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Ignazio Cassis

Juntem-se a nós em busca da paz na Ucrânia

Como Estado neutro com tradição humanitária e diplomática, a Suíça sempre foi capaz de ouvir e promover o diálogo; por isso, sediaremos a conferência que debaterá saídas para o conflito

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Ignazio Cassis

Ministro de Assuntos Exteriores da Suíça

A guerra está em curso na Ucrânia há quase 28 meses. Por cerca de 840 dias, milhares de pessoas morreram, famílias inteiras foram forçadas a deixar suas casas e seu país. Desde 24 de fevereiro de 2022, com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, os princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas foram desrespeitados.

O conflito ucraniano não se restringe apenas à Rússia e à Ucrânia. Ele se espalhou para muito além do continente europeu, acendendo um pavio diante de um barril de pólvora capaz de impactar o mundo inteiro. Seja um ataque à soberania territorial, uma ameaça nuclear, uma escassez de alimentos, um impedimento à liberdade de navegação ou uma violação do direito humanitário internacional: os perigos são os mesmos em qualquer lugar do planeta. Como "povo das Nações Unidas", não podemos ficar de braços cruzados.

O ministro de Assuntos Exteriores da Suíça, Ignazio Cassis, discursa no plenário da ONU durante sessão sobre os dois anos da Guerra da Ucrânia - Mike Segar - 23.fev.24/Reuters

Mas como proceder, quando os conflitos culturais e os bloqueios nas instituições internacionais proporcionam um espetáculo preocupante? Estou convencido de que, juntos, além de nossas diferenças, podemos encontrar a vontade política necessária, aproveitando o alicerce da humanidade comum que compartilhamos.

A cultura da Suíça é a do diálogo. Para aqueles que nos chamarão de ingênuos, gostaria de lembrar que meu país é formado por quatro culturas e quatro idiomas oficiais, e que nossa capacidade de falar juntos é a base de nossa unidade na diversidade. Sem diálogo, a Suíça não existiria. Mesmo quando as vozes são silenciadas e as armas tomam seu lugar, acreditamos que o diálogo tem seu lugar.

Em um momento em que os princípios sobre os quais construímos nossa ordem internacional —como a Carta das Nações Unidas e as Convenções de Genebra— estão sendo desrespeitados, como ministro das Relações Exteriores da Suíça, estou convencido de que devemos colocar essa arte do diálogo a serviço da paz mundial. É por isso que meu país, a pedido do presidente Volodimir Zelenski, assumiu suas responsabilidades e organizará a primeira Conferência de Alto Nível para a Paz na Ucrânia nos dias 15 e 16 de junho.

Embora seja muito cedo para estabelecer a paz, já é hora de se preparar para ela. Esta conferência, portanto, tem como objetivo estabelecer um quadro comum e medidas concretas para um futuro processo de paz. Em termos concretos, estamos prontos para conduzir um diálogo corajoso e necessário, para analisar todos os pontos de vista sobre o conflito ucraniano, tendo como quadro comum o respeito ao direito internacional.

- Em primeiro lugar, queremos estabelecer um entendimento mútuo entre o maior número possível de Estados sobre uma paz global, justa e sustentável na Ucrânia. As discussões se concentrarão especialmente nos vários planos de paz já propostos.

- Em segundo lugar, essa plataforma de intercâmbio se concentrará em assuntos de interesse global (mencionados acima), como segurança nuclear, segurança alimentar e liberdade de navegação, além de aspectos humanitários, incluindo trocas de prisioneiros.

- Por fim, essa iniciativa para encerrar a guerra na Ucrânia só poderá ser seguida de ações concretas e eficazes se houver uma discussão no mais alto nível político sobre como a Rússia pode se engajar nesse processo.

Como um Estado neutro com uma tradição humanitária e diplomática, a Suíça sempre foi capaz de ouvir e entender os diferentes interesses em questão. Na estrada para a paz, não podemos chegar a lugar algum sozinhos. Juntos, por outro lado, podemos percorrer um longo caminho, mas temos que seguir na mesma direção. Para isso, precisamos reunir nossos pontos fortes, nossas ideias e nossas visões de mundo, por mais diferentes que sejam.

O Brasil, que em 2024 preside o G20 e o Brics no ano que vem, desempenha um papel global relevante, inclusive em relação à paz e à segurança. Em uma situação mundial fragmentada e nessa fase de preparação de futuros diálogos de paz, a capacidade do Brasil de construir pontes entre os diferentes atores é um elemento particularmente apreciado. Além das históricas relações de amizade, nossos dois países têm uma forte tradição de cooperação no campo multilateral e humanitário, na promoção da paz e na proteção dos mais vulneráveis. A Conferência de Alto Nível para a Paz na Ucrânia e a busca de soluções e diálogo no conflito na Ucrânia representam uma oportunidade para reforçar ainda mais nosso engajamento comum em prol da paz.

Essas não são apenas palavras bonitas: são palavras que acreditamos serem justas para iniciar este diálogo essencial no meio das montanhas, na ocasião da Conferência para a Paz na Ucrânia. É preciso energia e convicção para transcender nossas divisões e traçar um caminho em direção à paz. Mas isso também exige um certo esforço, principalmente o de escalar uma montanha suíça para se sentar à mesma mesa.

Conto com sua participação. Join us at the table!

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