O pragmatismo e a racionalidade têm prevalecido, até aqui, na política econômica do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A agenda do retrocesso, entretanto, está sempre à espreita.
As declarações de Lula são especialmente reveladoras a esse respeito —e sua mais recente e estapafúrdia investida contra a Vale mostra de modo assustador o primitivismo de seu ideário.
"A Vale não pode pensar que ela é dona do Brasil, não pode pensar que ela pode mais do que o Brasil. Então o que nós queremos é o seguinte: empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro", pontificou o líder petista, em entrevista à RedeTV.
No raciocínio tortuoso, quem parece reivindicar a condição de dono do país é o próprio Lula. Sua tese já seria ruim se dissesse respeito a uma empresa controlada pelo Tesouro Nacional. Tratando-se de empresa privada e, pior, do conjunto das empresas brasileiras, está-se diante de um disparate perigoso.
A experiência não permite tomar a afirmação como mais uma das bravatas do mandatário. Administrações petistas já fizeram pressões variadas sobre a Vale, chegando a influenciar na troca de comando da gigante mineradora.
Mais recentemente, o governo flertou abertamente com a pretensão de conduzir o ex-ministro Guido Mantega, partícipe da ruína econômica de Dilma Rousseff (PT), a um posto elevado na empresa.
Privatizada em 1997, a Vale hoje é menos permeável ao mandonismo governamental devido à pulverização de seu capital acionário. Ainda assim, opera mediante concessão em um setor fortemente regulado. Quando quer, o Estado encontra meios de intervir com mão pesada em atividades privadas.
Não se discute que o mercado deve estar submetido a regras que protejam os interesses da sociedade. Quando o governo se mete a interferir em decisões de negócios, entretanto, quase sempre sabota a eficiência empresarial e a produtividade —para nem falar da impessoalidade da gestão pública.
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