Novo míssil nuclear de submarinos da Rússia entra em serviço

Anúncio ocorre em meio a tensões com o Ocidente; modelo já sofreu recall antes

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São Paulo

Uma semana depois de o presidente Vladimir Putin ameaçar o Ocidente com uma guerra nuclear devido ao conflito de interesses em torno da invasão da Ucrânia, a Rússia anunciou que, enfim, conseguiu colocar em serviço o RSM-56 Bulava.

Trata-se do novo míssil balístico intercontinental lançado por submarinos, conhecido pela sigla inglesa SLBM, uma das armas mais terríveis já concebidas pelo homem.

Mais recente teste conhecido do míssil Bulava, lançado do submarino Imperador Alexandre 3º no Ártico, em novembro
Mais recente teste conhecido do míssil Bulava, lançado do submarino Imperador Alexandre 3º no Ártico, em novembro - Ministério da Defesa da Rússia - 5.nov.2023/Reuters

O Ministério da Defesa russo apenas informou que o modelo está operacional, após uma longa e atribulada história de desenvolvimento que incluiu um recall vexatório, após ter sido anunciado em uso em 2013.

Putin tem usado a carta nuclear desde que invadiu o vizinho, em 2022, e recentemente voltou a sugerir que o apoio ocidental a Kiev pode levar a um conflito atômico. Com russos e americanos dividindo 90% do arsenal global de 12.500 armas, o prognóstico caso a retórica vire realidade é sombrio.

Na prática, ele quer coibir a entrega de armas mais sofisticadas aos ucranianos, o que tem conseguido em grande medida. A situação se agravou depois que o Reino Unido sugeriu que seus mísseis de cruzeiro poderiam ser usados por Kiev contra alvos na Rússia, enquanto a França disse que poderia enviar tropas à Ucrânia.

Putin respondeu com ameaça e o anúncio de um exercício nuclear tático, que emprega armas de forma a atingir alvos militares limitados, em oposição às forças estratégicas, que visam ganhar guerras.

O Bulava (maça, a arma medieval, em russo) é um míssil estratégico de última geração e, segundo especialistas, tem uma capacidade de manobra em sua fase de ataque terminal superior a outros modelos russos e ocidentais, o que o torna ainda mais difícil de ser interceptado.

Não que seja simples derrubar múltiplas ogivas nucleares voando no início do espaço para descer a velocidades talvez 20 vezes maiores que a do som. Os Estados Unidos têm apenas 44 mísseis de interceptação no seu inventário, e a taxa de sucesso em testes deles é baixa, na casa dos 50%, tornando o sistema apenas figurativo —um ataque atômico real pode envolver centenas de armas.

Mísseis que partem de submarinos são considerados uma arma mortífera pois podem ser lançados de pontos próximos da costa do inimigo. Durante a Guerra Fria, o cálculo básico americano é que um ICBM, a versão lançada de terra dessas armas, demoraria cerca de meia hora para chegar da União Soviética aos EUA.

Já um SLBM, que tem alcance um pouco inferior, demoraria 14 minutos para chegar aos alvos, considerando a área usual de operação dos submarinos soviéticos. Assim, são ideais para um primeiro ataque surpresa ou, como preconiza a doutrina de seu emprego, a arma que garantirá uma retaliação em caso de o inimigo lançar uma salva nuclear.

Hoje, a Rússia opera 12 embarcações de propulsão nuclear aptas a lançar mísseis balísticos. Dessas, 7 são da classe Borei (alusão a Bóreas, o deus grego do vento gélido do norte), a mais moderna, desenvolvida após o colapso do império comunista, em 1991. Para ela foi criado o Bulava, um trabalho que começou em 1998.

Os primeiros testes em solo foram em 2004, com um grande índice de falhas. Os dados são secretos, mas de todo modo em 2013 o agora futuro ex-ministro da Defesa Serguei Choigu fez fanfarra para anunciar a entrada em operação do armamento.

Na realidade, eles seguiram sendo testados, e novos problemas fizeram o governo da Rússia obrigar um recall do míssil, derrubando a direção do instituto que o produziu no processo. A requalificação do Bulava durou uma década, e um teste bem-sucedido em novembro passado parece ter selado sua sorte.

O míssil de 12 metros de comprimento e 37 toneladas pode levar seis ogivas nucleares, cada uma com até 150 quilotons, segundo a referencial Federação dos Cientistas Americanos. Seu alcance é estimado em 8.000 km.

Ele tem três estágios, os dois primeiros de combustível sólido para garantir potência máxima e o último, com reserva líquida para as ditas manobras suborbitais. É lançado debaixo d'água, impulsionado para a superfície por gases em alta pressão injetados em seu tubo de lançamento.

Cada Borei pode levar até 16 mísseis, ou uma carga total de 14,4 megatons, equivalentes a quase mil bombas iguais à que obliterou a cidade japonesa de Hiroshima no primeiro ataque atômico do mundo, feito pelos americanos em 1945.

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