Descrição de chapéu Governo Milei Argentina

Chefe de gabinete de Javier Milei renuncia na Argentina após dias de especulação

Nicolás Posse era visto como figura inexpressiva no governo, e Casa Rosada fala em diferenças de critérios e expectativas

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Buenos Aires

Após dias de especulação sobre conflitos internos, o chefe de gabinete do governo de Javier Milei na Argentina, Nicolás Posse, renunciou ao cargo na noite de segunda-feira (27). Sua principal função era coordenar os trabalhos em conjunto dos ministérios.

Em comunicado, a Casa Rosada disse brevemente que a saída de Posse se deu por "diferenças de critérios e expectativas na condução do governo e das tarefas a ele encomendadas".

Nos corredores de outros ministérios, ele era visto como uma figura inexpressiva. Nas palavras de alguns interlocutores, alguém cuja voz raramente se fazia ouvir em qualquer reunião importante.

Nicolás Posse, agora ex-chefe de gabinete do governo de Javier Milei, na Catedral Metropolitana de Buenos Aires
Nicolás Posse, agora ex-chefe de gabinete do governo de Javier Milei, na Catedral Metropolitana de Buenos Aires - Agustin Marcarian - 25.mai.24/Reuters

A ausência de Posse no show que Milei fez na última semana durante o lançamento de seu novo livro no Luna Park, um histórico espaço de apresentações em Buenos Aires, foi o maior indicativo de que seus dias no governo ultraliberal estavam contados.

Para seu lugar, Milei anunciou o atual ministro do Interior, Guillermo Francos. Ao contrário de Posse, Francos assumiu um papel protagonista nas negociações para fazer avançar no Congresso o pacotão de medidas liberais que o governo quer aprovar e que está parado no Senado, com expectativa de algum avanço nesta semana.

Diferentemente do comunicado mais sóbrio da Casa Rosada, a nota emitida pelo gabinete presidencial —leia-se Karina Milei, secretária-geral e irmã de Milei, figura predominante no governo— praticamente não mencionou Posse. Dedicou-se, em vez disso, a elogiar Francos.

"Ele assumirá com profissionalismo, experiência e capacidade política a função de chefe de gabinete, sendo reconhecido por todas as forças políticas por sua capacidade de gestão e consenso", diz o texto.

Inicialmente a Casa Rosada negava a possível saída de Posse frente a rumores de que ele já não se entendia com Milei.

"A versão sobre sua saída é absolutamente falsa", disse o porta-voz Manuel Adorni no último dia 23. Dois dias depois seu chefe afirmou que Posse e "todo o gabinete" estavam sob constante avaliação e que nenhuma mudança era descartada.

Trata-se da baixa mais significativa no governo Milei nesses quase seis meses de gestão. Em março, já havia sido oficializada a saída de Guillermo Ferraro, do então Ministério de Infraestrutura.

Oriundo do setor privado, não do político, Posse conhecia Milei desde aproximadamente 2009, quando trabalharam juntos. Ele vinha sendo uma das figuras centrais na interlocução do governo argentino com a Casa Branca e organismos financeiros como o FMI (Fundo Monetário Internacional) ao lado da chanceler Diana Mondino.

Posse realizou no último dia 15 seu primeiro informe ao Senado, quando replicou a cartilha do governo de Milei, notadamente a defesa da redução do tamanho do Estado. "Não apenas é muito grande como se tornou impossível de pagar e tremendamente ineficaz, com serviços de má qualidade", afirmou.

As razões de desentendimento entre os velhos amigos são pouco claras. Mas não contribuiu para sua permanência no governo um recente aumento salarial de 40%, acima da inflação, anunciado pela direção da petroleira YPF, do qual Posse faz parte.

O agora ex-chefe de gabinete encheu o bolso enquanto Milei prega contra o que chama de casta, a classe política tradicional que, entre outras coisas, acusa de aumentar seus salários a despeito das dificuldades orçamentárias do Estado argentino.

No lugar de Guillermo Francos na chefia da pasta do Interior, de articulação com estados, municípios e partidos, entrará Lisandro Catalán. De ministério, a área se tornará uma secretaria que estará sob o guarda-chuva justamente da chefia de gabinete, agora sob a batuta de Francos.

O conjunto de anúncios foi feito no dia em que Milei embarcou novamente para os Estados Unidos, onde fica até a sexta-feira (31). Ele terá uma série de reuniões com empresários. Entre os nomes de maior destaque, Timothy Cook, presidente-executivo da Apple, e Mark Zuckerberg, o CEO da Meta.

É a quinta viagem de Milei aos EUA, ainda que o argentino nunca tenha estado com Joe Biden na Casa Branca.

Segundo levantamento do jornal La Nacion, Milei é o presidente da era democrática argentina que mais fez viagens ao exterior no primeiro semestre do governo. Com a atual ida aos EUA, seriam oito.

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