Engolfada em uma tragédia social e econômica com poucos paralelos no planeta, a Venezuela tem a chance de dar ao menos um passo rumo à normalidade democrática.
Na terça-feira (31), os principais partidos de oposição anunciaram a participação nas eleições regionais de novembro, quando deverão ser escolhidos os novos governadores e prefeitos do país.
A decisão do grupo, batizado de G4, representa uma inflexão das relações entre as forças oposicionistas e o regime, com a perspectiva de pôr fim ao boicote eleitoral que perdura desde 2017.
Naquele ano, uma eleição farsesca promovida pelo ditador Nicolás Maduro instaurou um Congresso paralelo 100% oficialista, que usurpou os poderes da Assembleia Nacional, dominada pelos opositores.
Em 2018, Maduro foi reeleito por meio de um pleito coalhado de irregularidades e amplamente rejeitado pela comunidade internacional. No ano seguinte, o então líder do Legislativo, Juan Guaidó, declarou-se presidente interino, sob a alegação de que haveria um vácuo no poder do país.
Agora, o retorno oposicionista ocorre num momento de alguma distensão política. Em agosto, ditadura e oposição encetaram, pela sexta vez desde 2014, nova rodada de negociações, sediada no México sob mediação da Noruega.
Ambas as partes se comprometeram a dialogar acerca de sete pontos cruciais, que vão desde um calendário eleitoral com rigorosa observação até o levantamento das sanções que pesam sobre a hierarquia chavista, passando pela renúncia à violência e pelo respeito ao Estado de Direito.
Um dos primeiros desdobramentos foi propiciar condições de participação melhores para as forças contrárias ao regime, sendo a principal delas a reabilitação da Mesa de Unidade Democrática (MUD) —coalizão que de 2009 a 2016 reuniu todas as legendas da oposição, e com a qual venceram as eleições parlamentares de 2015.
Será sob a bandeira da MUD que os candidatos do G4 concorrerão no pleito. Além disso, o regime assegurou que o órgão eleitoral, agora também com membros não chavistas, atuará com liberdade, bem como que a votação contará com observadores internacionais.
Embora bastante incipientes, são movimentos na direção correta. Caberá ao chavismo cumprir os compromissos assumidos e permitir que o país encontre uma saída para o desastre que promoveu.
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