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Guerra da Ucrânia se expande com ataques no mar Negro

Ucrânia tenta afundar navio russo após ataques a portos na fronteira com a Romênia, membro da Otan

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São Paulo

Uma semana após a Rússia ter deixado o acordo que permitia o trânsito de navios ucranianos com grãos para exportação, a guerra no Leste Europeu se espalha pelo mar Negro, no episódio mais próximo de fronteiras da Otan, a aliança militar ocidental, desde que Vladimir Putin invadiu o país vizinho, há 18 meses.

Nesta terça-feira (25), o Ministério da Defesa russo afirmou que um de seus navios-patrulha, o Serguei Kotov, foi atacado por dois drones marítimos que seriam operados por Kiev. De acordo com o relato, eles foram destruídos a cerca de um quilômetro do barco russo, que disparou contra eles quando patrulhava uma área no sudoeste do mar, a 370 km da base da Frota do Mar Negro, em Sebastopol, na Crimeia.

Imagem distribuída pela Ucrânia mostra silo destruído por ataque de drone em Reni, no Danúbio
Imagem distribuída pela Ucrânia mostra silo destruído por ataque de drone em Reni, no Danúbio - 24.jul.23/Forças Armadas da Ucrânia via Reuters

Trata-se da primeira ação do tipo em meses, em um campo menos explorado da guerra. A Marinha ucraniana foi basicamente dizimada pelos russos, que por sua vez tiveram a mais simbólica perda no conflito quando Kiev afundou a nau-capitânia da frota de Moscou na região, o cruzador pesado Moskva, em abril de 2022.

O acordo de grãos, vigente desde julho do ano passado, reduziu bastante a atividade naval do conflito —a destruição do último navio de maior porte ucraniano pelos russos, em maio, foi o último incidente de relevo. Isso tende a mudar, até pela proliferação de drones marítimos de Kiev, como os utilizados contra a ponte que liga a Crimeia anexada à Rússia, trazendo novos riscos de expansão da guerra.

Exemplo disso ocorreu na segunda-feira (24), quando os russos bombardearam pela primeira vez terminais de grãos em dois portos no estuário do Danúbio, Izmail e Reni. Foi o ataque mais próximo do território de um membro da Otan durante toda a guerra: essas cidades só têm o rio a lhes separar da Romênia, integrante da aliança militar. Em alguns trechos, menos de 200 metros entre as margens.

Até aqui, dois incidentes haviam deixado o Ocidente de cabelo em pé. No primeiro mês de conflito, os russos atingiram uma base de treinamento a 25 km da fronteira da belicosa Polônia. Em novembro, um míssil antiaéreo ucraniano acabou caindo no território polonês, matando duas pessoas. Houve também o caso inusual de um drone ucraniano que caiu na Croácia, após voar sobre Moldova e Romênia.

Com a eventual proliferação de ataques no mar Negro, que tanto Moscou quanto Kiev declararam bloqueado ao dizer que considerariam qualquer navio suspeito de transporte militar com o fim do pacto de grãos, os riscos de um erro de cálculo se multiplicam. A região já viu um drone americano ser derrubado por um caça russo neste ano e diversos incidentes entre forças de Moscou e da Otan nos últimos anos.

Até então, a Rússia havia focado ataques à infraestrutura portuária ucraniana mais ao norte, na região de Odessa. O eventual escoamento da produção pelo estuário do Danúbio no mar Negro, junto às águas da Romênia, é mais caro, mas em tese mais imune a ataques —não mais. Putin diz que só volta ao arranjo se o Ocidente respeitar a contrapartida ao acordo, a facilitação da exportação de grãos e fertilizantes russos.

A Turquia, mediadora com a ONU do pacto de grãos e também membro da Otan, afirmou que os países ocidentais deveriam ouvir o líder russo. Nesta terça-feira, após um encontro entre Putin e o ditador belarrusso, Aleksandr Lukachenko, o Kremlin reafirmou que não pretende retornar voluntariamente ao acordo. O FMI (Fundo Monetário Internacional) estimou que o preço global dos produtos deve subir de 10% a 15% devido à crise no médio prazo.

Enquanto isso, os combates prosseguem. Kiev afirma que sua contraofensiva fez alguns ganhos incrementais no sul ucraniano e na região de Bakhmut, no leste. Já os russos disseram ter repelido novamente ataques, além de terem prosseguido com sua própria ofensiva no norte de Donetsk (leste) e em Kharkiv (nordeste), mas com intensidade bem menor do que a propagandeada na semana passada.

Ao que tudo indica, tanto Moscou quanto Kiev podem ter exagerado, com motivações diversas, as ações russas. Os ucranianos falaram na maior concentração de tropas desde a invasão de 2022, com 100 mil militares de Putin, mas o que se viu até aqui não corrobora isso.

Mais ao sul, em Zaporíjia, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) afirmou ter detectado minas terrestres antipessoais no perímetro externo da usina nuclear homônima, a maior da Europa. O diretor-geral do órgão, o argentino Rafael Grossi, não disse o que parece óbvio, que elas são russas, mas condenou a ação —ainda que afirmando não haver risco para os reatores.

Os operadores russos da usina, ocupada em março de 2022, disseram ter desligado de vez 2 dos 6 reatores do local, que não está produzindo energia.

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