Maior ONG de direitos civis dos EUA pressiona Biden a suspender apoio a Israel

NAACP menciona eleitores negros e diz que envio de armas de Washington a Tel Aviv pode custar reeleição ao presidente

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A NAACP, uma das principais associações pela defesa dos direitos civis nos Estados Unidos, pediu nesta quinta-feira (6) ao presidente Joe Biden que suspenda todas as entregas de armas a Israel e pressione o governo Binyamin Netanyahu a encerrar o conflito na Faixa de Gaza. Segundo a organização, o apoio do democrata a Tel Aviv desagrada eleitores negros e pode prejudicá-lo na corrida à Casa Branca.

A NAACP, que defende a justiça racial e os direitos das pessoas negras, disse que os EUA devem usar sua influência junto a Israel para conseguir um cessar-fogo permanente em Gaza. O apelo foi um exemplo raro de uma organização do setor que assumiu um posicionamento sobre a política externa americana.

Biden e Netanyahu sentam-se frente a frente em um ambiente formal, com bandeiras dos Estados Unidos e de Israel ao fundo, simbolizando uma reunião diplomática. Eles parecem estar envolvidos em uma conversa séria, com expressões concentradas e gestos que indicam uma troca de ideias significativa
O presidente Joe Biden (à esq.) conversa com o premiê Binyamin Netanyahu em Tel Aviv - Evelyn Hockstein - 18.out.23/Reuters

"A NAACP pede ao presidente Biden que estabeleça a linha vermelha e encerre indefinidamente o envio de todas as armas e artilharia para o Estado de Israel e outros Estados que fornecem armas para o Hamas e outras organizações terroristas. É imperativo que a violência que ceifou tantas vidas de civis pare imediatamente", disse a organização em declaração enviada à agência de notícias Reuters.

O posicionamento representa um sinal de alerta para o desempenho de Biden entre os eleitores negros no pleito marcado para 5 de novembro. A campanha do democrata não está preocupada com um possível apoio maciço do grupo a Donald Trump, mas sim com o fato de que muitos se abstenham da votação, o que pode fazer diferença em uma disputa acirrada, disseram à Reuters funcionários da campanha.

Pesquisas eleitorais mostram que Trump está na frente de Biden em estados-chave com populações negras expressivas, como Geórgia, Michigan, Wisconsin e Pensilvânia. Ao mesmo tempo, setores historicamente alinhados aos democratas, como a população negra, latina e jovem, vêm manifestando desconfiança e desapontamento com o governo do democrata.

Um levantamento Reuters/Ipsos mostrou que eleitores democratas estão fortemente divididos a respeito da forma como Biden vem lidando com a guerra no Oriente Médio. Outro levantamento, realizado pelo The New York Times e pelo Siena College, aponta que Trump tem o apoio de 20% dos eleitores negros, muito acima dos 12% que ele obteve em 2020.

Não à toa, a campanha democrata tem tentado frisar ações concretas de Biden que teriam favorecido a população negra, como o aumento do acesso a planos de saúde e taxas recordes de emprego.

Em entrevista à Reuters, o presidente da NAACP, Derrick Johnson, disse que o posicionamento da associação sobre a guerra foi motivado, em parte, pela indignação de jovens negros com a devastação na Faixa de Gaza. "Isso está levantando muitas questões sobre por que nossos dólares de impostos estão sendo usados para prejudicar civis", disse ele.

Johnson afirmou que os EUA precisam mostrar liderança moral e parar de enviar armas a Israel por causa das mortes de civis. No comunicado, a NAACP ainda pede a Israel que "se comprometa com uma estratégia ofensiva que esteja alinhada com as leis internacionais e humanitárias". Em relação ao Hamas, o grupo pediu a libertação de reféns e a interrupção de "toda a atividade terrorista".

No mês passado, a CIJ (Corte Internacional de Justiça) determinou que Israel interrompa imediatamente sua ofensiva militar terrestre em Rafah, no sul de Gaza. O tribunal chamou de desastrosa a condução de Tel Aviv sobre a questão humanitária no território palestino e afirmou não estar convencido de que os avisos sobre retirada de civis e outras medidas tomadas pelo país, que enfrenta um crescente isolamento internacional, sejam suficientes para diminuir os danos à população local.

Diante da pressão, Biden suspendeu no mês passado o envio de um carregamento de bombas para evitar seu possível uso no ataque de Israel à cidade de Rafah. Os EUA, porém, continuam sendo o principal fornecedor de ajuda militar às tropas israelenses.

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.