Quando uma explosão atingiu nesta terça-feira (15) o pequeno povoado polonês de Przewodow, próximo à fronteira com a Ucrânia, o primeiro pensamento de Joanna Magus foi de que algo havia acontecido no armazém de secagem de grãos.
A realidade, porém, era mais grave: um míssil atingiu e matou duas pessoas, deixando a cidade no centro de uma perigosa elevação de tensões na Guerra da Ucrânia.
As primeiras indicações apontavam para um artefato de fabricação russa, e um ataque de Moscou a um membro da Otan teria o condão de fazer o conflito vazar as fronteiras ucranianas. Nesta quarta (16), declarações de Varsóvia e da aliança militar ocidental, apontando para um acidente com um sistema de defesa aérea ucraniano, dissiparam um pouco as tensões.
Professora de uma escola primária de Przewodow, Magus, 60, relatou à agência de notícias AFP que sentiu medo e não dormiu à noite. "Espero que seja um míssil perdido porque, se não for, estamos indefesos", diz.
Moradores do povoado, de apenas 500 habitantes, disseram que o impacto ocorreu em uma planta de secagem de grãos perto da escola em que Magus dá aulas. Quando o projétil explodiu, ela estava sentada em casa, de onde se pode ver os celeiros pela janela.
"Ouvi uma grande explosão, um estouro terrível. Subi para a janela e vi uma enorme nuvem de fumaça escura", conta, acrescentando ter imaginado, em um primeiro momento, que algum equipamento do celeiro tivesse causado a explosão.
Magus telefonou para o marido, que estava fora de casa, e soube que ele "viu mais ou menos" o que havia acontecido. "Ele estava apavorado. Disse que algo havia explodido e temia-se que duas pessoas tivessem morrido. Foi um pânico total", relata a professora.
As duas mortes foram de dois homens, de aproximadamente 60 anos, que trabalhavam nas instalações de secagem. Ewa Byra, diretora da escola primária de Przewodow, conta que um dos mortos era casado com uma das faxineiras do estabelecimento. A outra vítima era pai de um ex-aluno.
"Não esperávamos isso, mesmo que aconteçam acidentes. Especialmente quando a guerra ocorre a apenas 6 quilômetros da cidade", diz a educadora, acrescentando que montaria uma célula de apoio psicológico para alunos e moradores que aparecessem na escola.
O local da explosão foi isolado pela polícia. Segundo a reportagem da AFP na cidade, agentes vigiavam nesta quarta a estrada que leva ao pequeno vilarejo que, além da escola e das casas, abriga uma igreja e um cemitério.
O padre Bogdan Wazny explicou que a cidade se esvaziou assim que as pessoas souberam do míssil. Ninguém foi à missa na tarde de terça-feira, algo inédito na região muito católica.
Ele Wazny afirma que conhecia bem as duas vítimas. "Eles eram muito gentis. Ajudavam na paróquia sempre que eu pedia." Segundo ele, um dos mortos tinha ajudado a reformar a fachada da igreja.
A comunidade local anunciou três dias de luto.
Nesta quarta, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que a explosão provavelmente foi causada por um míssil de defesa aérea da Ucrânia. O foguete foi lançado por um S-300, antigo modelo soviético que é também o principal sistema antiaéreo de Kiev.
Para o norueguês, isso não significa, porém, que o Exército de Volodimir Zelenski possa ser culpado pelo incidente. A Ucrânia nega que o míssil tenha vindo de seu país e diz que a hipótese não passa de uma "teoria da conspiração" difundida pela Rússia.
A jornalistas o presidente da Polônia, Andrzej Duda, reafirmou a tese de Stoltenberg, acrescentando que "absolutamente nada indica que isso foi um ataque proposital" contra o seu país. Falas semelhantes vieram da ministra da Defesa da Bélgica, Ludivine Dedonder, e, segundo fontes da Otan, do próprio americano Joe Biden a aliados.
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