Miami registra poucas filas e tem fluxo de eleitores controlado para evitar aglomeração

Cenário é bastante diferente do primeiro turno, quando brasileiros precisaram esperar até 4 horas para votar na cidade americana

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Natasha Bin
Miami

Após um primeiro turno marcado por filas e aglomerações, o segundo turno das eleições presidenciais brasileiras em Miami foi tranquilo. O clima mais amistoso foi resultado do reforço na organização e da mudança no fluxo de eleitores para evitar os tumultos do dia 2 de outubro.

"No primeiro turno, a equipe de organização estava dentro e agora está fora. Adotamos uma estratégia de controle de fluxo. Criamos um selinho para identificar quem já votou e mudamos a saída", afirmou José Renato, cônsul-adjunto do Consulado Geral de Miami.

Além do adesivo "eu votei", entregue junto com o comprovante de votação, havia a orientação de não deixar as pessoas ficarem nos corredores entre as seções, principalmente tirando selfies. "Votou, saiu", confirmou uma das secretárias que estava trabalhando no prédio R do campus de Kendall do Miami Dade College.

Eleitores brasileiros votam em Miami, nos EUA
Eleitores brasileiros votam em Miami, nos Estados Unidos - Natasha Bin -30.out.22/Folhapress

O saguão entre os prédios 9 e R também registrava um fluxo muito menor de eleitores. Parte do espaço foi ocupada pela organização, que intensificou a sinalização e o número de voluntários e instalou uma longa mesa azul para atender os presentes. Avisos sonoros também faziam parte da estratégia de tentar dissipar as pessoas. Uma das mensagens anunciadas era "por favor, voltem para casa".

O esforço para um melhor fluxo foi notado pelos eleitores, que não reclamaram de filas ou da falta de orientação. "Hoje eu não levei nem três minutos para votar, enquanto no primeiro turno fiquei mais de 40 minutos na fila", disse o advogado José Mario, que viajou 80 quilômetros para votar.

Apesar de não haver "a algazarra do primeiro turno", o mineiro afirmou ter sido "agredido" na sala de votação. "Veio um cara de verde e amarelo notadamente embriagado e disse para mim ‘esse cara aí é barbudo, então ele é petista’. Isso é um absurdo."

O advogado, que não revelou seu voto, disse que o presidente da seção não quis criar caso. "Eu moro nos Estados Unidos há 29 anos e nunca deixei de votar. Eu vim hoje para exercer minha cidadania e porque eu sei que cada voto conta."

A carioca Cristiani Perry também avaliou o clima como mais tranquilo em relação ao primeiro turno. Eleitora de Soraya Thronicke, do União Brasil, no primeiro turno, hoje ela votou no presidente Jair Bolsonaro, mas com ressalvas.

"É um voto contra o socialismo. Quando a gente chega aqui e vê os venezuelanos, os cubanos e os colombianos, aumenta o medo do socialismo". Segundo a eleitora, Bolsonaro deixa a desejar na questão ambiental e no racismo. "Eu acho que a gente poderia ter candidatos melhores que ele e que o [ex-presidente] Lula."

O empresário James Deus era um dos poucos que vestiam vermelho em meio ao predominante fluxo verde-amarelo. "Eu votei Bolsonaro 22. A cor não representa nada da mesma forma que quem vota no PT tem direito de usar amarelo", afirmou. Enquanto conversava com a reportagem, o empresário foi abordado por uma mulher com a camisa do Brasil indagando se ele havia votado em Lula.

A pedagoga Maria Graham se deslocou de West Palm Beach, a 140 quilômetros de Miami, para votar pela primeira vez em 29 anos morando nos Estados Unidos. Sem declarar seu voto, ela disse que foi motivada pela verdade. "Cada voto conta. Vim pela questão da politicagem no Brasil, de não estarem usando as verbas de forma correta, pela justiça e, acima de tudo, pela verdade, precisamos parar com as fake news."

Vestindo vermelho, o bancário Antonio Cairrao, foi o único eleitor declarado de Lula ouvido pela reportagem. Segundo ele, a escolha da cor não foi proposital, mas disse não ter sofrido nenhum tipo de retaliação.

"Aqui é tranquilo, mas eu tenho receio pelo Brasil. Essa eleição exacerbou o que a gente tem de pior. Eu falei para os meus filhos que estão em São Paulo votarem e ficarem quietos", contou o paulista, que mora há 25 anos nos Estados Unidos e se diz assustado com a situação do Brasil.

"Isso de ontem com a [deputada federal Carla] Zambelli não existia no país em que eu morava. O desafio é combater a ascensão do ódio e da intolerância. A gente vai ter que aprender a lidar com isso", ele disse, em referência ao episódio deste sábado (29), em que a parlamentar apontou uma arma para um homem após, segundo ela, ser xingada de prostituta e outros palavrões.

Tirando fotos com a bandeira do Brasil, a paulista Maria Inês Araújo, há 17 anos morando nos Estados Unidos, disse estar confiante na vitória do atual presidente, apesar de julgar que ele tenha sido prejudicado pela imprensa "podre e bichada" e pelo STF.

"Houve o 'radiolão' no Nordeste e no Norte contra o Bolsonaro; ele não pode mais recuperar esses votos. Ele está sozinho, só tem o povo a seu favor", disse em referência às acusações da campanha do presidente de que algumas rádios do país não transmitiram seus programas eleitorais.

Com predominância de eleitores vestindo verde e amarelo, a Flórida se reafirma como reduto bolsonarista nos Estados Unidos. No primeiro turno, 74,26% dos votos foram para Bolsonaro, enquanto Lula registrou 16,2%.

Com dois locais de votação no estado, Miami e Orlando, a taxa de comparecimento às urnas foi de 40,2%, registrando a presença de 16,1 mil eleitores dos 40,1 mil inscritos. A Flórida é o maior colégio eleitoral do Brasil dos Estados Unidos. No total, o país conta com mais de 180 mil brasileiros aptos a votar.

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