Roberto Kalil Filho
Afronta � dignidade humana
Infelizmente, s�o comuns no Brasil, e em especial na rede p�blica, queixas de m�dicos e de outros profissionais de sa�de sobre jornadas extenuantes de trabalho, afastamento da fam�lia, sal�rios incompat�veis com uma vida digna e muito aqu�m do esfor�o, da dedica��o e da responsabilidade exigidos pela carreira.
Fora isso, tamb�m s�o v�timas de viol�ncia por parte de pacientes ou acompanhantes que responsabilizam os m�dicos por todas as consequ�ncias produzidas pela doen�a.
Tais situa��es, evidentemente, comprometem a sa�de f�sica e mental desses profissionais e geram o desalento que os afasta de seus pacientes, o que acaba por punir justamente os mais necessitados, aqueles que j� vivem nos limites da dignidade humana.
No entanto, quando afrontam a �tica, quebram o juramento de Hip�crates proclamado ao receberem o t�tulo de doutor e compartilham publicamente segredos e sentimentos a eles confiados, os m�dicos violam um dos princ�pios mais sagrados da profiss�o, o sigilo m�dico.
Essa situa��o ocorreu recentemente com a divulga��o pelas redes sociais de exames e dados cl�nicos n�o autorizados, al�m de coment�rios desairosos sobre pacientes p�blicos. O caso revela um dos lados perversos do comportamento humano, reprov�vel e absolutamente inadmiss�vel para quem se apresenta como m�dico.
Pior ainda � testemunhar esses profissionais serem movidos por sentimentos menores e ideologias pol�tico-partid�rias, fazendo apologia da morte, como lamentavelmente observamos na �ltima semana.
O texto da jornalista Cl�udia Collucci publicado nesta Folha na quinta (2/2) acerta no ponto nevr�lgico sobre o tema: atitudes como essa merecem puni��o. Imposs�vel tolerar que pacientes corram o risco de virar motivo de esc�rnio entre m�dicos inescrupulosos.
As dire��es de hospitais e unidades de sa�de precisam ser firmes e punir esse tipo de comportamento anti�tico de forma exemplar, eliminando das institui��es elementos que profanam o princ�pio do sigilo e do respeito devido a qualquer ser humano.
Tamb�m t�m obriga��o de denunciar imediatamente aos conselhos profissionais esses desvios, para a aplica��o de san��es pertinentes.
O juramento de Hip�crates � claro: o m�dico deve guardar absoluto respeito pelo ser humano e atuar sempre em seu benef�cio. Jamais utilizar� seus conhecimentos para causar sofrimento f�sico ou moral, para o exterm�nio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade.
Os cidad�os, quando buscam um servi�o de sa�de, principalmente quando precisam ser internados, seja em enfermaria ou na terapia intensiva, normalmente chegam fragilizados, n�o somente pela doen�a mas tamb�m pelo temor em rela��o ao que os espera.
Hospital, receio da dor e do imponder�vel, medica��es desconhecidas, dor imposta por exames invasivos, cirurgias, agulhas, tubos e sondas s�o possibilidades tenebrosas que ningu�m em s� consci�ncia aceita calidamente.
As incertezas s�o muitas na fase de hospitaliza��o; por isso a atitude dos profissionais de sa�de tem o papel de resgatar a vida e dar dignidade � exist�ncia.
� urgente que os gestores da �rea da sa�de p�blica ou privada desenvolvam estrat�gias robustas para envolver os m�dicos n�o somente nas pol�ticas internas de humaniza��o das institui��es mas tamb�m no respeito �tico para com seus pacientes. A dignidade humana deve ser inviol�vel.
ROBERTO KALIL FILHO, cardiologista, � professor titular da Faculdade de Medicina da USP e diretor de cardiologia do Hospital S�rio Liban�s
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