A quatro meses das eleições, os dois primeiros colocados da corrida presidencial demonstram pouco interesse em discutir os problemas do país longe da zona de conforto oferecida por comícios e pelo horário de propaganda eleitoral.
Jair Bolsonaro (PL), que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, anunciou que não participará de nenhum dos debates previstos para o primeiro turno e só voltará a pensar no assunto se passar à segunda rodada.
O mandatário, que busca a reeleição e enfrenta elevados índices de reprovação popular, argumentou que nada ganharia se comparecesse a esses eventos, já que disporia de pouco tempo para se defender dos ataques dos adversários.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não confirmou sua participação em nenhum debate até agora e sugeriu que os veículos de comunicação reduzam o número de encontros programados a dois no primeiro turno e mais um na etapa decisiva.
Apontado como favorito pelas pesquisas, o ex-presidente parece avesso à ideia de se expor, com o principal oponente ausente, num palco dominado por candidatos com pouco voto e muita vontade de fazê-lo escorregar.
É um sinal desalentador. Ao colocar suas estratégias de campanha acima de tudo, os dois protagonistas da disputa pelo Planalto desrespeitam os outros competidores e ofendem os eleitores.
Debates são um instrumento fundamental para que as pessoas se informem sobre os candidatos e analisem suas propostas sob o crivo do contraditório. Eles são, portanto, uma parte essencial do processo democrático.
Se o formato nem sempre produz resultados satisfatórios, isso se deve, na maioria das vezes, às condições impostas pelos marqueteiros das campanhas para a participação dos candidatos, em geral mais preocupados em se proteger do que em esclarecer os eleitores.
Bolsonaro foi a apenas dois debates na campanha de 2018. Afastado das ruas após levar uma facada a poucas semanas do primeiro turno, continuou dando entrevistas no hospital e falando aos seguidores na internet, mas recusou embates diretos com os adversários.
Lula dificilmente terá condições de criticar o presidente se ele fugir novamente desta vez. O petista também evitou a exposição no primeiro turno da campanha de 2006, quando exercia o primeiro mandato e concorria à reeleição.
O mínimo que Bolsonaro deveria oferecer ao eleitorado neste ano é uma prestação de contas dos erros cometidos em sua ruinosa gestão. Lula faz diariamente promessas vazias sem explicar como irá superar os obstáculos à sua frente. Os eleitores merecem mais respeito daqueles que pedem seus votos.
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