Neste mês de novembro, quando comemoramos 20 anos do primeiro dia de aula da Universidade Zumbi dos Palmares, não há como deixar de sentir uma ponta de orgulho e uma sensação de profunda felicidade por termos tido a inspiração, o entusiasmo e a fortuna de edificar e colocar de pé a primeira universidade voltada para inclusão e qualificação do jovem negro da história do nosso país.
Criada em 2001 e formalizada em 2002, a Zumbi dos Palmares, antes mesmo do debate das cotas para negros nas universidades públicas do Brasil, já se erguia como um novo símbolo da trajetória do negro na sociedade brasileira.
Nunca antes na história do país os negros haviam chegado a tal ousadia. Nunca antes os negros haviam demonstrado tanta cooperação e operosidade na construção de paradigma que resignificaria definitivamente a trajetória dos negros e a história e a educação do nosso país.
Com 50% de cotas para estudantes negros, a Zumbi dos Palmares foi a primeira instituição do país a criar cotas no ensino superior, a primeira a inscrever na grade curricular matérias da história e religiosidade do negro e cuidar transversalmente da sua participação econômica e social na construção do país.
Com a Zumbi dos Palmares, pela primeira vez na história professores, pesquisadores e colaboradores negros encheram salas de aulas e a administração. Pela primeira vez alunos brancos e negros conviveram e ocuparam igualitariamente carteira de salas de aula. Foi com a Zumbi dos Palmares que o mercado de trabalho criou os primeiros programas de contratação de estagiários e profissionais negros.
No banco Bradesco, pioneiro e parceiro há 15 anos, mais de mil jovens negros brasileiros e imigrantes foram treinados e mais de 400 foram efetivados, estando hoje em postos de destaque na carreira. Depois dele, tantos outros vieram e ajudaram a mudar a história.
Com o programa televisivo Negros em Foco, produzido pela Zumbi dos Palmares há 15 anos, o país pôde conhecer informações, problematização e experiências da música, dança, história, literatura, artes e culinária da cultura negra. E com a Atlética da Zumbi dos Palmares, o esporte universitário pôde interagir com a estética e conhecer a força e a potência do esportista universitário negro.
O basquete masculino da Zumbi é bi, e o feminino é pentacampeão universitário.
Com todos os cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação com nota 3, e direito nota 4, com seu Colégio Técnico Profissionalizante Dandara dos Palmares, em parceira com o Senai, com o centro de empreendedorismo e inclusão produtiva para mulheres negras Unibela, em parceria com o Senac e o Sebrae, com o núcleo de combate ao racismo nas relações de consumo Procon Racial, em parceria com o Procon-SP, com a escola de cultura e esportes e parceria com o Sesi-SP, com a Universidade do Samba juntamente com a Liga das Escolas de Samba e a Uesp –União das Escola de Samba de São Paulo—, com os Climáticos, brigada voluntária de preservação ambiental e combate aos efeitos dos extremos climáticos, e com as atividades culturais de conscientização racial Virada da Consciência Negra e Troféu Raça Negra, cumprimos integralmente os princípios e valores inarredáveis dos princípios universitários do ensino, pesquisa, extensão, cultura e ação comunitária.
Mas a Zumbi não fez e não faz nada disso sozinha.
Sua existência é fruto da generosidade dos artistas negros brasileiros, que sempre emprestaram seu prestígio; dos diversos parceiros e aliados públicos e privados; de personalidades negras e brancas, do Brasil e do exterior, que contribuíram de todas as formas e graciosamente; e, principalmente, das diversas empresas que contribuíram economicamente para sua existência ao longo deste longo tempo.
A todos os que se juntaram nesse esforço civilizatório e tornaram realidade o sonho de colocar o jovem negro nos bancos da universidade nos últimos 20 anos, recebam da nossa comunidade acadêmica o nosso muito obrigado.
E também nossa tradicional saudação: boa noite, Zumbi dos Palmares!
TENDÊNCIAS / DEBATES
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