Reunião do Comitê de Ética termina sem acordo sobre indicado de Trump e mantém Gaetz na berlinda

Senadores debatem se divulgam relatório contra escolhido para Departamento de Justiça; outros três nomeados enfrentam resistência

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Washington

O Comitê de Ética da Câmara dos Estados Unidos reuniu-se nesta quarta-feira (20), mas terminou sem acordo sobre a decisão de divulgar ou não o relatório sobre o suposto caso de má conduta sexual cometido por Matt Gaetz, apontado por Donald Trump para comandar o Departamento de Justiça.

O agora ex-deputado republicano da Flórida é uma das indicações do presidente eleito que estão na berlinda no Legislativo, com risco de ser rejeitado pelo Senado.

Além dele, sofrem resistências na Casa os nomes de Pete Hegseth, ex-apresentador da Fox News, escolhido para ser secretário de Defesa, Robert Kennedy Jr., antivacina indicado para o cargo equivalente ao Ministério da Saúde, e Tulsi Gabbard, ex-democrata indicada para comandar a Inteligência Nacional.

O ex-deputado Matt Gaetz, indicado por Donald Trump para comandar o Departamento de Justiça. - CHIP SOMODEVILLA/Getty Images via AFP

Gaetz renunciou à sua cadeira na Câmara dias antes de o Comitê de Ética decidir sobre divulgar o relatório de uma investigação, iniciada em 2021, sobre relatos de uma mulher que diz ter tido relações sexuais com ele quando tinha 17 anos, e a respeito do uso de drogas.

De um lado, democratas estão pressionando pela liberação do material, que pode complicar ainda mais a vida do ex-parlamentar. Do outro, republicanos na Câmara atuam para manter o sigilo das informações e evitar ainda mais ruídos em torno da nomeação de Trump.

Nesse sentido, o presidente da Câmara, Mike Johnson, chegou a dizer na semana passada que divulgar o relatório seria uma "terrível violação de protocolo" por se tratar de um deputado que já renunciou ao cargo. Ainda assim, senadores, tanto democratas quanto republicanos, querem ter acesso às conclusões do colegiado. Gaetz já classificou a atuação do comitê de um "exercício de vingança político".

A deputada democrata Susan Wild afirmou a jornalistas que nenhum dos cinco republicanos do Comitê de Ética votou para divulgar o relatório, como fizeram os cinco democratas do colegiado. O presidente do órgão, Michael Guest, porém, limitou-se a dizer que não houve um "acordo pelo comitê" sobre divulgar ou não o relatório. A reunião durou cerca de duras horas.

Mesmo que o relatório não seja divulgado, hoje há republicanos que apostam na rejeição do nome. Para ser confirmado, Gaetz precisará passar por sabatina e votação na Comissão de Justiça do Senado. Depois, terá sua indicação votada no plenário da Casa, que precisa de maioria simples dos 100 senadores para aprová-la.

Os republicanos terão 53 cadeiras contra 47 dos democratas no ano que vem. Ainda assim, a indicação de Gaetz chocou inclusive integrantes do partido de Donald Trump. O ex-deputado acumulou desgastes em sua atuação no Congresso.

Nos bastidores, assessores parlamentares reclamam que ele xingou senadores. Por isso, não há certeza que os republicanos darão a totalidade dos votos para aprová-lo. Segundo o jornal The New York Times, o próprio Trump sabe disso, mas tem insistido em manter a nomeação. O presidente eleito tem participado de alguma forma da ofensiva para garantir apoio ao aliado no Senado. Outros republicanos têm atuado também para angariar votos.

Nesta quarta, Gaetz foi ao Congresso acompanhado do vice-presidente eleito, J. D. Vance, para reunião com os parlamentares na tentativa de melhorar o clima.

Enquanto isso, um hacker não identificado obteve acesso a um arquivo de computador compartilhado em um link seguro entre advogados cujos clientes deram depoimentos prejudiciais relacionados a Gaetz. O arquivo de 24 documentos inclui o depoimento juramentado da mulher que disse ter feito sexo com Gaetz quando tinha 17 anos, bem como o depoimento corroborante de uma segunda mulher que disse ter testemunhado o encontro.

Outra reportagem do New York Times afirma que uma investigação federal descobriu uma série de pagamentos realizados por Gaetz e um grupo de amigos a mulheres, entre elas uma adolescente de 17 anos, que participaram de festas sexuais entre 2017 e 2020. Como o Departamento de Justiça não o denunciou formalmente, o documento ficou em segredo, mas está com o Comitê de Ética da Câmara.

Se o indicado por Trump não conseguir reverter as resistências a seu favor, a aposta de alguns analistas políticos é que o presidente eleito retirará a nomeação para evitar uma derrota. Outros avaliam que os senadores contrários a Gaetz também podem evitar contrariar Trump e, por isso, acabar aprovando o indicado.

Robert Shapiro, professor de ciência política da Universidade Columbia, está no primeiro grupo e diz que há tempo para os republicanos trabalharem no Congresso. "Em primeiro lugar, é difícil acreditar que Trump realmente permitiria que um caso de nomeação fosse a voto e fosse rejeitado. Ele montou uma equipe de conselheiros que são muito bons em aritmética. Para eles, realmente seguir adiante com uma nomeação que seria rejeitada seria embaraçoso", avalia.

Para Shapiro, mesmo os senadores republicanos consideram as nomeações de Trump terríveis, e o republicano se arrisca ao fazer indicações de nomes polêmicos. A aprovação ou não de algumas pessoas será o primeiro teste do Partido Republicano no Senado no ano que vem, afirma o professor.

"Trump aqui quer basicamente assumir o controle de sua administração e nomear pessoas de quem ele basicamente obtém garantias de que farão o que ele diz", diz Shapiro. "Mas ele poderia facilmente nomear pessoas competentes para fazer isso, não nomear pessoas que são realmente desqualificadas e também seres humanos desprezíveis."

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