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Triunfo truculento

Presidente de El Salvador é reeleito com ações em segurança que minam liberdades

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Nayib Bukele, presidente licenciado de El Salvador - Marvin Recinos/AFP

El Salvador é o exemplo mais atual de como altos índices de criminalidade e violência podem abalar a normalidade democrática.

Com mais de 80% dos votos durante a apuração parcial, o presidente licenciado do país, Nayib Bukele, declarou a própria vitória no pleito, apesar de a Constituição vetar reeleição. Foi a primeira vez em 80 anos que a regra foi violada.

Aos 42 anos, é expoente regional da direita populista radical que tem ampla aprovação entre os salvadorenhos, com índices em torno de 70% e 80% E o motivo principal desse apreço é a segurança pública.

El Salvador tem histórico dramático de conflitos, com 12 anos de guerra civil que só chegou ao fim em 1992 graças a um acordo que levou o grupo guerrilheiro Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional a abandonar as armas para se tornar um partido político.

A partir do final dos anos 1990, teve início uma escalada de disputas sangrentas entre facções criminosas. Em 2015, 106 pessoas foram mortas a cada 100 mil habitantes em El Salvador —no Brasil, que tem altas taxas de homicídio, foram 25,7 por 100 mil.

Quando Bukele assumiu o poder, em 2019, eram cerca de 40 por 100 mil; em 2022, o número caiu para 7,8; no ano passado, apenas 2,4.

Esses dados mais recentes são questionados pela sociedade civil, mas fato é que 9 em cada 10 salvadorenhos dizem se sentir seguros, segundo pesquisa da Universidade Centro-Americana.

Para atingir tais resultados, entretanto, Bukele instaurou em 2022 um estado de exceção —aprovado pelo Legislativo, controlado por seu partido— que vem sendo prorrogado desde então.

O instrumento solapa direitos civis ao restringir a liberdade de reunião, a inviolabilidade de correspondências e comunicações, e autorizar prisões sem ordem judicial. El Salvador é o país que mais encarcera no mundo como proporção da população (2,2% dos adultos).

A popularidade e o triunfo eleitoral de Bukele sem dúvida alimentarão a influência de suas estratégias no debate político da América Latina, onde a criminalidade disseminada desafia as autoridades. Trata-se de um perigo.

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