general tiraria uma licen�a para cuidar de sua sa�de", conta.
Para o colunista Cl�vis Rossi, a escolha � a capa que sucedeu o dia em que o Congresso rejeitou a emenda Dante de Oliveira, enterrando a chance de elei��es diretas em 1984.
A Folha daquele 29 de junho trazia o t�tulo "Na��o frustrada!" e uma tarja convocando os leitores a se vestirem de preto em sinal de desaprova��o � decis�o dos parlamentares.
"Foi o �ltimo estertor de jornalismo militante, de combate, que era v�lido numa ditadura, mas perdeu sentido com a democracia", analisa.
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