Em um agitado fim de semana no mundo democrático, três grandes países finalizaram seus processos eleitorais. Os governos populistas de Índia, México e África do Sul foram colocados à prova nas urnas.
Em comum, tais nações frequentam desde os anos 1990 o escaninho das emergentes —uma designação cujo sentido remonta mais à conveniência dos mercados para categorizar alvos de investimentos do que ao pertencimento a um movimento comum.
Indianos e sul-africanos, de todo modo, têm suas iniciais no acrônimo do bloco que ganhou notoriedade no grupo, o Brics, assim como Brasil, China e Rússia. Hoje, há poucos países mais diferentes entre si do que os parceiros da entidade.
O trio que foi à urnas —dois deles em processos parlamentares e o México numa tradicional eleição presidencial— chegou a 2024 unido sob o signo do populismo. Não das variantes da direita trumpista ou bolsonarista, porém respeitando peculiaridades políticas.
Completando dez anos no poder, Narendra Modi transformou a Índia surfando uma onda econômica e demográfica. É um país com níveis abissais de miséria, mas há obras de infraestrutura por todo lado e previsões talvez otimistas sobre uma prosperidade futura.
O pedágio veio na forma de um radicalismo religioso que explodiu na campanha. A grande maioria obtida no Parlamento mostra que os 80% de hinduístas do país estão satisfeitos com tal virulência contra os 200 milhões de muçulmanos, o que lança sombras sobre o futuro.
No México, o populismo triunfou, mas num cenário mais desafiador. Os eleitores ratificaram a ungida por Andrés Manuel López Obrador para sucedê-lo, Claudia Sheinbaum, a primeira mulher a chegar a Presidência do país.
AMLO, como o líder é conhecido, levou a esquerda ao poder há seis anos e implantou um grande programa assistencialista de resultados mistos e solvência incerta.
O México é um os países mais violentos do mundo, devido ao narcotráfico, e busca fortalecer relações econômicas com os EUA. Uma eventual volta de Donald Trump e sua xenofobia à Casa Branca pode acirrar ainda mais as tensões.
Na África do Sul, o Congresso Nacional Africano (CNA) não alcançou os 50% do Legislativo necessários para governar e indicar o presidente. Assim, pela primeira vez perdeu a hegemonia conquistada em 1994, quando encerrou o regime racista do apartheid com a eleição de Nelson Mandela.
O atual presidente, Cyril Ramaphosa, nem é tão caricato como o antecessor, Jacob Zuma, e à sua falta de carisma foi atribuído o fracasso nas eleições. Por legar um país em crise e com níveis inaceitáveis de violência, agora o CNA terá de aceitar uma coalizão.
Os três pleitos revelam fossos entre países que já foram considerados pares. A boa notícia é que, mesmo sob a tensão institucional típica do populismo, eles por ora seguem aderentes ao sistema de freios e contrapesos das democracias.
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