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O que a Folha pensa São Paulo

Primeiro passo para revitalizar o centro de SP

Nova sede administrativa pode ajudar a conter degradação pela cracolândia, se integrada a políticas de saúde e segurança

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Palácio dos Campos Elíseos, na região central de São Paulo (SP) - Gabriel Cabral - 16.abr.18/Folhapress

O governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) lançou a primeira ficha de sua aposta para revitalizar o centro de São Paulo, ao anunciar na sexta-feira (20) a transferência da Secretaria de Justiça e Cidadania para o Palácio dos Campos Elíseos. Começa, assim, a marcha para implantar uma nova sede administrativa no entorno.

Há simbolismo apropriado em alojar no edifício histórico a pasta mais antiga do governo paulista, criada em 1892. O próprio palácio, concluído em 1899 como residência do fazendeiro Elias Antonio Pacheco e Chaves, foi comprado em 1912 pelo estado para servir como sede da administração e moradia do mandatário.

Não se trata de voltar no tempo, mas de projetar algum futuro para o bairro nobre degradado até ficar irreconhecível.

A omissão de sucessivas gestões estaduais e municipais nas áreas de segurança pública, assistência social e saúde fez enraizar-se ali uma multidão de dependentes químicos, repelindo paulatinamente transeuntes, moradores e comerciantes.

Esta Folha recebeu bem o lançamento em março do concurso arquitetônico orçado em R$ 3,9 bilhões para revitalizar a região com vários edifícios numa esplanada do palácio à praça Princesa Isabel —com sede nas proximidades, o jornal tanto testemunha quanto sofre as consequências da incúria do poder público.

Até o advento da proposta, o governo estadual e a prefeitura de Ricardo Nunes (MDB) vinham insistindo em mera repressão policial nas tentativas, não raro violentas, de controlar a cracolândia. Por óbvio é crucial coibir o tráfico e a criminalidade, mas não se cura uma chaga social só com prisões e internações.

O recurso quase exclusivo a grandes operações policiais se resume a enxugar gelo, já que o crack, seus usuários e traficantes sempre retornam. Sem uma abordagem multidisciplinar integrada e de longo prazo, o problema jamais será resolvido.

Um novo centro administrativo na região pode contribuir para sua revitalização. Não se deve esquecer, porém, que a capital já se frustrou ao encetar em 2005 outra megaoperação urbanística, a chamada Nova Luz, abandonada em 2013 por ser incapaz de atrair investimentos privados.

É necessário coordenar o interesse público com o do mercado imobiliário, que pode gerar especulação e consumir recursos sem desaguar nos objetivos sociais.

Da cracolândia de hoje a um futuro elísio, há um percurso longo e acidentado. Mas é preciso percorrê-lo, e um novo centro administrativo pode ser bom começo.

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