A rua das floriculturas de Cabul estava cheia de buquês vermelhos, bichos de pelúcia e guirlandas à espera da comemoração do Valentine’s Day nesta terça-feira (14) —o equivalente, nos Estados Unidos e na Europa, ao Dia dos Namorados no Brasil. Os clientes, no entanto, não chegavam.
O Talibã, grupo radical islâmico que em 2021 voltou ao poder no Afeganistão, proibiu a celebração. Numa vitrine, cartaz do Ministério para a Prevenção do Vício e Promoção da Virtude vetava a celebração da data.
"O Dia dos Namorados não é islâmico e não faz parte da cultura afegã; é um slogan publicitário para os infiéis. Comemorá-lo é mostrar simpatia pelo papa cristão", lia-se no aviso.
O Dia de São Valentim nunca foi amplamente celebrado no país, mas pessoas com maior poder aquisitivo das grandes cidades passaram a festejá-lo nos últimos anos, quando o Talibã estava afastado do poder.
O costume deve mudar com a repressão imposta pelo grupo islâmico. Vestidos de branco, agentes do ministério patrulhavam o bairro escoltados por guardas armados para garantir o respeito à nova regra.
Rodeados por centenas de rosas vermelhas, os floristas da capital e os vendedores de balão em forma de coração estavam desanimados com a perspectiva de vendas.
Ajoelhado em frente ao seu estabelecimento, Omar tirava os espinhos e as pétalas murchas de suas rosas, sem esperança de vendê-las. "Como podem ver, não temos clientes, a situação está muito ruim", afirmou. "Antes, muitas pessoas presenteavam com flores. Mas a situação econômica atual dos habitantes não permite mais esse tipo de compra, e, além de tudo, agora proibiram a comemoração."
O Talibã retomou o controle do Afeganistão em 2021, 20 anos após o grupo ser expulso do poder pelos EUA. Em 2001, suas tropas haviam se retirado da capital sob as bombas americanas e britânicas.
Embora tenha prometido moderação ao voltar ao poder, pena capital, apedrejamento, flagelações e amputações de mãos para crimes menores, como roubos e adultérios, foram reintroduzidos no país. Em dezembro do ano passado, foi promovida a primeira execução pública de um criminoso.
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