Há um ano, parecia que a invasão russa da Ucrânia se consumaria em um desastre estratégico fatal para o regime de Vladimir Putin.
Àquela época, ainda que fosse previsível o prolongamento a perder de vista do conflito, Kiev estava em melhor posição na disputa em curso no Leste Europeu.
Em um ano, havia resistido a um assalto que o Ocidente acreditava que duraria apenas 72 horas até a queda da capital, expulsado os russos de seu centro nervoso e retomado duas áreas importantes.
Animados pela retórica triunfalista do presidente Volodimir Zelenski e pela sucessão de erros de Vladimir Putin, os EUA e seus aliados passaram a fornecer mais e melhores armamentos para os ucranianos, vencendo o temor de uma escalada nuclear do conflito.
A soberba ucraniana repetiu então a russa do ano anterior, e seus tanques não lograram mudar a situação em solo. A propalada contraofensiva pariu um rato, apesar de alguns ganhos —particularmente contra a vulnerável esquadra de Putin no mar Negro.
Os russos readaptaram suas técnicas, mobilizaram soldados e agora estão na ofensiva. Mantendo superioridade em ataques de longo alcance, avançam em pontos vitais do leste e do sul do país, embora também não tenham condições de conquistar todo o território.
Putin, rumo à sua farsesca reeleição garantida no mês que vem, ganha confiança. Se a morte do opositor Alexei Navalni lhe serviu para algo, foi para lembrar que o dissenso não tem lugar na Rússia, seja lá como tenha morrido o ativista.
Enquanto isso, o Ocidente se depara com um dilema. O fastio com a guerra é evidente: só 10% dos europeus creem no triunfo ucraniano.
Nos EUA, maior doador individual do R$ 1,35 trilhão recebido por Kiev até aqui, ajuda adicional está parada num Congresso de olho na disputa entre Joe Biden e Donald Trump, que rejeita apoiar Zelenski.
A Europa aprovou um auxílio de longo prazo, mas para custeio da economia, e a munição ucraniana está acabando. Caças e outras armas deverão chegar, entretanto seu impacto é no mínimo incerto.
Encurralado e sem disposição para enfrentar diretamente a Rússia, o Ocidente se pergunta se faz Kiev aceitar uma negociação de paz que envolva perda de 20% de seu território, algo visto como rendição, ou se aumenta a aposta contra Putin.
O argumento de que o autocrata russo não pararia após vitória parcial é válido, embora um ataque à Otan seja tática suicida. Tudo muda caso Trump, que despreza a aliança, estiver na Casa Branca, o que transforma a eleição americana na chave do calendário da guerra.
Por ora, Putin domina o jogo.
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