Autópsias revelaram a ausência de órgãos em corpos das vítimas da seita que promovia jejum extremo para "conhecer Jesus", no Quênia, segundo documento obtido pela agência de notícias AFP. O texto menciona tráfico de partes humanas num esquema "bem coordenado, com participação de vários atores".
Dezenas de corpos, em sua maioria de crianças, foram encontrados no mês passado na floresta de Shakahola, no sudeste do país africano, na que é considerada a maior tragédia relacionada a seitas da história recente. O caso provocou uma onda de indignação e levou o presidente William Ruto a prometer medidas contundentes contra aqueles que "utilizam a religião para promover atos atrozes".
Segundo balanço divulgado nesta quarta-feira (9), as mortes aumentaram para 133 —antes, 112 vítimas haviam sido confirmadas. O número deve aumentar, já que centenas de pessoas continuam desaparecidas e as buscas tiveram de ser suspensas devido ao mau tempo.
Na semana passada, as primeiras autópsias revelaram que a maioria das mortes foi provocada por fome e asfixia. Depois, os exames apontaram que algumas das vítimas também foram estranguladas, golpeadas e afogadas. Não se sabe se a ausência de órgãos tem relação com a seita ou se foram retirados depois que os corpos foram encontrados pelas autoridades quenianas.
"Temos muito mais sepulturas nesta floresta. Isso nos leva a concluir que se trata de um crime altamente organizado", disse o ministro do Interior do Quênia, Kithure Kindiki, durante visita à floresta de Shakahola.
As vítimas eram seguidoras da Igreja Internacional das Boas Novas, liderada pelo pastor Paul Mackenzie. Ele está preso sob a acusação de fazer uma lavagem cerebral ao instruir seguidores a deixarem de comer para serem os primeiros a irem para o céu em 15 de abril, data que, segundo ele, seria o fim do mundo.
Na semana passada, promotores anunciaram que Mackenzie será processado também por terrorismo. Em outra frente da investigação, a Direção de Investigações Criminais (DCI) pediu o bloqueio das contas bancárias do pastor Ezekiel Odero, suspeito de envolvimento no caso. Ele chegou a ser detido em 28 de abril, mas foi solto na semana passada após o pagamento de fiança.
Segundo o DCI, Odero recebeu "enormes quantias em espécie" de seguidores de Mackenzie. Testemunhas, por sua vez, contam que receberam do líder religioso pedidos para que vendessem suas propriedades.
O presidente William Ruto anunciou na última sexta a abertura de inquérito para apurar as mortes em massa, enquanto um tribunal rejeitou um pedido de habeas corpus para Mackenzie. Advogado do líder religioso, George Kariuki disse à agência de notícias Reuters que a polícia não deve focar apenas uma pessoa nas investigações, mas "manter a mente aberta para desvendar a bagunça" do caso.
As vítimas viviam isoladas na floresta de Shakahola. Autoridades não informaram quando as buscas serão retomadas na região, que tem aproximadamente 300 hectares.
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