Luciano Suassuna: Deve-se pagar para ler not�cias na internet?
A internet depreciou a publicidade ao mesmo tempo em que ofereceu informa��o de gra�a, comprometendo o modelo de neg�cio que durante mais de um s�culo sustentou a ind�stria da comunica��o.
A tr�ade que financia as reda��es (informa��o original, circula��o paga e publicidade) perdeu valor no papel, mas tampouco alcan�ou seu ponto de equil�brio na rede.
Se, na divis�o do bolo publicit�rio, os jornais tivessem a mesma fatia de dez anos atr�s, eles encerrariam 2013 faturando o dobro.
Esse dinheiro n�o apenas mudou de plataforma, como foi pulverizado na abund�ncia de p�ginas, ferramentas e conte�dos da rede. Cria��o e replica��o s�o pagas como se iguais fossem. Para atingir a mesma quantidade de leitores, um anunciante pode desembolsar, no digital, de 5% a 20% do que gastaria em jornais e revistas. Ao pre�o atual, a coluna pol�tica de maior audi�ncia n�o tem cliques suficientes para pagar um �nico rep�rter.
A conclus�o � evidente: num prazo curto, as empresas jornal�sticas correm o risco de ter comprometida sua viabilidade financeira e, sem ela, vai-se parte fundamental da imprensa como c�o de guarda da sociedade. � por isso que a discuss�o sobre o futuro das reda��es precisa ser institucional. Comprometer a vigil�ncia independente sobre governos e empresas � aceitar o enfraquecimento da democracia.
Muitos dir�o que, no universo digital, existe um jornalismo cidad�o capaz de suprir esse papel. � verdade que a M�dia Ninja e outras iniciativas ocupam um espa�o novo. Mas a for�a dos grandes t�tulos, com sua cultura de t�cnica jornal�stica, sua alavanca de repercuss�o e seu respaldo jur�dico, � um valor das democracias e, como tal, n�o deveria se perder na transi��o para o digital.
O Brasil tem mais de 100 milh�es de usu�rios de banda larga e estima-se que mais de 20% deles acessam not�cias mais de uma vez por dia. A esmagadora maioria visita um site ou blog jornal�stico a cada tr�s dias e a quase totalidade l� ao menos uma not�cia por m�s. Como seria poss�vel remunerar quem produz esse conte�do?
Para fins da publicidade, especialmente a oficial, uma caracteriza��o legal da produ��o nacional de conte�do ajudaria a promover a separa��o entre quem produz e quem replica, entre reportagem e outros conte�dos (como letra de m�sica ou fotos dos amigos), entre jornalismo e ferramentas. Mas o principal debate � saber se a sociedade acredita no valor democr�tico de uma imprensa livre a ponto de financi�-la.
Herman Tacasey | ||
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Apenas como exerc�cio matem�tico: por R$ 3 mensais, o pre�o de um exemplar de jornal, seria poss�vel criar, a partir de microassinaturas de usu�rios de banda larga e planos de dados, um fundo compar�vel ao investimento publicit�rio no meio jornal. Esse fundo teria de ser gerido por um �rg�o de autorregulamenta��o, nos moldes do Conar.
Ele deveria contratar uma empresa independente de auditoria para definir a distribui��o da receita. A divis�o precisaria levar em conta a audi�ncia, o volume de produ��o e a relev�ncia jornal�stica. Os pesos e os conte�dos dessas categorias seriam definidos pelo �rg�o.
O fundo teria de ser tempor�rio e limitado ao financiamento do investimento na transi��o para o jornalismo digital. E estaria aberto n�o apenas aos t�tulos oriundos do papel, mas tamb�m aos ve�culos criados no ambiente digital.
As empresas tradicionais recuperariam a previsibilidade de receitas, os novos protagonistas do digital reduziriam a depend�ncia de investidores e patroc�nios. Haveria incentivo � competi��o, j� que mais audi�ncia e relev�ncia resultariam em parcelas maiores de receita na reparti��o do fundo. Na briga pela audi�ncia, seria razo�vel esperar uma mudan�a na linguagem jornal�stica, com mais v�deos e infogr�ficos e solu��es que contemplem a leitura em smartphones. Essa estrutura manteria a independ�ncia das publica��es e fortaleceria a diversifica��o de enfoques e temas.
Com mais atores e mais competi��o, a sociedade ganha em vigil�ncia e a democracia se revigora. Vale a pena pagar por isso?
LUCIANO SUASSUNA, 49, � jornalista, vencedor de dois pr�mios Esso e um Jabuti
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