Descrição de chapéu guerra israel-hamas França

Nunca vi algo assim, diz aluno brasileiro sobre ação da polícia na Sciences Po

Estudante afirma que operação afrontou liberdade de expressão e que manifestações não vão parar na França

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São Paulo

A polícia de Paris entrou na sexta-feira (3) na Sciences Po, uma das mais prestigiosas universidades da França, e desocupou prédios então tomados por estudantes que protestavam contra a guerra Israel-Hamas.

À Folha o brasileiro Eduardo Cury, 22, mestrando em ciência política na instituição e que estava nos protestos e acampamentos, disse que a ação não tem precedentes e afronta o direito à manifestação e a liberdade de expressão.

Ele reiterou a posição dos estudantes pelo fim do conflito e contra as mortes de civis palestinos. Disse que os protestos nas universidades e em Paris continuarão enquanto não houver uma posição contundente de Emmanuel Macron sobre o assunto e um cessar-fogo.

Manifestantes pró-Palestina são cercados por policiais em evacuação de prédio da Sciences Po, em Paris
Manifestantes pró-Palestina são cercados por policiais em evacuação de prédio da Sciences Po, em Paris - Miguel Medina - 3.mai.24/AFP

"Foi uma coisa sem precedentes. Na semana passada, a polícia desmontou o acampamento de gente, desfez barracas dentro da Sciences Po, arrastou as pessoas pelo chão e as tirou de lá, nunca vi algo assim", afirmou Cury.

Ele declarou haver apoio de alguns professores às ações nos centros de ensino, citando carta de Fariba Adelkhah, docente de origem iraniana da Sciences Po e presa no país por quatro anos por criticar o regime, em apoio aos bloqueios.

Na Europa, os alunos da Sciences Po são os mais engajados nas manifestações questionando Israel. Fora de Paris, os campi da instituição em Le Havre, Poitiers e Dijon também foram bloqueados na sexta, assim como a biblioteca de sua unidade em Reims. Outros dois centros de ensino superior, em Lille e em Lyon, também foram palcos de protestos.

Cury afirmou que, para além do fim da guerra na região, os movimentos pedem ações para evitar a perseguição de estudantes palestinos e a suspensão de vínculos da universidade com instituições israelenses, como ocorreu em 2022 quando a Rússia invadiu a Ucrânia e todas as ligações com faculdades e centros de pesquisa russos foram cortadas.

Ele refutou ainda as classificações de antissemitismo feitas pelos críticos e disse ver os protestos como uma forma de mostrar identificação com a causa palestina e sua revolta com as mortes decorrentes da ofensiva militar israelense.

"O direito à manifestação é fundamental na democracia francesa, até uma questão de identidade nacional. E a polícia está sendo absolutamente brutal em relação a isso. Semana passada teve um protesto pró-Palestina, e a polícia simplesmente não deixa você chegar perto, fala que é proibido o agrupamento de pessoas."

Os protestos franceses, entretanto, não têm resultado em confrontos entre forças de segurança e alunos, ao contrário do que ocorreu em parte dos campi nos Estados Unidos. Na sexta, por exemplo, a polícia francesa entrou nos prédios ocupados e retirou, sem sinais de violência, muitos dos cerca de 70 manifestantes que estavam ali, segundo a agência Reuters.

O movimento, porém, dá sinais de espalhamento, como no Reino Unido, em universidades em Manchester, Sheffield, Bristol e Newcastle, e no México, onde dezenas de estudantes acamparam na maior instituição de ensino superior do país, a Unam (Universidade Nacional Autônoma do México), em protesto contra a ofensiva militar de Israel.

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