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O que a Folha pensa indústria

Protecionismo faz mal aos EUA e ao mundo

Restrições ao comércio, reflexo de disputas geopolíticas, reduzem eficiência econômica e elevam preços aos consumidores

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Joe Biden, presidente dos Estados Unidos - Andrew Caballero-Reynolds/AFP

A seis meses da eleição e com popularidade baixa mesmo diante dos bons resultados na economia, o presidente americano Joe Biden emula seu antecessor e apela para medidas protecionistas, na busca de votos da classe média.

Desta vez o alvo da alta de tarifas são setores críticos para a transição energética hoje dominados pela China, como carros elétricos (de 25% para 100%), painéis solares (de 25% para 50%), baterias e minerais associados (de 7,5% para 25%).

Semicondutores, certos produtos de aço e alumínio e alguns artigos médicos fazem parte do pacote que incidirá sobre US$ 18 bilhões em compras americanas. Tal montante se soma aos US$ 300 bilhões tarifados desde 2016.

A justificativa do governo para a nova rodada de restrições são os subsídios industriais chineses, que ampliam a capacidade de produção além da demanda. Com mais condições de tolerar prejuízos, as empresas do gigante asiático eliminariam a chance de concorrência.

Tendo adotado seu próprio programa de subsídios para a transição energética, Biden busca direcioná-los para a produção doméstica sob apelo de segurança nacional. Por seu turno, Pequim mostra determinação em liderar o setor tido como estratégico

Diante de tais considerações de geopolítica e poder, fatores como eficiência econômica e respeito às regras do comércio internacional ficam relegados ao segundo plano.

Até aqui, estudos sobre os impactos das tarifas impostas por Donald Trump demonstram baixa efetividade para geração de empregos e aumento de preços nos setores atingidos, pagos em grande medida pelos consumidores.

A degradação dos mecanismos legais de disputa comercial em favor de decisões unilaterais também mina cada vez mais o sistema antes favorecido pelos EUA, com graves riscos para a economia mundial.
Tudo indica, infelizmente, que a escalada de protecionismo deve continuar. Trump já disse querer taxar todas as importações em 10%, e em percentuais muito maiores na entrada de produtos chineses por países como o México.

Neste último caso, o impacto inflacionário seria muito maior, com reverberação global.

Também é fato que os subsídios para a indústria da China, ampliados nos últimos anos, trazem impactos sistêmicos. Com demanda interna insuficiente, o país já responde por cerca de 30% da produção mundial, e seu superávit em manufaturas beira US$ 2 trilhões.

Outras regiões também parecem em vias de adotar restrições, caso da União Europeia, com disputas de consequências temerárias. Não será fácil achar um ponto de equilíbrio respaldado no multilateralismo diante de tais forças.

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