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David Wiswell

Candidatura de Trump pode sobreviver à sua própria estratégia?

Surpreendente eficácia do republicano em cultivar movimento negacionista eleitoral pode custar a própria crença no voto

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David Wiswell

Escritor e comediante americano

Donald Trump atrai uma população de extrema direita, que, de forma bem ampla, pode ser dividida em dois grupos: a classe trabalhadora que se sente irritada e desfavorecida pelo sistema e grandes corporações que querem usar Trump para limitar a intervenção do governo e melhor desfavorecer o primeiro grupo.

Nenhum dos grupos se incomoda com o fato de que a incapacidade de Trump de trabalhar dentro do sistema resultou em um número muito baixo de realizações legislativas durante seu mandato presidencial, porque nenhum deles gosta do governo. Logo, um presidente ineficaz é o presidente perfeito.

O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - Carlos Barria - 6.jun.24/Reuters

Eles poderiam muito bem votar em um saco de areia ou em um balde de frango frito (o próprio Trump talvez votasse no frango). Na realidade, Trump forma sua popularidade explorando a ideia de que o sistema seja extremamente corrupto e que ele é o único que pode salvá-lo. O problema que ele pode criar para si mesmo é que ele pode fazer seu trabalho bem demais. A narrativa eleitoral negacionista de Trump foi poderosa em termos de revitalizar seu apoio que havia diminuído e transformar falhas em vitórias, mas será que isso vai corroer sua contagem de votos no dia da eleição?

Nas eleições de meio de mandato de 2022, houve grande preocupação de que uma faixa de candidatos leais a Trump e negacionistas das eleições pudesse ser eleita para várias posições. No entanto, apesar do vasto apoio de que desfrutavam, eles perderam muito mais do que o esperado. Por quê? Bem, talvez em parte, se você convencer as pessoas de que o voto delas não importa... elas podem ouvir. Em uma eleição tão apertada, isso facilmente poderia custar a eleição para Trump.

O mais importante dessas perdas de 2022 foram os cargos estaduais de secretário de Estado, pois apenas quatro de doze negacionistas venceram. Isso é particularmente importante porque, na maioria dos estados americanos, essa função é responsável por supervisionar as eleições locais, e os estados onde os negacionistas venceram quase certamente já iriam para Trump.

Notoriamente, em 2020, o secretário de Estado da Geórgia —que não era negacionista, mas era republicano— foi chamado e intimidado por Trump em um telefonema para "achar os votos" para vencer a eleição, dizendo que isso seria bom para seu partido.

Se Trump tivesse sido bem-sucedido, ele poderia ter roubado a eleição, e um negacionista naquela posição poderia ter tornado isso possível. A ironia de que você pode não ter conseguido emplacar um funcionário governamental corrupto para ajudá-lo a fraudar uma eleição porque você convenceu de forma muito convincente sua base eleitoral de que a eleição estava sendo manipulada por funcionários governamentais corruptos é incrível! É como uma "inception política". A estratégia política de Trump parece uma pintura de MC Escher desenhada com ketchup.

Recentemente, Trump usou sua influência sobre o Comitê Nacional Republicano (RNC, na sigla em inglês) para destituir sua presidente e colocar no lugar alguém totalmente imparcial... sua nora. Desde então, ela veio a público com acusações infundadas de fraude eleitoral, como votos de mortos e não cidadãos americanos em 2020. Também foi divulgada há pouco tempo pela imprensa uma prática padrão de contratação do RNC de perguntar se os candidatos acreditam que a eleição de 2020 tenha sido roubada.

Como sua função é principalmente estratégia eleitoral, isso pode soar assim: "Você acredita que o que fazemos aqui seja inútil?" "Sim." "Você é perfeito!"

A surpreendente eficácia de Trump no feito incrível de cultivar um movimento negacionista eleitoral quase sectário ao seu redor beneficiou-o financeiramente, demagogicamente e em seu domínio sobre seu partido, mas também pode ter custado a ele importantes funcionários estaduais e a própria crença no voto que pode fazê-lo perder a eleição. Acho profundamente irônico que um candidato que se especializa em ineficácia de extrema direita possa perder porque foi realmente capaz de realizar algo. O que só significaria uma coisa: Vote saco de areia em 2028!

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