Altas e quedas das cotações do dólar costumam ser associadas a erros ou méritos do governante de turno, mas em geral também há fatores externos em ação, não raro mais determinantes.
É o que se nota na recente escalada da moeda americana ante o real. Na segunda-feira (1º), a divisa chegou a R$ 5,06, maior nível desde outubro —o que levou o Banco Central a anunciar a primeira intervenção no mercado de câmbio durante o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Pelo que se pode observar, não existem novos fatos ou percepções sobre a política econômica doméstica que motivem essa tendência. Segundo a leitura mais consensual, a mudança das taxas reflete mais a força da economia dos EUA que um enfraquecimento da brasileira.
Na segunda foram divulgados dados sobre o vigor do setor industrial americano, que se somam a outros indicadores favoráveis, em particular do mercado de trabalho.
Isso significa perspectiva de juros elevados por mais tempo para conter a inflação na maior potência econômica global, o que obviamente favorece as aplicações em dólar e a procura pela divisa.
O mesmo movimento ajuda a explicar a queda da Bolsa de Valores, dada a retirada de investimentos por parte de estrangeiros.
Entretanto a motivação externa não significa que a alta do dólar deva deixar de merecer atenção e providências. Ela tende a encarecer os produtos importados e dificultar o combate à inflação doméstica e, no limite, a trajetória de redução dos juros.
Nos próximos dias saberemos se o BC pretende tomar novas medidas nessa área. A experiência do câmbio flutuante ensina, de todo modo, que se deve apenas intervir de maneira pontual, em momentos de maior instabilidade ou riscos para a liquidez, sem pretender impor cotações artificiais.
Para além das dúvidas imediatas, a política econômica precisa contribuir para que o real seja uma moeda menos volátil e suscetível aos humores de mercado, com avanços nas reformas das receitas e dos gastos públicos, além de abertura da economia e da corrente de comércio internacional.
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