Descrição de chapéu Argentina

Conheça Mama Antula, a 1ª santa argentina canonizada pela Igreja Católica

Missionária que viveu no século 18 defendeu indígenas, escravizados, negros e camponeses, diz biógrafa

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Buenos Aires | AFP

A beata Mama Antula, que foi canonizada pela Igreja Católica neste domingo (11), é considerada a pioneira na defesa dos direitos humanos na Argentina, durante o período do vice-reinado colonial espanhol do Río de La Plata.

"Ela teve uma vida de compromisso com os excluídos, que eram indígenas, escravizados, negros e camponeses", disse à agência de notícias AFP Cintia Suárez, coautora de sua biografia junto com a italiana Nunzia Locatelli.

Fieis tocam imagem de Mama Antula durante cerimônia de sua canonização na Basília da Nossa Senhora da Piedade, em Buenos Aires - Tomas Cuesta - 11.fev.24/AFP

A cerimônia de canonização foi conduzida pelo compatriota da santa, o papa Francisco, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, com a presença do presidente da Argentina, o ultradireitista Javier Milei. A figura de Mama Antula ganhou um impulso recente com o pontífice, que se encarregou de divulgá-la com devoção.

Os dois milagres relatados pelo Vaticano para iniciar o processo de canonização foram curas inexplicáveis. Por sua intercessão, "a religiosa Vanina Rosa, que estava em estado terminal devido a uma infecção generalizada, recuperou-se em 1905", conta Suárez. O segundo caso, em 2017, foi do argentino Claudio Perusini, que se recuperou de um derrame, mesmo tendo o prognóstico médico inicial de que nada poderia ser feito.

De uma rua de Buenos Aires, Suárez aponta para a monumental basílica neoclássica Nossa Senhora da Piedade, contando que este foi o local escolhido pela mulher pioneira na defesa dos direitos humanos dos desfavorecidos para ser sepultada.

Em uma das naves laterais do templo encontra-se o mausoléu, no qual há uma estátua sua vestida com uma capa jesuíta, uma cruz no ombro e um livro de orações na mão.

Comprometida com "pessoas que eram consideradas coisas no período colonial", a beata viveu entre 1730 e 1799, segundo a biógrafa, que afirma que ela foi um ícone para a sua época e inspira mulheres até hoje.

De acordo com o pároco da basílica, Raúl Laurencena, o movimento de pessoas em seu mausoléu aumentou nos últimos tempos. "As pessoas rezam por pão, trabalho e paz. Rezam pelo nosso país que tanto precisa", diz ele.

Antula significa Antonia em quechua, a língua dos habitantes do norte do país. Ela nasceu María Antonia de Paz y Figueroa em uma família rica em Villa Silípica, a 40 quilômetros de Santiago del Estero, capital da província de mesmo nome, no noroeste da Argentina.

Leiga ligada à Ordem Jesuíta desde a adolescência, abandonou a casa dos pais aos 15 anos, atraída pelo mundo intelectual e "pelos avanços que os jesuítas trouxeram da Europa", segundo a biógrafa. A autora teve como base para seu livro as mais de 300 cartas manuscritas encontradas em arquivos de Roma.

"Após percorrer mais de 4.000 quilômetros a pé com seus exercícios espirituais pelas províncias do norte, ela chegou a Buenos Aires descalça, com as sandálias destruídas e com a capa que um jesuíta lhe dera, quase rasgada, carregando uma cruz de madeira", detalha.

A história oral e documentada concorda que ela foi confundida com uma bruxa ou uma louca —o que fez com que jovens lhe atirassem pedras— e a levou a se refugiar em uma pequena capela, no local onde a basílica foi construída um século depois.

O presidente argentino, Javier Milei (de terno), na cerimônia de beatificação de Mama Antula no Vaticano - Filippo Monteforte - 11.fev.2024/AFP

Suárez conta que a cada dia Mama Antula se tornava mais popular e influente, uma vez que conseguia reunir diferentes membros da sociedade colonial em sua casa de orações. Este local ainda está preservado no bairro Constitución, próximo a uma estação de trem.

Em 1767, a monarquia e o papado expulsaram e baniram os jesuítas, situação que fez com que a argentina "observasse um vazio espiritual e social nos indígenas integrados nas missões jesuítas". "Eles se sentiam desesperados", afirma a biógrafa.

Comovida com a situação, a beata reabre sua casa de rezas e percorre as províncias, mesmo sabendo que era uma atividade perigosa. Posteriormente, respeitada pelo bispo e pelo vice-rei, recebe permissão para abrir oficialmente sua casa espiritual.

"Ela tinha muita coragem e era rebelde no bom sentido. Chamavam-na de mulher forte. Ela usava sua astúcia feminina em um contexto de proibição", destaca Suárez.

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