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O que a Folha pensa oriente médio

Resposta de Israel deve definir rumos da guerra

Comedimento na resposta ao ataque do Irã, indicada por EUA, pode evitar escalada do conflito; posição do Brasil é tíbia

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Sistema de defesa anti-aéreo de Israel em funcionamento durante o ataque do Irã - Amir Cohen - 14.abr.24/Reuters

Suscita temores, embora não se tenha chegado a um ponto de escalada irremediável, o ataque com mísseis e drones que o Irã perpetrou, na noite de sábado (13), contra o território de Israel.

Pouco mais de seis meses após os atentados terroristas do grupo palestino Hamas a kibutzim israelenses, a ação fortalece os contornos de um conflito regional cuja sombra se projeta há anos.

A ofensiva foi classificada pela teocracia persa como resposta ao bombardeio, supostamente executado por forças israelenses, de sua embaixada em Damasco. Tel Aviv se recusou a comentar o episódio, mas operações do tipo contra autoridades iranianas não foram raras ao longo dos anos.

A lei internacional não legitima nenhuma das operações —nem o bombardeio à embaixada nem a ofensiva no espaço aéreo— como ações de autodefesa. Isso não impediu os dois países de calcar o embate retórico nesse direito.

É um discurso útil para reviver o apoio popular que tanto o governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu como o do aiatolá Ali Khamenei veem se erodir.

A Defesa israelense afirma ter conseguido abater os drones e projéteis iranianos. A ofensiva, que oficialmente se encerrou ali, não deixou mortos nem maior prejuízo. Mas seu intuito parece ter se cumprido. Teerã demonstrou a Tel Aviv que é capaz de adentrar seu território, de forma até então inédita.

Com isso, enuncia disposição de assumir o conflito oficialmente, não mais apenas pelos braços dos grupos radicais e terroristas que financia, com sua maior robustez estratégica e bélica.

Os próximos passos de Israel serão cruciais para o agravamento ou arrefecimento do conflito.

Se o apelo por comedimento de seu principal aliado, o governo dos EUA, parece ter encontrado eco em parte do gabinete, o governo Netanyahu enfatizou que o Irã deve pagar pela agressão. A julgar por suas ações recentes, o premiê, que encontrou na guerra a sobrevida no cargo, não tem a paz como meta.

Os principais desdobramentos são, até aqui, diplomáticos: o esforço de Joe Biden, que tem intervindo nos bastidores dos dois lados para refreá-los, e a cobrança de Israel por demonstrações de apoio a seu direito de defesa, manifestação que o Brasil ainda não fez.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já incorrera em logorreia inútil aos esforços de paz quando comparou as práticas de Israel contra Gaza com as ações do nazismo. Quanto ao Irã, o histórico do petista em condenar atrocidades cometidas pelo regime dos aiatolás é nulo.

A guerra travada em Gaza por si só já impôs quase 34 mil mortes, além de lançar os mais de 2 milhões de pessoas que vivem no território a condições de privação atrozes. Expandi-la trará mais mortes e rupturas diplomáticas, com consequências imprevisíveis.

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