Zelenski volta a pedir apoio a Lula e propõe reunião com latino-americanos no Brasil

Presidente da Ucrânia criticou o que chama de terrorismo global de Vladimir Putin e pediu apoio à soberania alimentar

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São Paulo

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, voltou a pedir o apoio de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e propôs uma reunião no Brasil com líderes da América Latina para discutir a guerra no Leste Europeu.

"Ele [Lula] não pode vir ao meu país? Eu vou até ele", disse Zelenski durante uma entrevista exibida na noite desta quarta-feira (26) na GloboNews. "A América Latina é muito importante para mim, especialmente o Brasil. Se receber o convite, eu vou."

O presidente Volodimir Zelenski discursa durante evento na cidade ucraniana de Lviv - Iuri Diatchichin - 8.jul.23/AFP

O líder ucraniano disse que já convidou Lula para visitar Kiev e que, se a negativa do brasileiro por ventura for devido a uma questão de segurança, ele viria até o Brasil. "Se ele conseguir reunir os outros líderes da América Latina, podemos nos encontrar todos no Brasil, ou em qualquer outro lugar."

Em maio, Lula e Zelenski tiveram um impasse e não se reuniram durante a cúpula do G7, no Japão —após um pedido do ucraniano, o petista aceitou marcar um encontro, mas depois disse que seu homólogo não apareceu na hora combinada.

Amplamente apoiado por EUA e União Europeia, Zelenski tenta conquistar países em desenvolvimento para respaldá-lo no conflito que se desenrola desde fevereiro do ano passado, quando a Rússia invadiu a Ucrânia. O líder, porém, enfrenta obstáculos para ter sucesso com a estratégia.

Embora se apresente como mediador neutro no conflito na Ucrânia, Lula adotou por diversas vezes posições críticas a Kiev e ao Ocidente, chegando a afirmar que EUA e União Europeia estimulavam a guerra. Assim, foi visto por críticos como conivente com as ações russas.

O presidente brasileiro defende também a criação de um "clube da paz" para o fim da guerra, balaio que englobaria países como Brasil, China e Indonésia. Segundo ele, as negociações deveriam ser conduzidas por um grupo semelhante ao G20, que reúne as maiores economias do mundo. A ideia, porém, não tem encontrado eco no exterior, e, na entrevista desta quarta, o presidente ucraniano negou novamente a proposta de um acordo para encerrar a guerra enquanto houver tropas russas em seu território.

Zelenski disse ainda buscar no Brasil, entre outras sinalizações, apoio político e ajuda humanitária. "Não pretendo pedir a Lula que me dê armas", afirmou o presidente ucraniano. O envio de material bélico do Ocidente têm sido essencial para a Ucrânia se defender no conflito.

As posições do petista ecoam a histórica postura de neutralidade defendida pelo Itamaraty. Brasília apoiou na ONU declarações que condenam a invasão russa da Ucrânia, mas evita criticar abertamente Moscou, de quem importa fertilizantes e com quem compartilha fóruns internacionais como o Brics.

Lula chegou a enviar seu assessor especial para política externa, o ex-chanceler Celso Amorim, a Moscou. O diplomata esteve com Putin e alguns de seus assessores no Palácio do Kremlin, em conversa descrita por ele como amistosa. Depois, o presidente também enviou Amorim a Kiev, onde o conselheiro de política externa esteve com Zelenski e com o hoje embaixador da Ucrânia no Brasil, Andrii Melnik.

Na entrevista, o líder ucraniano também voltou a criticar a decisão de Moscou de deixar o acordo de grãos que, em parceira com a ONU e a Turquia, assegurava o trânsito das exportações ucranianas no mar Negro.

Falando no "caos social" que pode surgir com a falta de alimentos, ele também afirmou que o governo de Lula pode atuar para ajudar a Ucrânia e outros países afetados pela situação —em especial os da África.

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