Turbulências se tornarão mais frequentes devido à crise climática, diz estudo

Especialistas alertam que fenômeno não é razão para pânico; o mais importante é usar cinto de segurança

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São Paulo

Cientistas indicam que alguns tipos de turbulência aérea devem se tornar mais comuns à medida que as mudanças climáticas se aprofundam, uma vez que o fenômeno é altamente influenciado pela temperatura global.

O especialista em aviação civil Adalberto Febeliano compara o que está acontecendo com a Terra sob aquecimento global ao ato de se pôr a água para ferver. Na ação, o fogo esquenta a água, e a água esquenta o ar acima dela.

O mesmo se dá com o solo que, com o aumento da temperatura decorrente das elevadas concentrações de gases causadores do efeito estufa, faz aumentar a temperatura da camada de ar acima dele. E as turbulências aéreas nada mais são do que o impacto de movimentações atmosféricas provocada s por variações de temperatura e pressão ou deslocamento de massas de ar sobre os aviões.

Aeronave da Singapore Airlines no Aeroporto Internacional de Suvarnabhumi, na Tailândia, após pouso de emergência - Pongsakornr Rodphai/via Reuters

Um dos tipos de turbulência que já vem se tornando mais comum em razão das mudanças climáticas é a de céu claro, considerada mais perigosa justamente por não ser facilmente detectada por radares.

Uma pesquisa publicada na revista Geophysical Research Letters no ano passado afirma que, de 1979 a 2020, a incidência de turbulências de céu claro graves aumentou em 55% nas rotas sobre o Atlântico Norte, e em 41% nas rotas sobre o território dos Estados Unidos.

Os autores escrevem que, apesar de as porcentagens variarem de um ano para o outro, "há uma tendência clara de aumento a longo prazo". "Encontramos aumentos semelhantes em outras rotas de voo movimentadas sobre a Europa, o Oriente Médio e o Atlântico Sul", prosseguem em um texto sobre a pesquisa publicado no The Conversation, portal dedicado à divulgação científica.

Mauricio Pontes, investigador de acidentes aeronáuticos e especialista em gestão de crises da consultoria C5I, diz que, apesar de a pesquisa não analisar outros tipos de turbulência, é possível depreender que alguns deles também se tornarão mais constantes, como aqueles causados por tempestades.

"Estamos tendo fenômenos meteorológicos superlativos, as tempestades estão se tornando mais frequentes por causa do aumento da temperatura", afirma Pontes. "O aquecimento global afeta a vida de diversas formas. Não seria diferente no ambiente aéreo."

Ambos os especialistas alertam, porém, que a expectativa de um aumento na incidência de turbulências não é razão para pânico.

Os aviões são desenhados para enfrentar esse tipo de fenômeno que, por ocorrer em altas altitudes, não implica risco de colisão da aeronave com outras construções. O único perigo é que os passageiros ou membros da tripulação se machuquem com o chacoalhar da aeronave. Por isso, é fundamental que usem o cinto de segurança sempre que estiverem em seus assentos.

Interior de avião da Singapore Airline após pouso de emergência em Bancoc - Reuters

Uma forte turbulência durante um voo da Singapore Airlines provocou um acidente que terminou com a morte de pelo menos um passageiro nesta terça-feira (21).

O avião, que tinha saído de Londres na segunda-feira (20) e se dirigia a Singapura, teve que fazer um pouso de emergência em Bancoc sob a justificativa de uma "emergência médica".

De acordo com a imprensa tailandesa, mais de dez ambulâncias foram mobilizadas no aeroporto, e entre 30 e 70 pessoas, aproximadamente, foram encaminhadas ao hospital.

O passageiro morto era Geoffrey Kitchen, 73, um britânico aposentado que de acordo com vizinhos, viajava com a mulher para a Austrália. O gerente geral do Aeroporto Internacional de Suvarnabhumi, na capital da Tailândia, Kittipong Kittikachorn, afirmou que ele provavelmente morreu devido a um ataque cardíaco.

A causa da turbulência ainda não foi esclarecida. Dados de satélite sugerem, no entanto, que tempestades estavam se formando tanto no trajeto percorrido pelo avião quanto na área para a qual ele se dirigia antes do pouso de emergência, a costa de Mianmar.

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