Neste ano, a parada LGBTQIA+, realizada em São Paulo desde 1997, ganhou um colorido diferente. Do arco-íris que simboliza a diversidade de gênero e orientações sexuais, as cores verde e amarela saltaram para a avenida Paulista sob a forma de adereços e da camisa da seleção brasileira de futebol.
Milhares de pessoas responderam ao convite dos organizadores e de personalidades ligadas ao movimento, atendendo a um propósito de fundo político: retirar do bolsonarismo a apropriação das tradicionais cores brasileiras.
Como se sabe, com os motes de "nossa bandeira não é vermelha" e "Brasil acima de tudo", a direita populista adotou nos últimos anos o uniforme que se transformou em imagem internacional do país.
O nacionalismo cultivado por Jair Bolsonaro (PL) tem raízes na ditadura militar, que tentou capitalizar a conquista da Copa de 1970 como um feito do regime, insuflando um tipo de patriotismo ufanista e incondicional resumido no slogan "Brasil, ame-o ou deixe-o".
O embaraço de alguns setores da esquerda em comemorar abertamente a vitória naquele torneio de certa forma se repetiu em anos recentes. Em que pesem tentativas de recuperar as cores nacionais, o fato é que o verde e amarelo e a camisa da seleção permaneceram como representação cromática predominante nos atos pró-Bolsonaro.
O estopim da novidade foi o show da Madonna em Copacabana, no início de maio. A cantora, que sempre desafiou as visões mais rígidas contra a diversidade de gênero, levou ao palco uma bateria de escola de samba e fez dupla vestida de verde e amarelo com a brasileira Pabllo Vittar —também uma das atrações do domingo na Paulista.
É significativo que a tentativa mais bem-sucedida de quebrar tal polarização tenha surgido agora sob a liderança do movimento LGBTQIA+, numa festa marcada por alegria e ousadia democrática.
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