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Equador vive 'noite de terror' com sequestro de policiais, explosões e carro-bomba

Novo pico na crise de segurança ocorre após fuga do chefe de quadrilha criminosa que estava preso

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Quito | AFP

Quatro policiais foram sequestrados no Equador em meio a um estado de exceção decretado pelo presidente Daniel Noboa devido a um novo pico de violência relacionado ao tráfico de drogas e após a fuga da prisão, ocorrida no domingo (7), do chefe da principal quadrilha criminosa do país.

Policiais posicionados próximos a presídio em Quito, no Equador
Policiais posicionados próximos a presídio em Quito, no Equador - Rodrigo Buendia - 8.jan.24/AFP

As autoridades disseram que três agentes foram sequestrados enquanto estavam em serviço na cidade costeira de Machala, no sudoeste equatoriano. O quarto policial foi rendido em Quito por criminosos que estavam em um veículo sem placa.

Os crimes ocorreram na noite de segunda (8) e na madrugada desta terça (9). Nas mesmas datas, um carro-bomba e outros artefatos explodiram em várias cidades do país, em atos aparentemente coordenados, sem deixar feridos.

"Houve várias ações criminosas em nível nacional que mobilizaram nossas unidades", disse um porta-voz da polícia ao comentar a nova crise de segurança instaurada no país. A imprensa equatoriana descreveu a situação como caótica e disse que o país viveu uma "noite de terror".

Um vídeo que não pôde ser verificado pelas agências de notícias mostra três policiais sentados no chão após os sequestros. Um deles é forçado a ler uma mensagem direcionada ao presidente: "O senhor declarou guerra e vai ter guerra [...] O senhor declarou estado de emergência; nós declaramos que a polícia, os civis e os militares são espólios de guerra. Qualquer pessoa encontrada nas ruas depois das 23h será executada".

Os sequestros ocorreram após Noboa, que enfrenta a primeira crise desde que assumiu a Presidência em novembro, decretar um estado de exceção de 60 dias em todo o país. A medida inclui um toque de recolher de seis horas entre 23h e 5h.

Segundo o presidente, o estado de exceção permitirá que as Forças Armadas intervenham no sistema prisional equatoriano. "Não negociaremos com terroristas nem descansaremos enquanto não devolvermos a paz aos equatorianos", afirmou em vídeo publicado nas redes sociais.

O presidente, que não mencionou a fuga no domingo de Adolfo Macias, conhecido como Fito, chefe da gangue Los Choneros, associou as revoltas recentes no sistema carcerário a ações para retomar o controle dos presídios.

Noboa anunciou na semana passada que construirá duas prisões de segurança máxima —semelhantes às que o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, mandou construir em sua guerra contra as gangues— nas províncias de Pastaza (leste) e Santa Elena (sudoeste) para isolar os prisioneiros mais perigosos.

Cerca de 3.000 policiais estão à procura do chefe dos Choneros, que cumpria desde 2011 uma sentença de 34 anos por crime organizado, tráfico de drogas e assassinato em uma prisão de Guayaquil (sudoeste), com capacidade para cerca de 4.400 pessoas. O cartel em que o criminoso atua é o mais temido do país e disputa rotas do tráfico de drogas com grupos associados a organizações do México e da Colômbia.

O Ministério Público abriu uma investigação sobre a fuga de Fito, e a promotoria acusou dois funcionários da prisão de envolvimento no caso.

O criminoso foi um dos principais nomes apontado nas investigações, ainda inconclusas, sobre o assassinato do candidato à Presidência Fernando Villavicencio, no ano passado. Dias antes de ser morto a tiros durante um comício, o jornalista e deputado havia dito na rede X que estava sendo alvo de ameaças de Fito.

Os sequestros dos policiais se somaram a outros casos de violência na costa de Esmeraldas, uma das províncias controladas pela máfia do Equador, perto da fronteira com a Colômbia. Criminosos lançaram um dispositivo explosivo perto de uma delegacia de polícia e dois veículos foram queimados na região. Em Quito, um carro-bomba foi detonado perto de uma ponte de pedestres, segundo o equatoriano Periodismo Público. Os episódios não deixaram vítimas.

Pabel Muñoz, prefeito de Quito, pediu ao governo que militarizasse as instalações estratégicas diante da "crise de segurança sem precedentes".

Decretar estado de exceção tem se tornado uma prática corriqueira no Equador, na contramão do que prega o nome dessa medida. Com ele, autoridades podem suspender o direito da chamada inviolabilidade das residências, da liberdade de trânsito no espaço público, de reuniões e de acesso à informação.

Um presidente pode fazer uso da medida sempre que houver uma agressão, um conflito armado ou uma grande comoção interna ou um desastre natural. Mas justamente por ser tão usado no Equador, normalmente mais de uma vez ao ano, a medida caiu em descrédito e virou alvo de críticas, em especial relacionadas a uma suposta militarização da sociedade.

Localizado entre Colômbia e Peru, os maiores produtores de cocaína do mundo, o Equador está sofrendo com a guerra pelo poder entre organizações de tráfico de drogas com ligações com cartéis internacionais. O ano de 2023 encerrou com mais de 7.800 homicídios e 220 toneladas de drogas apreendidas, novos recordes para o país.

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