A Polícia Federal vai oferecer treinamento a membros da Polícia Nacional do Haiti, país em crise humanitária e parcialmente controlado por gangues armadas que há dois meses recebeu os primeiros membros de uma missão multinacional de ajuda.
A colaboração foi selada nesta quarta-feira (28) durante visita da chanceler haitiana, Dominique Dupuy, a Brasília, quando esteve com o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski.
Ainda não há data concreta para ter início o treinamento, mas a PF já poderia iniciá-lo no último semestre deste ano.
Interlocutores disseram à Folha que o treinamento será para cerca de 40 policiais haitianos que iriam a Brasília, para a Academia Nacional de Polícia. Outros grupos poderiam vir na sequência. A PF espera que o Haiti indique os membros que irão no primeiro grupo.
Com muitas deserções ao longo dos anos, a Polícia Nacional Haitiana conta com cerca de 10 mil membros. O país não tem Forças Armadas, o que dificulta parte de sua defesa. Porto Príncipe também vê dificuldade para reunir apoio à missão multinacional aprovada no ano passado e apenas recém-iniciada e anseia por mais ajuda da América do Sul.
Até aqui, apenas cerca de 400 policiais do Quênia foram mobilizados para território haitiano. A expectativa do país é reunir mais apoio. O Brasil já descartou desde o início enviar homens para a missão, mas sempre cogitou ofertar o treinamento solicitado pelos haitianos.
A chanceler haitiana também falou sobre temas migratórios com o Ministério da Justiça. Mais de 160 mil haitianos vivem no Brasil, e há um número amplo de pedidos de reunião familiar feitos ao ministério (mais de 40 mil). Neste ano, ao menos 1.800 vistos foram emitidos pela embaixada do Brasil em Porto Príncipe.
A ministra também demonstrou preocupação com uma possível fuga de cérebros, explicando que muitos dos haitianos que emigram ao Brasil são aqueles com maior formação social e maior renda.
O Brasil também espera inaugurar em breve um centro de formação profissional no sul haitiano, no modelo do Senai brasileiro. No ano passado, mais de 60 técnicos haitianos foram ao Sul do Brasil receber formação para poderem atuar como capacitadores da escola.
Por parte de quem vive no Haiti, a chegada dos policiais quenianos trouxe o que um dos interlocutores do Brasil descreve como um clima de "otimismo ingênuo" de que, agora sim, as coisas podem começar a melhorar. O envio dos homens é a conta-gotas. Espera-se que nos próximos meses 2.500 policiais estrangeiros estejam atuando no apoio à Polícia Nacional Haitiana, deficitária e com altas taxas de evasão.
A despeito do otimismo, há também preocupação de que a presença dos policiais, que devem trabalhar na proteção de algumas estruturas importantes, como a de combustível, apenas empurre as gangues armadas para o interior do país, afastando o problema da capital, ou as faça hibernar, mas sem resolver o problema de fato.
Especialistas apontam que a raiz dessa questão está no acesso a armas que têm esses grupos, especialmente a armamentos que saem dos EUA.
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