Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a preocupação ambiental posta, a expectativa é que o barulho de motosserras comece a dar lugar às vozes de excluídos pelo clima: negros, mulheres, moradores de encostas e favelas, ribeirinhos e a massa jovem.
Somente no ano de 2022 foram mais de 500 vítimas de desastres no país. Se as verbas destinadas à prevenção de desastres foi a cada ano diminuindo em demasia, pessoas vulnerabilizadas se viram cada vez mais fora do orçamento e do raio de atuação de políticas públicas com foco na redução de desigualdade.
E isso se deu por escolha de gestores, se se tem em mente que política pública é uma escolha de resolução de conflitos trazida para a arena pública.
A Cúpula do Clima (COP27), que ocorrerá até o dia 18 de novembro, no Egito, expõe o Brasil com sua política ambiental fragilizada ao longo dos últimos seis anos, mas também acende o alerta para o ponto de inflexão ao possibilitar que o país volte a ser o protagonista, seja pela Amazônia e sua biodiversidade, seja pela riqueza natural que atravessa o país de norte a sul, de leste a oeste.
Quando Lula corrigiu o apresentador William Bonner no debate da TV Globo dizendo que não é mais meio ambiente, mas sim questão climática, o futuro presidente sabia que, desde sua primeira gestão para os dias atuais, passaram-se duas décadas e o mundo não é mais o mesmo.
Agora, a questão climática fala de pessoas vulnerabilizadas pelo clima, como indígenas e a violência a seus territórios; quilombolas e o reconhecimento de suas terras; moradores das periferias e o acesso a um sistema de esgoto e água tratada; mulheres e o impacto sobre suas fontes de renda nas roças deste imenso país.
Ora, se a diminuição da desigualdade é uma pauta que Lula não abre mão, ele sabe o quanto o progresso do agro sem compromisso afeta a vida das pessoas. Ele sabe o quanto a violenta mineração representa para indígenas, quilombolas e rurais. E então fica fácil entender que a demanda verde do país é outra. É pela vida imediatamente agora: sem fome, sem conflito de terras, sem deslizamentos, com responsabilidade e inclusão.
A luta desses grupos, minoritários enquanto sujeitos de direito e majoritários em quantidade, é uma demanda válida e necessária, mas que necessita ganhar espaço no discurso oficial, nas mesas de discussões, no Brasil e no mundo.
No nosso país, o lugar apropriado é nas políticas públicas transversais. No âmbito mundial, a COP é o local adequado porque é o mundo pensando e enveredando esforços para uma mesma causa: diminuir as desigualdades entre as nações.
A ideia em torno dos temas relacionados à justiça climática é justamente nesse sentido: uma possibilidade de excluídos pelo clima terem visibilizadas suas pautas que denominamos de vulnerabilidades —gênero, raça, origem e condição econômica etc.
Isso somente ocorrerá com a abertura das mesas de negociações e com o assento oficializado de excluídos. Ao lado, e não menos importante, há ainda a educação ambiental em todos os níveis de ensino.
O papel de um líder ambiental é essencial à mudança, e Lula sabe disso.
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