O ministério de Flávio Dino foi marcado pelo embate contra o setor tecnológico. Se confirmada, sua indicação ao STF vai fortalecer uma postura de "supremacismo informacional": a tentativa de combater as fake news pela supressão centralizada das tecnologias de informação. A primeira falha dessa tendência é não entender que desinformação é mais problema de demanda que de oferta. Como diz estudo da Science, "a exposição a canais extremistas no YouTube é impulsionada por usuários ressentidos que buscam esse conteúdo, não por recomendações algorítmicas".
Apoiadores de Trump e Bolsonaro acreditaram em alegações infundadas de fraude eleitoral sem a necessidade de vídeos deepfakes ou tecnologias avançadas. A demanda por certas narrativas é tão forte que a oferta se molda para atendê-la.
É contradição tentar erradicar ideias políticas em nome da democracia. Sem canais para persuadir eleitores, os derrotados nas urnas têm menos incentivos para reconhecer resultados e confiar no equilíbrio democrático. A suposta defesa da democracia acaba por enfraquecê-la.
A supressão não desempenha o papel da persuasão. Classificar fake news na base da autoridade não basta para convencer as pessoas. Mas há alternativas. Mecanismos transparentes e consensuais —como Notas de Comunidade do X (ex-Twitter) ou mercados de previsão— separam verdade de falsidade com algoritmos e incentivos que recompensam a informação de boa qualidade. Neles, processos de classificação e persuasão acontecem ao mesmo tempo.
O Judiciário deveria possibilitar inovações que favoreçam a persuasão bem informada no mercado de ideias. Porém, o tom ameaçador com que Dino trata as redes negligencia seu potencial transformador no combate à desinformação. O futuro das plataformas descentralizadas indica que a solução não virá de cima para baixo, mas das comunidades de usuários e inovadores.
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