Trinta anos após Oslo, nova geração de israelenses e palestinos ainda tenta chegar à paz

Visões sobre acordo celebrado em 1993 divergem entre legado de ineficácia e molde para mais estratégias de conciliação

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington

May Pundak tinha 8 anos quando seu pai, Ron Pundak, ajudou a negociar os Acordos de Oslo, que prometiam a paz entre israelenses e palestinos. Ele foi um dos responsáveis pelo emblemático aperto de mão entre Yitzhak Rabin e Yasser Arafat em 13 de setembro de 1993, na Casa Branca.

Era um momento de euforia. Parecia que a paz estava próxima. Três décadas se passaram, porém, e talvez a paz nunca tenha estado tão distante.

Pundak cresceu vendo ruir o sonho de seu pai, morto em 2014. Enquanto isso, analistas políticos seguiam insistindo que Oslo era a única saída para o embate. Hoje, aos 38 anos, ela questiona essa conclusão. "Não podemos mais nos prender a uma proposta que fazia sentido no começo dos anos 1990."

Ex-presidente americano Bill Clinton em meio ao cumprimento entre o ex-premiê israelense Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, então líder da Organização pela Libertação da Palestina, na Casa Branca, em setembro de 1993
Ex-presidente americano Bill Clinton em meio ao cumprimento entre o ex-premiê israelense Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, então líder da Organização pela Libertação da Palestina, na Casa Branca, em setembro de 1993 - Gary Hershorn/Gary Hershorn - 13.set.1993/Reuters

Diretora da ONG israelo-palestina Uma Terra para Todos, Pundak representa uma nova geração que quer reavaliar as estratégias de paz e, se for necessário, buscar alternativas a Oslo. É uma das missões da entidade.

A ideia vai na contracorrente. Negociados em segredo na Noruega, os Acordos de Oslo mudaram o panorama político da região. Uma de suas consequências foi a criação de um governo palestino na Cisjordânia. O tratado também levou, na prática, ao reconhecimento do Estado de Israel pelos palestinos.

As razões para seu fracasso são muitas, entre elas o assassinato do premiê Rabin por um extremista judeu em 1995. Por seu lado, autoridades israelenses acusam os palestinos de não terem feito o suficiente para controlar as facções insatisfeitas com as negociações, que minaram as conversas.

Os Acordos de Paz de Oslo

  • Definição

    Acordos negociados entre Israel e a Organização para a Liberação da Palestina (OLP) em 1993 e em 1995, sob mediação dos EUA

  • Objetivo

    Paz por meio do estabelecimento gradual de um Estado palestino em territórios na Cisjordânia e na Faixa de Gaza ocupados por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967

  • Data-limite para fim da ocupação

    1999

  • Determinações

    Criação da Autoridade Palestina, espécie de órgão de transição antes de fundação do Estado da Palestina que assumiu administração de serviços públicos como educação, saúde e segurança, mas sem soberania sobre território; Israel manteve controle sobre fronteiras, espaço aéreo e água

  • Desdobramentos

    Determinações não foram cumpridas até o prazo final, e os acordos caíram; alguns de seus mecanismos, como a Autoridade Palestina, sobreviveram

"Oslo foi a maior conquista de Israel desde sua criação em 1948", avalia Pundak. Trouxe alguma paz e estabilidade. Mas os acordos tinham sido pensados para serem uma medida temporária. A expectativa palestina era de que culminassem em um Estado independente, o que nunca aconteceu. Em vez disso, Israel seguiu construindo assentamentos na Cisjordânia, território que tomou durante a guerra de 1967.

"Estamos vendo essa administração anexar mais territórios e promover o apartheid", afirma Pundak. Cada vez mais o termo "apartheid" tem sido usado na região para descrever as práticas discriminatórias do governo israelense. Os defensores do premiê Binyamin Netanyahu negam essas acusações.

Pundak sugere que a solução de criar dois Estados, proposta por Oslo, hoje é inviável. Em parte porque ambas as partes acreditam que essa terra seja deles por direito e que Jerusalém deveria ser sua capital. A solução alternativa, de ter um único Estado, é também impraticável, diz. Os judeus não aceitariam um cenário em que seriam uma minoria.

Vem daí a proposta de criar uma confederação, defendida por Pundak em sua ONG. "Precisamos aprender a compartilhar esse território", afirma. É uma proposta para a cocriação de um país, para uma parceria.

A ideia envolve a formação de dois países na região, em um modelo talvez parecido com o da União Europeia. Palestinos poderiam viver em Israel, e israelenses, na Palestina. Compartilhariam Jerusalém. Refugiados retornariam. Seria fomentada uma narrativa nacional de união, não de conflito.

A ideia, que já circula há algum tempo, costuma ser recebida com ceticismo. Pundak sabe disso. "Estamos dizendo apenas: olhe, existe outra saída, vamos praticar nossa imaginação política. Se a gente aceitar que Oslo acabou e que era a melhor opção, nada vai acontecer. Só que nós não vamos desistir de lutar pelo nosso futuro e pela justiça."

Ghaith al-Omari, analista sênior do Washington Institute, é um dos céticos. Omari, que foi conselheiro do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, sugere que uma confederação dificilmente funcionaria. Em parte porque israelenses e palestinos não têm uma cultura política compatível.

"Entendo que as pessoas busquem soluções criativas, e pessoas que eu respeito defendem a confederação, mas seria complicado demais", afirma. Por exemplo, israelenses e palestinos teriam de ter uma estratégia de defesa comum. "O Irã seria aliado ou inimigo? Estariam na Otan ou na Liga Árabe? São questões básicas que precisam ser respondidas."

Omari contraria o consenso de que Oslo falhou. "Oslo criou estruturas políticas importantes que ainda sustentam as relações entre israelenses e palestinos e que dão uma voz para os palestinos na esfera internacional", diz. Para ele, o colapso de Oslo significaria a extinção de um movimento nacional palestino por toda uma geração.

Em vez de procurar novas ideias, Omari prefere que as partes trabalhem em cima do que funcionou. Antes de voltarem à mesa para negociar, precisam reconstruir a confiança erodida durante essas três décadas.

Isso poderia ser feito, afirma, com pequenas medidas que convençam as pessoas das vantagens de cooperar. Por exemplo, ampliando o território sob controle palestino na Cisjordânia, permitindo que desafogue a população de suas cidades. O custo para Israel seria baixíssimo, e teria um alto retorno político. "Precisamos de pequenas vitórias."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.