Na disputa pela prefeitura paulistana, Pablo Marçal (PRTB) não ofereceu aos eleitores mais do que habilidades de arruaceiro juvenil. Ao menos enquanto subia nas pesquisas, entretanto, acreditava saber o que estava fazendo.
Em declaração de raro cinismo, no final de agosto, disse que seu comportamento deplorável em debates e sabatinas era necessário para chamar a atenção dos votantes: "No processo eleitoral, me perdoe, você tem de ser um idiota. Infelizmente a nossa mentalidade gosta disso".
Ao que parece, o autointitulado ex-coach não conhece tão bem quanto imagina a índole do eleitorado. Neste setembro, o Datafolha o mostra empacado nas intenções de voto e mais distante dos líderes Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL), enquanto sua taxa de rejeição atinge patamares proibitivos para um hipotético segundo turno.
O revés trouxe à tona um Marçal desnorteado, juntando momentos patéticos às suas habituais demonstrações de boçalidade. Tentou o papel de vítima quando, após uma série de provocações, tomou uma cadeirada de outro candidato dado a bravatas e bate-bocas, José Luiz Datena (PSDB). Não funcionou.
Seria flagrado depois admitindo, em conversa com apoiadores, que armou uma cena ao deixar o embate em uma ambulância, como se estivesse gravemente ferido. Mais ridículo foi comparar o episódio com os atentados sofridos por Jair Bolsonaro (PL) e o americano Donald Trump.
O passo seguinte foi um canhestro ensaio de moderação e humildade. Pediu perdão aos eleitores paulistanos pelo baixo nível da campanha e prometeu mostrar sua versão de "governante" a partir dali. Tampouco se sustentou a contrição fingida de quem gastou toda a campanha com provocações e calúnias dirigidas aos adversários.
Pois na segunda-feira (23) Marçal estava de volta a seu elemento —desta vez, com agravantes.
Sucessivos ataques retóricos a Ricardo Nunes o levaram a ser expulso de um debate promovido pelo grupo de internet Flow, que já caminhava para o encerramento. Ato contínuo, Nahuel Medina, assessor de Marçal, desferiu um soco em Duda Lima, marqueteiro do prefeito emedebista.
Trata-se de mais um episódio a aviltar a maior série de debates já vista num pleito paulistano. A presença do candidato do PRTB, dada a insignificância da sigla, nem se faz obrigatória nos eventos —ela se justifica pelo interesse jornalístico. É apenas deplorável que Marçal use desse modo a chance de se dirigir ao eleitor.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.