"Sejam gentis comigo, por favor," George Santos implorava a um grupo de repórteres meio bêbados, meio entediados. "Eu vesti meus sapatos brilhantes!".
Ele estava ao lado de um piano de cauda, usando tênis Ferragamo, em um pequeno bar no centro de Manhattan, em Nova York, nos Estados Unidos, na noite de segunda-feira (16).
Uma mistura de jornalistas de tabloides, influenciadores e republicanos de baixo escalão apareceu lá para uma festa que ele estava organizando. Era para brindar o lançamento de seu podcast, com um título excessivamente tolo: "Pants on Fire With George Santos" (calças pegando fogo com George Santos, em tradução livre).
Você se lembra de George Santos, filho de brasileiros, certo?
Foi por volta desta época no ano passado que sua breve carreira como congressista por Nova York —um jovem, gay, latino e republicano— desmoronou, após ele ser exposto como um mentiroso de proporções épicas, quase literárias. Ele mentiu sobre coisas grandes e pequenas, estúpidas e sérias.
Havia mentiras sobre dinheiro, emprego, diplomas universitários e se montar como drag queen. Mentiras sobre ancestralidade judaica, 11 de Setembro, um ataque a tiros em uma boate gay, uma produção da Broadway de "Homem-Aranha" e uma instituição de caridade para animais. Ele mentiu sobre vôlei.
Foi uma história realmente incrível, uma farsa sobre verdade e desfaçatez e os limites da baboseira partidária na vida e na política americana na era pós-Donald Trump (como se acreditava na época).
Editores de jornais designaram equipes inteiras de reportagem para cobrir a vida dele e suas polêmicas. Jornalistas de revistas de renome e âncoras de televisão imploraram por entrevistas e acesso. O frenesi midiático atingiu um ponto tão alto que Santos foi comparado, de forma irônica, à princesa Diana em muitos memes virais. O programa de humor Saturday Night Live até fez uma piada sobre isso. E então, finalmente, ele foi expulso do Congresso. O desaparecimento aconteceu rápido, como sempre acontece.
E lá estava ele, um ano depois, em um pequeno bar perto da Times Square, apenas tentando conseguir um pouco de atenção como nos velhos tempos.
"Acho que a última vez que vimos um frenesi midiático internacional assim foi com Lady Di," ele disse. "Não estou me comparando à princesa Diana. Só estou dizendo a verdade."
Mas, como a cantora britânica Holly Golightly disse, há certos tons de holofote que podem arruinar a tez de uma garota. "Bem, se você souber como sair do holofote de uma maneira que possa capitalizar isso," afirmou o ex-congressista, apontando para um anúncio de seu podcast que havia sido erguido dentro do bar.
Em agosto, Santos, 36, declarou-se culpado de fraude eletrônica e roubo de identidade e admitiu vários outros esquemas. "Permiti que minha ambição nublasse meu julgamento," ele disse ao juiz naquele dia.
Sua sentença está marcada para 7 de fevereiro, e a maioria de seus convidados na segunda disse acreditar que ele vá ser preso, embora ninguém parecesse ter certeza sobre quanto tempo (o tempo mínimo de pena deve ser de dois anos).
Questionado se estava nervoso com a possibilidade de ir para a prisão, ele disse: "Claro que estou nervoso. É algo sério. Não quero ir para a prisão. Tenho muito a esperar, então é algo definitivamente estressante."
Uma de suas primeiras amigas na mídia foi uma jornalista chamada Skye Ostreicher, que o conheceu quando estava cobrindo política local. Ela estava na festa e afirmou que definitivamente visitaria seu amigo na prisão. "Eu disse a ele que levaria delineador ou qualquer produto de beleza que ele queira que eu contrabandeie para ele," declarou, rindo.
Também estava lá um jovem que Santos apresentou como seu marido há três anos. "Meu marido fictício," disse ironicamente. "Lembra, ninguém acreditava que ele existia?" Santos parecia ainda estar magoado com certos aspectos da cobertura jornalística em torno dele. Foi capaz de citar frases específicas de artigos de revistas de um ano atrás das quais ele não gostou à época.
Pelo menos três repórteres do New York Post estavam lá, assim como um escritor chamado Zak Stone, que foi enviado pela revista Butt, uma publicação gay bianual impressa em papel rosa. Vestindo um suéter Balenciaga e calças pretas folgadas, Stone parecia um pouco deslocado entre o grupo desalinhado dos repórteres de tabloides. "Eu ouvi o primeiro episódio do podcast; foi OK," ele disse. "Estou curioso para saber como eles vão continuar com isso se ele estiver na cadeia."
No bar, Santos disse que seu convidado dos sonhos para o podcast seria Donald Trump. Mas então ele parou e pensou por um momento. "Tudo bem, sabe de uma coisa? Deixe-me te dar algo melhor que isso," afirmou. "Eu quero entrevistar Gisele Bündchen."
Um jovem sentou-se ao piano e começou a tocar "Linus and Lucy" de "Um Natal do Charlie Brown", enquanto Santos se movimentava pela sala, parando para conversar com cada convidado. Tudo vagamente tinha a atmosfera de uma festa de despedida.
Ele sente falta de toda a atenção que comandava antes? "Não é que eu gostasse da atenção," declarou. "Eu entendia a atenção. E tentei fazer o melhor que pude com isso."
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