Gaza é uma faixa costeira de terra situada em antigas rotas comerciais e marítimas ao longo da costa do mar Mediterrâneo. A região foi administrada pelo Império Otomano até 1917 e, desde então, passou do domínio militar britânico para o egípcio e, depois, para o israelense. Agora, é um território habitado por mais de 2 milhões de palestinos e administrado pelo Hamas, grupo muçulmano considerado terrorista pelas grandes potências ocidentais.
Entenda, ponto a ponto, a história territorial do conflito entre Israel e Hamas
Início do século 20: Judeus migram para a região da Palestina
Ao longo dos anos 1910 a 1930, milhares de judeus migraram para a região da Palestina. Esse território havia sido habitado pelo grupo na Antiguidade, mas abandonado por eles na diáspora judaica, como ficou conhecida a dispersão forçada dos judeus por várias regiões do mundo também naquele período histórico.
A migração dos judeus no início do século 20 foi motivada pelo sionismo, movimento político que defendia a criação de um Estado judeu na Palestina como solução ao antissemitismo na Europa. Naquele momento, porém, a região era controlada pelo Império Otomano, que seguia oficialmente o islamismo. Além disso, os palestinos habitavam a área há séculos e não ficaram satisfeitos com a migração de judeus.
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, a região passou a ser controlada pelo Império Britânico, que em busca de apoio prometeu à população judaica a criação de um Estado judeu ao final do conflito.
Segunda Guerra Mundial: Criação do Estado de Israel e início de guerras regionais
Após a Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha nazista matou ao menos 6 milhões de judeus, o Reino Unido abriu mão de seu controle sobre a Palestina. O vácuo de poder naquele momento aumentou as tensões entre árabes e judeus, e a situação foi entregue às Nações Unidas.
Em novembro de 1947, a ONU decidiu dividir o território da Palestina. De acordo com a resolução, pouco mais da metade do território ficaria com Israel, e o restante com os palestinos –em Gaza e na Cisjordânia. Meses depois, em maio de 1948, foi criado o Estado de Israel e, simultaneamente, começaram os conflitos.
A primeira guerra árabe-israelense, como o conflito ficou conhecido, terminou em 1949, com a vitória de Israel. Naquele momento, dezenas de milhares de palestinos da região se refugiaram em Gaza. A expulsão desse povo ficou conhecida como nakba, que significa catástrofe em árabe.
Logo em seguida, o Egito conquistou uma estreita faixa costeira de 40 quilômetros de comprimento, que ia do Sinai até o sul de Ashkelon, cidade israelense –essa porção de território é hoje conhecida como Faixa de Gaza. O afluxo de refugiados fez com que a população de Gaza triplicasse para cerca de 200 mil pessoas naquele momento.
Décadas de 1950 e 1960: O regime militar egípcio
O Egito manteve a Faixa de Gaza durante duas décadas sob um governo militar. A administração permitia aos palestinos trabalhar e estudar no Egito.
Final da década de 1960: Guerra e ocupação militar israelense
Israel capturou a Faixa de Gaza e parte da Cisjordânia na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Um censo israelense naquele ano estimou a população de Gaza em 394 mil, dos quais pelo menos 60% eram refugiados.
Com a saída dos egípcios, muitos trabalhadores de Gaza conseguiram empregos nas indústrias agrícola, de construção e de serviços dentro de Israel, aos quais podiam ter acesso fácil. As tropas israelenses permaneceram para administrar o território e proteger os assentamentos que o país construiu na região nas décadas seguintes.
Década de 1980: A primeira revolta palestina e a criação do Hamas
Vinte anos após a guerra de 1967, os palestinos organizaram sua primeira revolta. Tudo começou em dezembro de 1987, após um acidente de trânsito em que um caminhão israelense colidiu com um veículo que transportava trabalhadores palestinos no campo de refugiados de Jabalya, em Gaza, matando quatro pessoas. Depois do acidente, os palestinos organizaram protestos violentos, greves e paralisações.
No mesmo período, a organização radical egípcia Irmandade Muçulmana criou um ramo armado palestino, o Hamas. Dedicado à destruição de Israel, o Hamas se tornou um rival político do partido Fatah, principal movimento político até hoje da Palestina.
Início da década de 1990: Os Acordos de Oslo e a semiautonomia palestina
Israel e palestinos assinaram um acordo de paz histórico em 1993 que levou à criação da Autoridade Palestina, comandada justamente pelo Fatah. Os palestinos receberam inicialmente o controle limitado de Gaza e de Jericó, na Cisjordânia. Após os acordos, o líder da Organização para a Libertação da Palestina e fundador do Fatah, Yasser Arafat, voltou a Gaza —ele estava havia décadas exilado.
O pacto deu à Autoridade Palestina alguma autonomia e previu a criação de um Estado após cinco anos. Mas isso nunca aconteceu. Israel acusou os palestinos de negarem os acordos de segurança, e os palestinos se irritaram com a contínua construção de assentamentos israelenses em Gaza e na Cisjordânia.
O Hamas e a Jihad Islâmica realizaram bombardeamentos para tentar inviabilizar o processo de paz, levando Israel a impor mais restrições à circulação de palestinos para fora de Gaza.
Anos 2000: Saída de Israel da Faixa de Gaza e poder do Hamas
O início dos anos 2000 foi marcado por atentados suicidas e ataques a tiros por parte de palestinos. Israel respondeu com ataques aéreos, demolições e toques de recolher.
Um dos alvos foi o Aeroporto Internacional de Gaza, inaugurado em 1998 e símbolo das esperanças dos palestinos de independência econômica e única ligação direta da região ao mundo exterior que não era controlada por Israel ou pelo Egito. Israel considerou o aeroporto uma ameaça à segurança e destruiu a antena do radar e a pista alguns meses após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos.
Outro alvo foi a indústria pesqueira de Gaza, fonte de rendimento para dezenas de milhares de pessoas. A zona de pesca de Gaza foi reduzida por Tel Aviv, com o objetivo, segundo Israel, de impedir o contrabando de armas.
Em agosto de 2005, Israel retirou todas as suas tropas e colonos de Gaza, além de fábricas, estufas e oficinas que empregavam alguns habitantes de Gaza. Os palestinos, por sua vez, demoliram os edifícios abandonados e a infraestrutura israelense.
Em 2006, o Hamas obteve uma vitória surpreendente nas eleições parlamentares palestinas e, em seguida, assumiu o controle total de Gaza, derrubando forças leais ao sucessor de Arafat, o presidente palestino, Mahmoud Abbas. Grande parte da comunidade internacional cortou a ajuda aos palestinos nas áreas controladas pelo Hamas, inclusive o Egito.
Últimos anos: Mais conflitos
Antes do atual conflito, alguns dos piores combates ocorreram em 2014, quando o Hamas e grupos aliados lançaram foguetes contra cidades centrais de Israel. Em retaliação, Tel Aviv realizou ataques aéreos e bombardeios de artilharia que devastaram bairros de Gaza. Mais de 2.100 palestinos foram mortos, a maioria civis. Nos últimos anos, o Hamas e o governo israelenses seguiram com a troca de disparos de foguetes e mísseis localizados.
A ofensiva do Hamas em localidades israelenses próximas à Faixa de Gaza no último sábado marca a maior agressão ao território judeu em 50 anos. Ao menos 1.300 israelenses foram mortos, e dezenas, sequestrados. Em retaliação, Tel Aviv bombardeia Gaza desde então, apertou o cerco ao território palestino controlado pelo grupo terrorista e prepara uma invasão terrestre.
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