Os EUA concluíram formalmente que a Rússia cometeu crimes contra a humanidade durante a Guerra da Ucrânia, que completa um ano no próximo dia 24, disse a vice-presidente Kamala Harris.
A declaração foi feita neste sábado (18), segundo dia da Conferência de Segurança de Munique. "No caso das ações da Rússia na Ucrânia, analisamos as evidências, e, a partir das convenções legais, não há dúvidas: estes são crimes contra a humanidade", afirmou ela.
A infração é considerada mais grave no direito internacional do que a de crimes de guerra. O rótulo inclui práticas como obrigar soldados capturados a servir no Exército inimigo ou atacar equipes de ajuda humanitária e já havia sido dado à atuação da Rússia pela ONU e pelos próprios EUA no ano passado.
Já a categoria de crimes contra a humanidade significa que atos como assassinatos e estupros não só foram difundidos por determinado país durante um conflito, como dirigidos de forma sistemática e intencional contra civis.
Em sua 59ª edição, o principal fórum de discussão internacional sobre segurança tem como pauta dominante o maior conflito em território europeu desde a Segunda Guerra Mundial.
Sua realização acontece justamente em meio a uma escalada da ofensiva russa sobre o país vizinho —também no sábado, o Kremlin afirmou ter capturado Hrianikivka, vilarejo na região de Kharkiv.
A capital da província chegou a ser assediada pelas tropas de Vladimir Putin nas primeiras fases da guerra, mas elas recuaram em setembro, numa ação surpresa da Ucrânia. Kiev, por sua vez, afirmou que o vilarejo estava sendo bombardeado, mas não fez referência a um ataque mais amplo.
Washington espera que sua declaração deste sábado, resultado de uma longa análise legal realizada pelo Departamento de Estado americano, ajude a incentivar a comunidade internacional a se unir para responsabilizar na Justiça integrantes do Kremlin.
Tem como objetivo ainda isolar ainda mais o presidente russo, que Kamala chamou de líder de um país "enfraquecido". "Se Putin acha que vamos ficar esperando [a Ucrânia ser tomada], está muito enganado."
O país invadido, que teme uma grande ofensiva russa no aniversário dos combates, usou a conferência para reforçar a aliados ocidentais seus pedidos de armamentos mais pesados. A demanda mais recente é por caças, que o chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, disse confiar que uma hora será atendida. "É uma questão de tempo e procedimento."
O Reino Unido até ofereceu ajuda nesse âmbito —mas nos seus próprios termos. Rishi Sunak, primeiro-ministro britânico, afirmou que seu governo não pretende enviar aeronaves do tipo, mas se dispôs a apoiar outros países inclinados a fazê-lo.
Ele também reforçou a importância de que a Rússia pague pela reconstrução da Ucrânia ao fim do conflito, que ao que tudo indica ainda está longe. E defendeu a criação de um novo sistema de segurança internacional a longo prazo. "De direitos humanos a ameaças nucleares, da Geórgia a Moldávia, a Rússia cometeu violação após violação em países que não contam com a segurança coletiva da Otan [aliança militar ocidental]. E a resposta da comunidade internacional não tem sido à altura", disse ele.
Mais tarde, um encontro seu com Kamala Harris resultou em uma nota que descreveu a Guerra da Ucrânia como um "conflito global".
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