Um rastro de terror se espalhou pelo Rio Grande do Norte ao longo da última semana, quando criminosos perpetraram perto de 300 ataques indiscriminados em mais de 20 cidades potiguares.
A onda de violência, que incluiu investidas incendiárias contra veículos, depredação de patrimônio público e privado e disparos de tiros ao léu, instilou medo na população dentro de suas próprias casas e prejudicou as rotinas municipais, com suspensão de aulas e paralisação de diversos serviços.
Seria, segundo o Ministério Público, o fruto podre de uma aliança entre facções criminosas para reivindicar mudanças nas condições carcerárias do estado. De fato, inspeção realizada no fim do ano passado identificou a prática de tortura contra detentos em prisões potiguares, para nada dizer do déficit de mais de mil vagas no sistema.
Ainda que se confirme a hipótese da Promotoria, ela não justifica a reação bárbara dos facínoras —e ao Estado não resta opção senão contra-atacar com firmeza e velocidade, a fim de restabelecer a ordem pública o quanto antes e assegurar a punição dos responsáveis.
Foi decerto no afã de realizar esse desiderato que o senador Styvenson Valentim (Podemos-RN) apresentou um requerimento cobrando o envio das Forças Armadas ao Rio Grande do Norte, por meio de uma missão de Garantia da Lei e da Ordem —a famigerada GLO.
O pedido, no entanto, encontrou a objeção de Flávio Dino. Com razão, o ministro da Justiça ponderou que o emprego de fardados deve ser visto como espécie de remédio extremo para situações de colapso das demais tropas de segurança, o que está longe de ser o caso.
As Forças Armadas, vale lembrar, não têm vocação para cuidar da segurança pública. Utilizá-las amiúde no papel de polícia representa um duplo risco: o de abusos contra civis e o de cooptação de militares pelas facções criminosas.
Recorrer à Força Nacional, como fez Dino, é a melhor solução para episódios como esse. Composta sobretudo por policiais estaduais, a tropa tem mais expertise no trato de questões urbanas.
De acordo com o ministro da Justiça, o reforço federal montou a mais de 700 agentes. Além disso, pelo menos dez detentos foram deslocados para presídios federais.
As iniciativas devem bastar para devolver a paz às ruas potiguares e para apertar o cerco sobre os líderes que, estando dentro ou fora do cárcere, ordenaram os ataques.
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