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Macron insta rivais a formar frente contra ultradireita nas eleições legislativas

Presidente da França diz que 'recebeu o recado' dos eleitores após bom desempenho de radicais no pleito do Parlamento Europeu

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Paris | Reuters

O presidente da França, Emmanuel Macron, instou seus rivais à esquerda e à direita a se unirem a ele na construção de uma frente contra a ultradireita nas próximas eleições legislativas.

O chefe do Estado francês havia anunciado a antecipação do pleito no domingo (9), cerca de uma hora depois que as projeções dos resultados da votação para o Parlamento Europeu mostraram que o partido de Marine Le Pen, o Reunião Nacional (RN), conseguiu quase o dobro de votos da legenda macronista.

Esse avanço da ultradireita foi o centro das declarações de Macron em entrevista coletiva nesta quarta-feira (12).

O presidente da França, Emmanuel Macron, em encontro com a imprensa no Pavilhão Cambon Capucines, em Paris - Stephane de Sakutin/AFP

Nelas, Macron afirmou ter um certo nível de responsabilidade pelo resultado e disse que a alta porcentagem de votos na ultradireita era "um fato político que não pode ser ignorado". "Vocês expressaram sua revolta, recado recebido. Mas será que expressar revolta é uma solução para [os problemas do] o dia a dia? Eu digo que não."

Já em clima de campanha, ele criticou tanto a direita quanto a esquerda radical.

A ultradireita, simbolizada pelo RN —que tem entre as suas principais bandeiras o euroceticismo e o combate à imigração— levaria ao empobrecimento da classe trabalhadora e dos aposentados, disse ele.

"Qual é a resposta na prática? Eles não sabem", afirmou, acrescentando que, caso chegasse ao poder, o partido apenas ameaçaria o Estado de Direito francês em vez de resolver as angústias da população.

Já os ultraesquerdistas, segundo ele, teriam inclinações antissemitas e seriam plácidos demais para implementar mudanças.

A solução seria, assim, ter uma postura mais firme em áreas como imigração e segurança, pautas tradicionais da direita. E formar um uma coalizão para governar e "agir a serviço dos franceses e da República", concluiu o presidente, convocando eleitores e líderes políticos que "não se reconhecem como extremistas" a se unir a ele.

Macron ainda usou o encontro com a imprensa para defender sua opção por antecipar as eleições legislativas —segundo ele, uma forma de separar o joio do trigo ao revelar quem só está na política por interesses próprios e quem realmente deseja fortalecer a França. "Não quero abrir a porta para a extrema direita em 2027, então aceito completamente a responsabilidade por ter disparado um movimento para esclarecer essa situação", disse, citando o ano para o qual está previsto a próxima eleição presidencial.

A decisão de dissolver a Assembleia Nacional pegou de surpresa a classe política, que se viu forçada a formar alianças e lançar campanhas não só três meses antes do previsto, como em meio às férias escolares e às vésperas das Olimpíadas de Paris. O primeiro turno das eleições legislativas acontece em 30 de junho, e o segundo, em 7 de julho.

A própria legenda de Macron, Renascimento, parece não ter reagido bem à ideia do líder. Edouard Philippe, ex-primeiro-ministro e potencial candidato da siglno prócimo pleito presidencial, afirmou não ter certeza de que era "inteiramente saudável o presidente conduzir uma campanha legislativa".

Movimentações iniciais dos partidos também são alvos de controvérsia. É o caso de uma sugestão de Eric Ciotti, líder do partido conservador Republicanos, de se aliar com o RN —para ele, um passo necessário para evitar que a esquerda conquiste maioria no Legislativo.

Se adotada, a medida significaria o fim de um consenso de décadas entre as siglas tradicionais francesas de impedir o acesso da ultradireita ao poder.

A ideia foi tão mal recebida pelo restante do Republicanos que seus membros votaram por afastá-lo em uma reunião de emergência nesta quarta. No X, Ciotti negou que deixaria o cargo, e argumentou que a votação foi nula por não ter seguido os devidos protocolos. "Eu sou e continuo o presidente do nosso partido político, eleito pelos seus membros!", escreveu.

Macron, por sua vez, comparou a proposta a "um acordo com o Diabo" e afirmou que "a máscara caiu" para as legendas que agora buscam formar "alianças antinaturais", nas suas palavras.

De acordo com um levantamento desta semana, as eleições devem dar ao RN uma votação avassaladora, mas é provável que o partido de Le Pen não conquiste maioria absoluta no Parlamento.

Mesmo que isso aconteça, Macron continuaria na Presidência por mais três anos e seguiria no comando das estratégias de defesa e da política externa. Perderia, no entanto, o controle sobre a agenda doméstica, que abrange áreas como política econômica, finanças, migração e segurança. Na entrevista coletiva, Macron reiterou que não renunciará ao comando do Executivo caso sua legenda perca o pleito.

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