Zelenski pede que aliados façam mais pela Ucrânia em discurso do Dia D na França

Biden, que fez discurso criticando Trump, encontrou ucraniano e pediu desculpas por demora no envio de armas

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São Paulo

O presidente Volodimir Zelenski pediu nesta sexta-feira (7) que seus aliados "façam mais" pela Ucrânia e pela paz na Europa em um discurso no Parlamento da França. Zelenski está no país para participar das comemorações dos 80 anos do Dia D, o desembarque de tropas aliadas na Normandia que libertou a Europa ocidental dos nazistas.

"Vivemos em uma época em que a Europa já não é um continente de paz" devido à invasão russa contra a Ucrânia, disse Zelenski à Assembleia Nacional. "Putin pode vencer essa batalha? Não, porque não temos direito de perdê-la. A guerra pode acabar com as fronteiras atuais como estão? Não, porque não há fronteira para o mal, seja 80 anos atrás ou agora."

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, com o presidente francês, Emmanuel Macron, durante os eventos de comemoração do Dia D em Saint-Laurent-sur-Mer, na França - Ludovic Marin - 6.jun.24/Reuters

"E se alguém tentar estabelecer fronteiras temporárias, só haverá uma pausa antes da próxima guerra", afirmou Zelenski, em uma fala rejeitando a ideia de que seu país precisa aceitar uma paz enquanto parte do território ainda é ocupado por tropas russas.

O ucraniano, aplaudido várias vezes pelos parlamentares franceses, fez comparações entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder nazista Adolf Hitler. "O que acontece agora é a mesma coisa que aconteceu quando o mal agrediu seus vizinhos há 80 anos. Hitler cruzou linha após linha. Putin faz o mesmo."

Zelenski aproveitou a viagem para se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que também discursou na França pela ocasião dos 80 anos do Dia D. Em uma entrevista coletiva conjunta, Biden se desculpou publicamente com Zelenski pela demora do Congresso americano na aprovação de mais ajuda militar à Ucrânia, e anunciou um novo pacote de US$ 225 milhões em mísseis antiaéreos e outros equipamentos.

Biden discursa durante as comemorações do Dia D em cima de um bunker alemão da época da Segunda Guerra na cidade de Cricqueville-en-Bessin, na França; monumento ao fundo relembra desembarque na Normandia - Saul Loeb - 6.jun.24/AFP

"Você não se curvou, você não cedeu, você continua a lutar de um jeito que é impressionante. Nós não vamos abandoná-lo", disse o presidente americano. "Sinto muito pelas semanas em que não havia certeza [de que a ajuda continuaria]. Alguns membros conservadores do Congresso estavam segurando [o auxílio militar], mas conseguimos resolver, finalmente." Zelenski agradeceu pela ajuda americana.

Além do simbolismo evocado pelos dois líderes de um novo conflito na Europa 80 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, o anúncio do novo pacote de ajuda acontece em um momento em que os EUA e aliados autorizaram o uso de armas entregues por eles contra alvos dentro do território russo —até aqui, esse uso era vetado para evitar uma escalada.

Moscou tem avisado que o envolvimento cada vez maior de países ocidentais no conflito poderia resultar em uma resposta nuclear —a Rússia tem o maior arsenal de bombas atômicas do mundo. Em um evento em São Petersburgo nesta sexta, entretanto, Putin disse que seu país não precisa de armas nucleares para vencer a guerra contra a Ucrânia.

"O uso [de bombas atômicas] só é possível em um caso excepcional: se houver uma ameaça à soberania e à integridade territorial do país. Esse caso não chegou, de forma que o uso dessas armas não é necessário", disse Putin. "Não é necessário também porque nossas Forças Armadas estão avançando, estão ganhando experiência e estão aumentando sua eficiência."

Apesar das falas de Putin, a Rússia considera a Crimeia, anexada em 2014, parte de seu território, e não se sabe como o Kremlin reagiria se estivesse sob ameaça de perder controle da península. Além disso, Moscou anexou quatro regiões da Ucrânia em 2022, uma medida que não foi reconhecida pela comunidade internacional.

Na França, Biden usou a viagem ao exterior, rara para presidentes americanos em ano de eleição, para se dirigir ao público interno e fazer críticas veladas ao candidato republicano à Casa Branca, o ex-presidente Donald Trump.

Em seu discurso em uma das praias onde tropas americanas desembarcaram no Dia D, Biden pediu que o povo americano valorize a democracia e rejeite o isolacionismo promovido por Trump e por parte do partido Republicano, que questionam o envolvimento dos EUA na Guerra da Ucrânia.

"Alguém duvida que os soldados que lutaram aqui há 80 anos iam querer que os EUA resistissem à agressão de Putin hoje?", perguntou Biden, sem nomear Trump em seu discurso. "O instinto natural é o de se afastar, de ser egoísta, de forçar nossa vontade sobre os outros. De tomar o poder e nunca sair de lá."

Volodimir Zelenski também se reuniu com o presidente Emmanuel Macron e agradeceu pelo anúncio de que Paris vai entregar caças Mirage, de fabricação francesa, para a Ucrânia em até um ano. O acordo também prevê o treinamento de pilotos ucranianos na França para usar os aviões de guerra.

Na sexta, depois do encontro, Macron defendeu que a União Europeia abra negociações de adesão da Ucrânia ao bloco até o fim de junho. "A França continuará apoiando a Ucrânia em todas as instâncias, especialmente em nível europeu, para tentar obter o lançamento efetivo das negociações de adesão até o fim do mês", disse o presidente francês.

A iniciativa deve encontrar resistência da Hungria, cujo premiê, Viktor Orbán, é um aliado de Putin.

Macron também defendeu uma "aproximação irreversível" da Ucrânia à Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos EUA. A possibilidade de que Kiev pudesse vir a fazer parte da Otan foi uma das razões mencionadas por Putin para justificar a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.

O premiê do Reino Unido, Rishi Sunak, também esteve na França para as comemorações do Dia D, mas foi criticado por sair mais cedo para voltar à campanha eleitoral em seu país —os britânicos vão às urnas no dia 4 de julho, e pesquisas indicam que o Partido Conservador, liderado por Sunak, deve sofrer um revés histórico para o Partido Trabalhista.

Na sexta, Sunak se desculpou pelo ocorrido. "Foi um erro não ter ficado por mais tempo, mas acho que não é certo politizar a questão no meio das comemorações do Dia D. O foco deve ser nos veteranos."

Com Reuters e AFP

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