Governado desde sua redemocratização por presidentes de conduta moderada, oscilando entre a centro-esquerda e a centro-direita, o Chile foi desde os anos 1990 o país mais bem-sucedido em termos de estabilidade política e crescimento econômico na América do Sul.
Trincas nesse modelo liberal adotado se tornaram fraturas expostas em grandes e não raro violentos protestos populares a partir de 2019. Multiplicaram-se queixas contra a reduzida oferta de serviços públicos e os valores pagos pelo sistema de aposentadorias, baseado em poupanças individuais.
A formação de uma Assembleia Constituinte após as manifestações, incumbida de redigir nova Carta para substituir a atual, tampouco foi suficiente para atender ao anseio por mudanças —é o que aponta o cenário das eleições presidenciais, cujo primeiro turno se realiza neste domingo (21).
Pesquisas indicam o favoritismo de dois candidatos localizados em polos do espectro ideológico: à direita o advogado José Antonio Kast, 55, e à esquerda, o ex-líder estudantil Gabriel Boric, 35.
A depender da pesquisa, disputam o terceiro lugar na disputa Yasna Provoste, ligada à ex-presidente Michelle Bachelet, e Sebastián Sichel, apoiado pelo atual chefe de Estado, Sebastián Piñera. Este vem se enfraquecendo diante da impopularidade do governo.
O esquerdista Boric propõe expandir a participação do Estado na economia e atacar a desigualdade social. Já Kast, um defensor da ditadura do general Augusto Pinochet, parece ser a resposta à parcela da população que vê ameaça de socialismo no oponente principal.
A candidatura de direita quer reduzir a migração ao país, em particular de haitianos e venezuelanos, além de reprimir mais duramente protestos dos indígenas mapuches. Também apoia anistia a presos que cometeram violações de direitos humanos durante a ditadura e é contrária ao aborto.
Os mais de 20% de indecisos nas pesquisas embaralham a previsão de resultados, assim como o fato de que o voto é facultativo no Chile. Eleitores moderados podem simplesmente não comparecer a um segundo turno entre os dois candidatos mais radicais.
Um perigo da polarização, como já se viu no Brasil, é o empobrecimento do debate, sufocado pelo maniqueísmo e por discursos populistas que apresentam respostas enganosamente simples para problemas complexos.
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