Associações brasileiras de imprensa divulgaram nota em repúdio à prisão de um repórter do jornal americano Wall Street Journal na Rússia sob a acusação de espionagem para os EUA.
Evan Gerchkovitch, 31, cidadão americano de origem russa, foi acusado pelo serviço de segurança interno russo de colher informações classificadas como segredo de Estado sobre uma fábrica militar. Não foram apresentadas provas das alegações, e o Wall Street Journal as nega.
A nota é assinada por Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), Repórteres Sem Fronteiras e Instituto Vladimir Herzog.
As organizações afirmam que a prisão do repórter, anunciada no último dia 30, mostra como o governo de Vladimir Putin tem se consolidado um adversário da liberdade de imprensa.
"A prisão não tem lastro em fatos", diz trecho da nota. "Repudiamos o ataque de Putin à liberdade de imprensa e nos juntamos às vozes que pedem a libertação imediata de Evan Gerchkovitch, sem a imposição de condições por parte do governo russo."
Desde a prisão de Gerchkovitch, diversas entidades, personalidades e políticos vêm se manifestando em defesa da liberdade do jornalista. O presidente dos EUA, Joe Biden, pediu a libertação do repórter, mas disse que não tinha planos de expulsar diplomatas russos do território americano como retaliação.
Nesta segunda (10), o Departamento de Estado americano voltou a enfatizar que Gerchkovitch foi detido de forma incorreta. "Jornalismo não é crime", disse o porta-voz Vedant Patel. "Condenamos a contínua repressão do Kremlin às vozes independentes e sua guerra contra a verdade."
Patel afirma que as acusações de espionagem são falsas e que o caso é político. Ele disse ainda que o governo americano forneceria todo o apoio ao jornalista preso e à sua família e aproveitou para pedir a libertação de Paul Whelan, ex-fuzileiro naval dos EUA acusado de carregar um pen drive com informações confidenciais. Em 2020, ele foi condenado a 16 anos de prisão.
Até aqui, porém, o governo de Putin não tem mostrado que pode recuar. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, chegou a dizer que este era um assunto do FSB, o Serviço Federal de Segurança. Já Maria Zakharova, porta-voz da chancelaria russa, afirmou que a apuração de Gerchkovitch "não era relacionada a jornalismo" e que é usual o emprego de disfarce de repórter para espionagem.
Para a Rússia, o jornalista preso se torna um ativo valioso para eventual libertação de detidos no exterior. Pouco antes da Guerra da Ucrânia, a jogadora de basquete americana Brittney Griner foi presa sob acusação de posse de drogas em um aeroporto moscovita. Ela só foi solta em dezembro, trocada pelo traficante de armas Viktor Bout, preso nos EUA.
Este é o mais grave caso do gênero envolvendo um jornalista estrangeiro desde que a Rússia invadiu o país vizinho, em fevereiro do ano passado. Desde então, há assédio a repórteres, e um grande contingente de profissionais da imprensa deixou o país. Uma corte moscovita determinou no mês passado que Gerchkovitch fique preso pelo menos até o dia 29 de maio, quando haverá uma audiência sobre o caso.
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