Após um imbróglio que relegou imigrantes a mais uma situação de incerteza, a prefeitura do município paulista de Praia Grande recuou no final da noite desta sexta-feira (30) e permitiu que os cerca de 150 afegãos que viviam de forma temporária no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, entrassem na cidade.
Mais cedo, a gestão da prefeita Raquel Chini (PSDB) havia informado que impediria o ingresso dos ônibus que levavam os imigrantes para uma colônia de férias do Sindicato dos Químicos no município.
A ação coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública ao lado do governo de São Paulo e de outras organizações como o Acnur, a agência de refugiados da ONU, e a Cáritas vem após um surto de sarna ser detectado entre o grupo, revelando condições precárias de higiene às quais estão submetidos.
Após os imigrantes partirem do aeroporto em ônibus, porém, veio à tona o imbróglio com o município. Em nota, a prefeitura de Praia Grande disse que não permitiria a entrada dos ônibus e que havia fechado o espaço da colônia, dizendo ter sido avisada de supetão. Afirmou ainda que priorizava a saúde dos moradores e dos afegãos.
A gestão argumentava que o caso demonstra um desrespeito com o município e que "as pessoas afegãs estão sendo tratadas como 'problema' a ser empurrado com a barriga". "Outro detalhe é que a colônia de férias que era tida como destino final do grupo também não dispunha de AVCB [vistoria do Corpo de Bombeiros], demonstrando assim toda a falta de cuidado dos responsáveis pelo deslocamento."
A recusa fez com que cinco ônibus com afegãos ficassem parados na rodovia Anchieta aguardando permissão. Horas depois, a gestão Chini recuou após uma conversa com o ministro da Justiça, Flávio Dino.
"A prefeita deixou claro que a responsabilidade por todo o tempo que os afegãos ficarem na cidade com relação a educação, saúde e assistência social, será do governo federal", disse o município.
Os imigrantes do país da Ásia Central buscam o Brasil como refúgio para fugir do regime fundamentalista do Talibã, que retomou o poder em agosto de 2021. Até o final de maio, o Brasil havia emitido 7.517 vistos de acolhida humanitária para afegãos, num procedimento que facilita o pedido de residência no país.
Ao chegarem no país, a maioria pelo Aeroporto de São Paulo, no entanto, muitas famílias não encontram vagas em abrigos —a Prefeitura de Guarulhos, por exemplo, diz que todas as vagas do município estão ocupadas atualmente. A saída encontrada, então, é ficar no aeroporto até que sejam redirecionados.
Segundo o secretário nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho, essa se trata da ação emergencial para tirar o grupo que hoje vive no aeroporto dessa situação, mas outras estão na esteira.
À Folha ele diz que, junto a organizações da sociedade civil, estão sendo organizados planos para que as famílias depois sejam levadas para um local mais adequado e com mais oportunidades de inserção social e que novos locais de acolhimento estão sendo preparados para os futuros fluxos de refugiados.
No aeroporto, onde ficam no Terminal 2 em barracas improvisadas com mantas e tecidos, os imigrantes relatam que não têm acesso a banheiros para que possam tomar banho e fazer outros procedimentos de higiene, condição que potencializou o surgimento de infecções.
ONG's e especialistas em migração demandam que o Estado estruture um plano de acolhida a longo prazo para os afegãos. Do contrário, expressam ativistas que atuam no acolhimento a esse grupo, cenas como as recém-registradas no Aeroporto de Guarulhos voltarão a se repetir em breve, tão logo desembarquem novos imigrantes no país.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.