Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parece ter sentido o golpe da popularidade evanescente. A perda de prestígio, confirmada pela mais recente pesquisa Datafolha, pode explicar a mudança de atitude do Brasil em relação à Venezuela —mudança demasiado tardia, registre-se.
De forma inédita, o governo petista criticou as autoridades eleitorais venezuelanas por bloquearem o registro da candidatura da oposicionista Corina Yoris no pleito presidencial marcado para julho.
A nota, redigida pelo Itamaraty, diz que a atitude de Caracas não é compatível com o Acordo de Barbados, pelo qual a ditadura de Nicolás Maduro se comprometia a realizar uma eleição livre e justa.
Yoris, que seria a substituta de María Corina Machado como candidata unificada da oposição, não conseguiu se registrar para disputar o pleito. O site em que deveria fazê-lo muito suspeitamente não funcionou, e as autoridades recusaram-se a estender o prazo.
Há menos de um mês, a Justiça cooptada pelo regime proibiu Machado de concorrer a cargos públicos por um período de 15 anos.
A nova postura brasileira, embora bem menos crítica a Caracas do que a de outras nações sul-americanas, contrasta com a atitude que Lula vinha adotando.
Ao celebrar a definição de uma data para a eleição, o petista disse, num misto de cegueira ideológica e insensibilidade, que a oposição venezuelana deveria parar de "ficar chorando" e indicar um outro candidato para substituir Machado.
No ano passado, saiu-se com a tese de que "o conceito de democracia é relativo", para não criticar o ditador companheiro.
A chancelaria venezuelana percebeu a mudança e emitiu uma nota dura, afirmando que o Brasil parecia seguir ordens de Washington.
Entretanto tomaram o cuidado de diferenciar o que entendem ser o posicionamento do Itamaraty do de Lula, procurando preservar o mandatário. Maduro, afinal, não tem tantos aliados para alijá-los por qualquer contrariedade.
É pouco provável que o presidente brasileiro tenha autorizado a mudança de atitude porque se deu conta da verdadeira natureza do regime de Maduro.
Sua tolerância para com chefes autoritários que ele julga amigos segue firme. Recentemente elogiou a eleição russa, que apresentou sinais inequívocos de manipulação.
Mas há motivos para crer que o petista foi, ao menos por ora, convencido de que seus posicionamentos na arena internacional custam popularidade no cenário interno, e se dispôs a conter o dano.
Espera-se que não desmantele a nova e mais equilibrada postura brasileira em sua próxima fala de improviso. Até Lula tem dificuldades para controlar Lula.
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